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Antes da Copa das Confederações, novas arenas buscam título ambiental

Sustentabilidade foi uma das condições impostas aos estádios para obterem financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

5 jun 2013 - 09h24
(atualizado às 09h24)
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<p>Estádio Mané Garrincha, em Brasília, busca o título de mais sustentável do país, segundo especialista</p>
Estádio Mané Garrincha, em Brasília, busca o título de mais sustentável do país, segundo especialista
Foto: Diogo Alcântara / Terra

A Copa das Confederações, que ocorrerá entre 15 e 30 de junho em seis cidades brasileiras, terá uma preocupação além do futebol. O centro das atenções, é claro, segue sendo o espetáculo e seus protagonistas. Mas um bom observador verá, sedimentada na imponente estrutura do Estádio Nacional de Brasília, a marca de uma nova fase da arquitetura: a busca por soluções ambientalmente corretas.

Para o comitê de organização da competição, a sustentabilidade das arenas é um dos destaques do evento. Essa foi, inclusive, uma das condições impostas aos estádios para obterem a linha de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza, as sedes da disputa, têm, em seus estádios, inovações até então desconhecidas do público que frequenta espaços esportivos no Brasil. O Mineirão e a Arena Pernambuco, por exemplo, inauguraram usina solar fotovoltaica a fim de iluminar as instalações com a energia captada do sol.

A coleta e o reaproveitamento da água da chuva são outras práticas comuns às arenas. Na Fonte Nova, em Salvador, há capacidade de armazenamento de 698 mil litros, com previsão de economizar 72% de água em épocas de chuva e 24% em períodos de estiagem. Já no Maracanã, 50% da chuva que cair sobre o estádio será captada e drenada por 60 calhas de concreto.

Selo de sustentabilidade

Fator motivador das chamadas construções sustentáveis é a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), concedida a empreendimentos que apresentam alto desempenho ambiental e energético, atendendo aos padrões internacionais.

<p>Em Fortaleza, concreto das demolições foi reciclado e usado na pavimentação do estacionamento do Castelão</p>
Em Fortaleza, concreto das demolições foi reciclado e usado na pavimentação do estacionamento do Castelão
Foto: Terra

Conforme a arquiteta e urbanista Maria Carolina Fujihara, coordenadora técnica da certificadora Green Building Council Brasil (GBC Brasil), cada medida sustentável adotada contribui em pontos para o processo. "Para conquistar o selo, as obras devem atender a uma série de requisitos e pré-requisitos obrigatórios referentes ao uso racional da água, eficiência energética, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, espaço sustentável, inovações e tecnologias", explica.

As boas práticas não se restringem às obras prontas, mas também ao processo construtivo. Como exemplo, ela cita o Castelão, em Fortaleza, onde o concreto das demolições foi reciclado e usado na pavimentação do estacionamento. Mesma iniciativa ocorreu no Maracanã, que reaproveitou 75% do material.

O mais sustentável

Para Maria Carolina, a arena que busca o título de mais sustentável do país é a de Brasília, que almeja a certificação LEED na categoria máxima (Platinum). No estádio, a água da chuva será coletada para suprir 80% das necessidades do empreendimento - da irrigação do gramado ao abastecimento dos sanitários. A cobertura, revestida com uma película de dióxido de titânio, captura a poluição de mil carros por dia e a exposição ao sol libera moléculas de dióxido de oxigênio que fazem a sua autolimpeza.

A economia operacional do Estádio Nacional é estimada em R$ 7 milhões por ano. A arquiteta da GBC Brasil calcula que os estádios da competição poderão economizar até 50% no volume de água e 30% do consumo elétrico, além de reduzir a geração de 80% dos resíduos sólidos e de até 35% nas emissões de gases de efeito estufa.

Até agora, no entanto, nenhuma das arenas conquistou o selo LEED. No Brasil, segundo a GBC, há 99 empreendimentos certificados e 720 registrados em busca da certificação. Com esses números, o país se mantém no 4º lugar no ranking de registros, atrás de Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos e China. "A expectativa é que, até o final de 2013, sejam 900 empreendimentos registrados e cerca de 120 certificados", informa Maria Carolina.

Rótulo

Para a doutora em Engenharia Civil e Urbana Maria Augusta Justi Pisani, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie (SP), as iniciativas nas arenas são isoladas e insuficientes para que carreguem o rótulo de sustentáveis. "No máximo, podemos dizer que foram empregados alguns quesitos mais sustentáveis", considera.

<p>Arena Pernambuco inaugurou usina solar fotovoltaica a fim de iluminar as instalações com a energia captada do sol</p>
Arena Pernambuco inaugurou usina solar fotovoltaica a fim de iluminar as instalações com a energia captada do sol
Foto: Eduardo Amorim / Brisa Comunicação e Arte - Especial para o Terra

Para receber a denominação, segundo ela, a construção dos estádios deveria trabalhar com as diversas dimensões da sustentabilidade: ambiental, social, espacial, econômica, política e cultural. "As novas arenas possuem alguns aspectos que minimizarão os impactos em relação às construções tradicionais, o que é um avanço, mas pequeno, porque a maioria das demandas que deveriam constar dessas edificações ainda não foi incorporada", afirma.

Entre esses aspectos, ela cita as populações carentes retiradas de suas moradias para permitir as obras das arenas, os custos elevados dos estádios e o não emprego de células fotovoltaicas como geradores de energia nas grandes coberturas das arenas.

Custos

Esse esforço todo pode até custar caro, mas é um bom investimento. Conforme Maria Carolina, ao seguir rigorosamente os padrões internacionais de sustentabilidade, o custo da construção pode encarecer em até 5% - o que é recuperado já em médio prazo devido a quedas drásticas dos custos com manutenção e operação.

Para Maria Augusta, esse retorno pode se dar até em curto prazo e dependerá da gestão eficiente das instalações. "Considerando todo o ciclo de vida das construções desse porte, certamente, o retorno é garantido", avalia.

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