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Não entre em pânico: é apenas comida

A moda pode ser mais determinante do que fatos quando decidimos o que comer e beber

8 jul 2018 - 10h24
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Nossas preocupações em relação ao tipo certo de alimento que devemos consumir e aquilo que devemos evitar são desproporcionais em relação aos perigos. Muitos alimentos demonizados são absolutamente adequados para nosso consumo, escreveu Aaron E. Carroll no Times.

Alimentos com glúten são vilões mesmo para os não celíacos
Alimentos com glúten são vilões mesmo para os não celíacos
Foto: Secha6271 / iStock

Nos anos mais recentes, o glúten se tornou um inimigo, embora menos de 1% das pessoas nos Estados Unidos tenham essa alergia, e menos de 1% tenham doença celíaca, que requer o corte do glúten na alimentação. Muitas pessoas se dizem sensíveis ao glúten, mas poucas de fato o são, e a condição ainda é pouco definida.

Ainda assim, pelo menos um quinto dos americanos opta regularmente pelos alimentos sem glúten, e as vendas globais de produtos com a indicação "sem glúten" no rótulo aumentaram de US$ 11,5 bilhões em 2010 para US$ 23 bilhões em 2014.

Quando as pessoas evitam alimentos sem motivo, "isso torna a comida assustadora", escreveu Carroll. "O alimento deveria ser uma fonte de prazer, e não de pânico".

O medo dos alimentos geneticamente modificados, chamados de "Frankencomidas", também é irracional, escreveu Jane E. Brody no Times.

Agricultores e cientistas vêm alterando geneticamente os alimentos há séculos por meio dos cruzamentos. As técnicas modernas da genética inserem genes específicos numa variedade; às vezes, esses genes são de uma espécie bastante diferente. Um gene que aumenta a tolerância ao frio no espinafre pode ter sua origem num peixe de águas frias.

Embora cerca de 90% dos cientistas acreditem que o consumo de organismos geneticamente modificados (GMOs) é seguro, dois terços dos consumidores discordam. Sem provas, eles temem alterações no conteúdo nutricional, a criação de alérgenos e efeitos tóxicos.

Robert Goldberg, biólogo molecular especializado em vegetais da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse que esses temores persistem apesar de "centenas de milhões de experimentos genéticos envolvendo cada tipo de organismo na Terra, e o consumo desses alimentos por bilhões de pessoas sem problema algum".

Evidências indicam que variar a alimentação (e o tipo de vinho) é benéfico à saúde e ao meio ambiente.

Durante anos, a indústria global do vinho adotou a monocultura, descartando as variedades locais de uvas em prol daquelas mais rentáveis, voltadas para o mercado de massas. Há 1.368 variedades conhecidas de uvas, mas quase 80% de todo o vinho do mundo é feito a partir de apenas 20 tipos de uvas.

Os amantes dos vinhos estão descobrindo essas uvas esquecidas, ajudando a biodiversidade e a sustentabilidade.

O geneticista e botânico José Vouillamoz, coautor do enciclopédico "Wine Grapes: A Complete Guide to 1,368 Vine Varieties, Including Their Origins and Flavors" (Uvas para vinho: um guia completo de 1.368 variedades de vinhos, incluindo suas origens e sabores), disse que os vinhos estão sujeitos aos sabores da moda.

"As pessoas ficavam envergonhadas das uvas de antigamente, as uvas do vovô", disse Vouillamoz. "Elas começaram a plantar as chamadas uvas nobres e desconsideravam as demais" (uvas "nobres" incluem as variedades chardonnay, sauvignon blanc e pinot noir, que fizeram a fama das vinícolas de Bordeaux e Burgundy e agora são cultivadas em todo o mundo).

A maioria das pessoas se esqueceu de uvas como braucol, négrette e tannat. O poder de Bordeaux manteve os vinhos típicos do sudoeste da França em segredo durante 500 anos, até os especialistas em vinhos os redescobrirem.

"Cada nova uva que ainda não provamos nos oferece a oportunidade de conhecer um novo sabor - para não falar nos benefícios ambientais de uma indústria mais diversa e sustentável", escreveu Jason Wilson no Times. "Neste mundo cada vez mais globalizado e homogêneo, isso não é apenas um assunto para os esnobes".

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