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Homeopatia e espiritismo: onde termina a ciência e começa a fé?

É importante lembrar, contudo, que ambas as práticas compartilham a intenção de cuidar, acolher e tratar o sofrimento com empatia

8 jul 2025 - 12h36
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Sempre que se fala em homeopatia, especialmente no Brasil, muitas pessoas associam a prática à doutrina espírita. Mesmo quando se explica que, por trás da homeopatia, há uma base científica sólida, uma farmacotécnica rigorosa e uma história médica respeitável, a associação com o espiritismo continua presente no imaginário popular.

Tanto a homeopatia quanto o espiritismo compartilham a intenção de cuidar, acolher e tratar o sofrimento com empatia
Tanto a homeopatia quanto o espiritismo compartilham a intenção de cuidar, acolher e tratar o sofrimento com empatia
Foto: Pexels/Nataliya Vaitkevich/Canva Equipes/rattanakun / Bons Fluidos

Por que isso ocorre?

Essa dúvida me acomete com frequência, seja durante atendimentos no consultório, por mensagens nas redes sociais ou até em conversas informais. Em mais de uma ocasião, atendi pacientes que recusaram um tratamento homeopático por acreditarem que ele estaria ligado a uma prática religiosa com a qual não se identificam.

Por isso, resolvi dedicar meu artigo desta semana a esse tema. Não para desmerecer nenhuma crença - muito pelo contrário -, mas para esclarecer: a homeopatia não é espiritualista, não depende de fé para funcionar e não está vinculada a nenhuma doutrina religiosa. Ela é, antes de tudo, ciência.

Assim, o que quero com este texto é justamente desmistificar esse elo entre os dois campos, explicando como a relação surgiu historicamente no Brasil e por que ela, embora exista em alguns contextos, não define nem limita o que a homeopatia realmente é.

A origem da terapia

A história da homeopatia começa muito longe daqui, na Alemanha do século XVIII, com um médico chamado Samuel Hahnemann. Ele vivia em uma época em que os tratamentos médicos eram, muitas vezes, brutais: sangrias, purgantes e substâncias altamente tóxicas faziam parte da rotina hospitalar. Incomodado com tudo isso, Hahnemann, então, começou a buscar uma forma de cuidar dos pacientes com mais respeito, observando a reação do organismo diante de pequenas doses de substâncias que, em grandes quantidades, causariam sintomas semelhantes aos da doença.

Desta forma, nasceu a homeopatia: uma proposta terapêutica baseada na experimentação científica, no princípio da semelhança e na individualização do tratamento. Nada disso, no entanto, envolvia espiritualidade. Era método e ciência. Esse mesmo espírito científico se manteve ao longo dos anos, à medida que a homeopatia foi sendo levada para outros países, inclusive para o Brasil.

Aliás, para quem quiser se aprofundar nos fundamentos científicos da homeopatia - como ela age no organismo, além de seus princípios e evolução - escrevi um artigo completo sobre isso aqui mesmo, na Bons Fluidos. Confira!

No Brasil, há uma transformação

Foi aqui, contudo, que a história ganhou um novo contorno. Quando o sistema terapêutico chegou ao nosso território, encontrando um cenário de desigualdade social profunda e carência nos cuidados em saúde. E é nesse contexto que entra uma figura-chave: Adolfo Bezerra de Menezes.

Bezerra era médico e, mais do que isso, um humanista convicto. Atuou como político, escritor, e ficou conhecido como "o médico dos pobres". Mais tarde, também se tornou um dos principais nomes do espiritismo no Brasil. Foi por acreditar na homeopatia como um método eficaz, acessível e sensível ao sofrimento humano que ele a abraçou como prática médica.

Com o tempo, essa identificação se aprofundou. Muitos centros espíritas começaram a oferecer atendimentos homeopáticos gratuitos, num gesto de caridade e cuidado com os mais vulneráveis. Farmácias focada no campo começaram a se estabelecer próximas a casas espíritas, e o atendimento humanizado se tornava, ali, uma extensão do que se acreditava espiritualmente. Não por exigência doutrinária, mas por afinidade de valores: cuidar do outro, aliviar a dor, tratar o ser humano como um todo.

E foi assim que, aos poucos, homeopatia e espiritismo passaram a ser vistos como partes de um mesmo universo - principalmente por quem não conhecia a origem científica. As palavras "energia", "vibração" e "equilíbrio", presentes em ambos os vocabulários, ajudaram a reforçar essa impressão. Entretanto, é preciso entender que essa aproximação aconteceu no plano cultural, e não técnico.

Diferentes entre a homeopatia e o espiritismo

O método terapêutico não exige fé. Não há necessidade de crença, de oração, de conexão com o além. Para que um medicamento homeopático funcione, o que se exige é que ele seja preparado corretamente, segundo regras farmacotécnicas rigorosas. Além disso, é importante que seja prescrito com base em um diagnóstico cuidadoso, feito por um profissional capacitado.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) reconhece a homeopatia como uma prática integrativa. O Conselho Federal de Medicina a considera uma especialidade médica. Ademais, no país, ela é regulamentada, estudada, e integrada ao SUS em muitos estados. Não depende de credo, não está subordinada a nenhuma religião e não é propriedade de grupos espirituais.

É claro que muitos espíritas a utilizam como recurso terapêutico, bem como católicos, evangélicos, budistas, umbandistas, judeus, muçulmanos e ateus. Isso porque o que atrai essas pessoas não é um dogma, mas sim a proposta de um tratamento que enxerga o ser humano em sua totalidade: física, emocional, mental e, quando faz sentido para o paciente, espiritual.

É possível que vejam na homeopatia um canal para seu equilíbrio espiritual? Sim, claro. No entanto, isso é uma escolha pessoal. A ciência por trás do método funciona independentemente disso. Seu mecanismo de ação não se altera pela crença de quem a utiliza, o que muda é a forma como cada um interpreta o próprio processo de cura.

Em que as práticas se assemelham?

O que une, portanto, homeopatia e espiritismo no Brasil não é um alicerce comum, mas uma ponte construída a partir da compaixão. Ambas as práticas compartilham a intenção de cuidar, acolher e tratar o sofrimento com empatia. E isso, por si só, já é um elo bonito - desde que não nos faça confundir as identidades.

A terapia, então, segue seu caminho, com os pés fincados na ciência. Entretanto, não ignora que somos seres complexos, com dores que não se resolvem apenas com números e exames laboratoriais. O espiritismo, por sua vez, continua sendo uma doutrina que inspira ações de cuidado, solidariedade e caridade, oferecendo suporte onde a medicina convencional ainda não chega.

Saber separar uma coisa da outra é um passo importante para que mais pessoas possam usufruir dos benefícios da homeopatia sem receios infundados. E mais ainda: é um gesto de respeito à diversidade de crenças, à liberdade terapêutica e ao direito de cada um escolher seu caminho de cura. Porque, afinal, como eu sempre digo: cura não é propriedade de uma crença. É um direito humano.

Bons Fluidos
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