Da tragédia à reconstrução: local que foi ponto de apoio durante enchentes recebe feira de vinhos no RS
Evento em Bento Gonçalves marca o reencontro de produtores e entusiastas do vinho, simbolizando a superação e o recomeço na Serra Gaúcha
Local que foi ponto de apoio durante as enchentes de 2024 no RS, o Fundaparque, em Bento Gonçalves, agora sedia a maior feira de vinhos da América Latina, simbolizando superação e recomeço na região.
Há um ano, a Rua Alameda Fenavinho, nº 481, em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, onde fica localizado o complexo Fundaparque, servia de ponto de apoio para as vítimas das tragédias causadas pelas chuvas sem precedentes que devastaram todo o estado gaúcho. O local, que tem 58 mil metros quadrados, recebeu aproximadamente 1.200 voluntários que auxiliavam na separação de doações, montagem de kits e entrega de donativos.
"Foi uma operação de guerra. Precisávamos ajudar a salvar as pessoas e depois mantê-las com água, alimentação e itens de primeira necessidade. Entravam carretas e carros para buscar e distribuir todo o material que coletamos. Nos sentimos muito felizes em poder ajudar as vítimas", declarou o presidente da Fundaparque, Laudir Piccoli.
Nesta semana, apesar de as profundas marcas do desastre ambiental ainda estarem presentes em moradores e localidades do Estado, os produtores de vinho do Rio Grande do Sul puderam olhar para o complexo como um lugar de esperança e recomeço.
Até próxima quinta-feira, 8, o local sedia a 5ª edição da Wine South América (WSA), considerada a maior feira de vinhos da América Latina, justamente no ano em que a imigração italiana, tão marcante na serra gaúcha, comemora 150 anos. Em 2024, em decorrência do evento climático extremo, que vitimou 183 vidas, a feira não aconteceu.
A importância de ocupar o espaço com a presença de empresários, produtores e entusiastas da vinificação, vindos de diversas partes do mundo, é simbólica e foi ressaltada pelo governador Eduardo Leite (PSDB), em fala na abertura do evento.
"Ano passado, aqui nesta mesma região, neste mesmo período, estávamos reunidos no enfrentamento da maior calamidade que esse Estado já viu. Mas estamos aqui, um ano depois, celebrando a capacidade de superação destes desafios. É uma feira de negócios sim, mas também uma feira de movimentação do orgulho", destacou.
Daniel Panizzi, presidente da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), explicou que as chuvas de setembro de 2023, ou seja, quase sete meses antes da catástrofe de abril de 2024, tiveram maior impacto nos vinhedos da região, uma vez que os locais estavam em brotação, com algumas videiras, inclusive, já entrando no período de floração, que é quando acontece a formação dos cachos de uva. O fato causou impacto na comercialização de alguns produtos, especialmente o suco de uvas.
Além disso, segundo ele, quando o cenário começou a apontar para um viés de recuperação, vieram as enchentes de abril de 2024, que vitimaram pessoas, causaram desmoronamentos e o fechamento do aeroporto. O impacto na produção de uvas, entretanto, não foi tão intenso, visto que as plantas estavam em período de dormência. O período que sucedeu a catástrofe, inclusive, foi de prosperidade no que diz respeito à temperatura, produção e safra de uvas. Contudo, diante do cenário devastador, a única preocupação era recuperar a região e prestar apoio às vítimas.
"É a feira mais representativa de todas as edições. É muito gratificante ver tudo isso acontecendo depois do que passamos. Estamos falando de mais de 15 mil famílias que dependem dessa produção para o seu sustento. Por isso é motivo de brindar. Não vamos apagar nunca essa cicatriz, mas seguimos nessa retomada com muito otimismo", disse Panizzi.
*O repórter viajou para Bento Gonçalves (RS) a convite do Governo da Itália.