Planeta anão Ceres pode ter abrigado extraterrestres no passado, diz estudo da NASA
Planeta anão localizado entre Marte e Júpiter pode ter tido oceano subterrâneo com condições ideais para microrganismos, apontam pesquisadores da NASA
Pesquisas recentes da NASA indicam que Ceres, o maior corpo do cinturão de asteroides e planeta anão mais próximo da Terra, pode ter abrigado vida em um passado remoto. Localizado entre Marte e Júpiter, com cerca de 950 quilômetros de diâmetro - aproximadamente um quarto do tamanho da Lua -, Ceres sempre chamou a atenção dos cientistas.
A missão Dawn, que explorou o planeta anão entre 2014 e 2018, revelou indícios de água e minerais salinos sob sua crosta gelada. Isso sugeriu a existência de um oceano subterrâneo rico em salmoura e carbono orgânico, elemento essencial para a vida. Até pouco tempo atrás, acreditava-se que as condições em Ceres eram inóspitas devido à ausência de energia para sustentar processos biológicos. Mas novas análises mudaram essa visão.
Calor interno e oceanos subterrâneos
Um estudo publicado na Science Advances mostrou que o núcleo rochoso de Ceres pode ter emitido calor por bilhões de anos. Isso graças à decomposição de isótopos radioativos. Em seu auge, esse núcleo poderia ter atingido até 280°C, energia suficiente para manter um oceano subterrâneo em condições habitáveis.
O calor também pode ter impulsionado jatos de água quente e rica em minerais no fundo desse oceano. O fenômeno é comparável aos sistemas hidrotermais da Terra, onde microrganismos vivem em condições extremas. "Na Terra, quando água quente proveniente das profundezas se mistura com o oceano. O resultado frequentemente é um banquete para micróbios", explicou Samuel Courville, cientista planetário da Universidade Estadual do Arizona e autor principal da pesquisa.
Embora o núcleo radioativo de Ceres tenha se resfriado há cerca de 2,5 bilhões de anos, a descoberta amplia as perspectivas. Agora, debate-se onde formas de vida podem surgir fora da Terra.
Habitável para microrganismos
O novo estudo sugere que Ceres já teve um oceano global abaixo da superfície em sua história inicial. A interação entre rochas e água gerou os minerais detectados pela missão Dawn. Isso indicou um ambiente que pode ter sido habitável para microrganismos quimiotróficos (organismos que obtêm energia a partir de compostos inorgânicos, como acontece nas profundezas dos oceanos da Terra). Esse período de condições favoráveis pode ter durado entre 500 milhões e 2 bilhões de anos após a formação do planeta anão. Foi tempo suficiente para que a vida tivesse chance de aparecer.
Embora não se considere Ceres um planeta ativo para sustentar a vida, o estudo mostra como mundos gelados e subterrâneos guardam segredos importantes para a astrobiologia. Entender sua estrutura pode ajudar a explicar como a água se espalhou no Sistema Solar e até como a vida poderia surgir em planetas rochosos como a Terra.