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Infecções por HIV têm queda recorde em SP, mas aumentam entre idosos

Número de novos casos na cidade caiu 18% entre 2017 e 2018, a maior redução desde 1996. Terapia preventiva oferecida pelo SUS é apontada como a principal causa da diminuição, mas crescimento de 15% dos registros em maiores de 60 anos preocupa

28 nov 2019 - 05h11
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SÃO PAULO - As infecções por HIV registraram queda recorde na cidade de São Paulo no último ano, mas aumentaram entre os idosos. Embora o grupo mais vulnerável ao vírus continue sendo o de homens jovens, a parcela da população maior de 60 anos foi a única, entre adultos, na qual foi observado crescimento dos casos de HIV, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde.

No cenário geral, o número de novas infecções na capital caiu quase 18% entre 2017 e 2018, passando de 3.826 registros para 3.145. Mesmo índice de redução foi observado na taxa de detecção, que indica o número de infectados por 100 mil habitantes. O indicador passou de 32,7 para 26,8 no período analisado. É a maior queda desde 1996. Entre 2016 e 2017, a taxa de detecção já havia caído 1,9%.

Entre os idosos, o número de novos casos aumentou 15%, passando de 92 em 2017 para 106 no ano passado.

É a primeira vez, desde 2006, que a cidade observa diminuição da taxa de detecção por dois anos seguidos. "A queda consecutiva pelo segundo ano indica, em epidemiologia, uma tendência mais sólida de queda, e não algo apenas pontual", destaca Cristina Abbate, coordenadora do Programa Municipal de DST/Aids da Prefeitura.

Segundo Cristina e outros especialistas no tema, o principal fator para a redução significativa no número de infecções foi a introdução, no SUS, da profilaxia pré-exposição (PrEP), terapia com medicamentos antirretrovirais oferecida a pessoas sem o HIV de forma preventiva. Geralmente, ela é indicada a grupos mais vulneráveis à infecção, como jovens homossexuais, profissionais do sexo ou casais em que apenas um dos parceiros é soropositivo.

"Foram vários fatores que contribuíram para essa queda, como aumento de testes realizados, oferta de camisinhas e ampliação do leque de opções de prevenção, como a profilaxia pós-exposição e pré-exposição. Mas se eu tiver de indicar o fator principal, foi a PrEP", explica Cristina. A terapia passou a ser ofertada no SUS em janeiro de 2018 e hoje já é usada na cidade por cerca de 4 mil pessoas.

"Foi de fundamental importância porque foca nos grupos mais vulneráveis. É uma estratégia que funciona, mas que precisa ser ampliada para mais pessoas, incluindo idosos", destaca Gisele Cristina Gosuen, consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Idosos. A especialista, responsável pelo Ambulatório de HIV e o Envelhecer da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), destaca como causas para o aumento de casos entre idosos uma vida sexual mais ativa nessa geração, possibilitada por medicamentos para disfunção erétil e aplicativos de relacionamento.

Ela ressalta que as políticas públicas de HIV/Aids precisam também contemplar essa população. "Conversar com o idoso sobre sexo ainda é um tabu. As estratégias de prevenção e de tratamento são pensadas para os jovens. O idoso tem outro comportamento e condições de saúde que nem sempre permitem que ele inicie o tratamento com os mesmos medicamentos que o jovem", afirmou.

Ativista e consultora em prevenção ao HIV/aids, Silvia Almeida avalia que o crescimento de casos entre idosos tem relação com o fato de mais pessoas estarem fazendo o teste e com mudanças nos padrões de comportamento dessa faixa etária.

"A terceira idade tem sido o momento de viver o que a pessoa não viveu a vida inteira e isso inclui a sexualidade. Antigamente, a gente pensava que as pessoas com 50 anos não tinham vida sexual ativa, mas a sexualidade nasce e morre no nosso corpo, faz parte dos nossos sentidos. As campanhas ainda estão muito aquém do que a gente precisa."

Estadão
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