Apesar das barreiras, rio Tâmisa avança com força
Com suas águas contidas por comportas e barreiras, o rio Tâmisa representa a paisagem inglesa, com vilarejos verdejantes, casas pitorescas, pubs ribeirinhos e barcos a remo.
Mas essa imagem foi por água abaixo esta semana, quando fortes chuvas fizeram o Tâmisa invadir as margens, alagando centenas de casas nos condados vizinhos do oeste de Londres, em um lembrete contundente do poder da natureza.
"O rio costuma fluir muito lenta e suavemente. Mas quando temos grandes inundações de inverno como estas, vira um animal raivoso", afirmou Hannah Cloke, professor associado de Hidrologia da Universidade de Reading.
O Tâmisa é o segundo maior rio da Grã-Bretanha depois do Severn, estendendo-se por 345 km, de Cotswolds, no sul da Inglaterra, passando pelos pináculos da Universidade de Oxford e pela cidade real de Windsor até chegar ao centro de Londres, em seu curso rumo ao Mar do Norte.
Esta não é a primeira vez que o rio causa alagamentos. Em 1953, uma desastrosa elevação da maré ao longo do Estuário do Tâmisa provocou a morte de mais de 300 pessoas.
Vários esquemas de defesa contra as cheias ajudaram a reduzir os danos nos últimos anos. Da Barreira do Tâmisa, em Londres, ao Rio do Jubileu, um canal hidráulico desvia as águas das cheias da cidade real de Windsor e da escola de elite Eton.
Mas o sul da Inglaterra tem sofrido seu janeiro mais chuvoso desde 1766, fazendo uma pressão extraordinária sobre as defesas contra as cheias e dando um lembrete brutal de que há limites naquilo o homem pode fazer para conter a natureza.
Wraysbury, uma cidade parcialmente submersa perto de Windsor, enfrentou esta semana sua pior enchente desde 1947 e muitos moradores culpam a Agência Ambiental, entidade do governo responsável pelas defesas contra as cheias.
A agência diz que o Rio do Jubileu, construído em 2002, protegeu 3.000 casas neste inverno nas sofisticadas cidades de Windsor, Maidenhead e Eton. Mas em Wraysbury, os moradores dizem que ele simplesmente desviou as águas para lá.
"Fomos sacrificados por Maidenhead e Windsor, para salvar as cidades maiores", declarou à AFP o guardião das cheias Su Burrows.
"Nós entendemos que é um jogo de números, você salva 100 lojas e perde 50 casas, mas nós precisamos de mais informação sobre como administrar isto", acrescentou.
Toby Willison, diretor regional da Agência Ambiental, admitiu que há "sempre mais que possa ser feito", mas defendeu sua organização.
"Nós precisamos contextualizar. Tivemos o janeiro mais chuvoso já registrado, e é provável que tenhamos o dezembro, o janeiro e o fevereiro mais chuvosos em 250 anos", afirmou.
O esquema mais bem sucedido de controle de cheias da agência é a Barreira do Tâmisa, que inclui 10 portões de aço, dispostos ao longo de uma seção de 520 metros do rio, em Woolwich, leste de Londres.
Concluída em 1992, a barreira visa a deter o fluxo de água do mar na cidade com marés excepcionalmente altas ou durante tempestades, embora também seja usada às vezes durante enchentes.
A barreira foi fechada 28 vezes apenas neste ano, bloqueando as águas do mar, podendo também conter as inundações por meio de um sistema de drenagem.
Willison diz que não há riscos de as cheias do Tâmisa se estenderem para Londres. "A cidade de Londres é uma das capitais mais bem protegidas do mundo", declarou à AFP.
É uma boa notícia para os londrinos, mas isso não é muito reconfortante para aqueles mais a oeste, inclusive agora, com a previsão de mais chuvas para os próximos dias.
Alguns especialistas sugerem que as mudanças climáticas seriam as responsáveis por este clima anormalmente úmido.
Cloke, o especialista em Hidrologia, diz que este pode ser ou não o caso, mas, de qualquer forma, destacou que as pessoas que vivem em áreas banhadas pelo Tâmisa devem estar preparadas.
"Não sofremos inundações com tanta frequência nos anos 1960, 70, 80 e 90 e as pessoas se esqueceram de que a maior parte do Tâmisa é uma planície alagada e construíram muitas casas", declarou.
"Portanto, nós deveríamos esperar cheias como esta e estar preparados para isto", prosseguiu.