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Sobre o álbum da Copa, a infância e o tempo 

12 jul 2018 - 15h51
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Foto: Mãe com Prosa

Minhas filhas pediram, mas logo desistiram e confesso que me senti aliviada porque completar o Álbum da Copa não é coisa para pobres mortais. Matemáticos calculam que a brincadeira pode ultrapassar os mil reais e, no meu caso, o valor é dobrado, né?

Mas a cada final de semana que rola um congestionamento de gente trocando figurinhas na banca de revistas do meu bairro, me dá uma pontinha de vontade. Que coisa mais legal isso, gente! Para muitos talvez seja o único momento em que filhos e pais passem um tempinho juntos, como nos tempos de antigamente. Imagino que antes dali crianças estavam no tablet, jovens jogavam online com seus fones de ouvido e pais assistiam aos jogos da rodada, colados na TV.

Acabo de ler que o Brasil já é campeão mundial no consumo de figurinhas do álbum da Copa da Rússia, desbancando outros 91 países onde os produtos estão à venda. Fico aqui pensando a razão para tal fenômeno e me lembrando de que nunca fui fã de futebol, mas amava álbuns (tipo o da Moranguinho) e sentia até um frio na barriga de felicidade quando meus pais compravam aqueles saquinhos, amarrados num elástico.

Também ouvi dizer que a moda está tecnológica com aplicativos e sites para anunciar o que um tem e o outro quer, que hoje existem até álbuns virtuais e páginas no Facebook divulgando pontos fixos de trocas de figurinhas em todo o Brasil. Mas sei também que muita gente persiste na estratégia clássica de usar um pedaço de papel, a velha caneta e o gogó para defender o que precisa e garantir a alegria da família.

Já pensou quantas habilidades pais e filhos (mães e filhos, tios e sobrinhas, avós e netas, amigos e filhos de amigos) estão desenvolvendo na calçada? Ali numa rua de Curitiba, numa praça de Porto Velho ou no shopping em Vitória estão dando risadas juntos, conversando sobre escalação do Tite, fazendo contas, aprendendo a negociar, argumentando e compartilhando, ao vivo, momentos que vão ficar na história de cada um. Quantos pais não dividiram a mesma cena com seus próprios pais?

Fora a constatação incrível de que o abismo entre as gerações pode ser diminuído por um simples saco de figurinhas! Porque mais importante do que completar o álbum da Copa é o caminho percorrido até alcançar a coleção e que momentos assim não aconteçam a cada 4 anos.

Outros textos de Michelle Póvoa Dufour

Acesse nosso site: www.maecomprosa.com.br

Mãe com Prosa
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