Cientistas fazem percurso de bicicleta pelo Cerrado para identificar efeitos da crise climática
TransCerrado pretende trazer destaque ao bioma na discussão climática internacional para a COP30
Um grupo de cientistas começou uma expedição de bicicleta pelo Cerrado na última segunda-feira, 4, com o objetivo de investigar os efeitos da crise climática no bioma e nos moradores da região.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
A expectativa é de que a ação, batizada de TransCerrado, percorra 500 km pela Chapada dos Veadeiros ao longo de seis dias para investigar os impactos das queimadas, seca e do desmatamento no Cerrado.
Além disso, com a COP30 se aproximando, os pesquisadores querem chamar a atenção mundial para a situação do bioma. Segundo divulgação feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), um dos fatores mais preocupantes com o Cerrado é que ele possui apenas 8% da área protegida, apesar do aumento de queimadas e desmatamento na região que vem crescendo ano após ano.
Nesta edição, os pesquisadores irão percorrer o entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. “Nos últimos anos, a área do parque tem sido afetada por queimadas, desaparecimento de cursos d'água e pela pressão da expansão do agronegócio, que ameaça seu potencial para a conservação de espécies nativas e o ecoturismo”, justificou o IPAM na divulgação da ação.
A expedição, que ocorre desde 2019, já percorreu mais de 1.800 km do Cerrado.
O principal diferencial deste TransCerrado é que os pesquisadores pretendem também conversar com moradores e locais para colocar o Cerrado em foco na discussão climática mundial. “Vamos discutir como está sendo sentida a mudança do clima na região mais qual é a visão dessas pessoas sobre como enfrentar o problema”, explicou Paulo Moutinho, pesquisador sênior do IPAM e idealizador do projeto, no material de divulgação.
Em vídeo enviado ao Terra, Moutinho falou sobre o principal diferencial desta edição: "Nesse ano, particularmente, nós vamos focar na questão do clima e tendo dois grandes objetivos: o primeiro deles é buscar trazer a vo de quem está vivendo nessa região para que relatem o que se passa em relação ao aumento de temperatura e redução das chuvas, que já são registradas pela ciência nessa região".
"Essa interação com as pessoas só acontece quando você está de bicicleta porque você é obrigado com esse tipo de transporte a fazer uma interação muito próxima", relatou o pesquisador. "Isso permite que histórias interessantes surjam, que relatos importantes surjam, para que a gente possa entender melhor a relação entre o Cerrado e o desmatamento."
Segundo atualização enviada pelo pesquisador, o grupo chegou nesta terça-feira, 5, ao trajeto entre Alto Paraíso e o Quilombo do Forte. "Ao longo desse caminho, já conseguimos vários relatos que podem indicar que há uma transformação no Cerrado bastante grande. Portanto, essa conversa com as pessoas é a essência do TransCerrado", falou Moutinho.
A preocupação com o bioma vai para além da COP30, programada para ocorrer em novembro em Belém, no Pará: o Cerrado é afetado fortemente por queimadas e pelo desmatamento no país. Segundo dados do MapBiomas, o Cerrado teve uma área de 89,5 milhões de hectares queimadas pelo menos uma vez entre 1985 e 2024. Essa área corresponde a 45% do total do bioma.
Apesar do bioma ter algumas queimadas como parte característica natural, o impacto de ações humanas e dos efeitos das mudanças climáticas intensificou a presença do fogo de maneira que o Cerrado não consegue se recuperar adequadamente, ocorrendo de forma mais frequente e mais rápida nos últimos anos. Segundo a análise dos dados de queimadas no país, o Cerrado é o bioma com maior recorrência, com cerca de 3,7 milhões de hectares que queimaram mais de 16 vezes no período analisado.
Apenas em 2024, ainda segundo dados do MapBiomas, o Cerrado teve 10,6 milhões de hectares queimados. A área representa 35% do total queimado no Brasil em 2024, sendo que o bioma ocupa apenas cerca de 23% do território nacional, de acordo com mapeamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Em 2025, de acordo com o monitoramento de focos de incêndio ativos detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Cerrado acumula 14.523 pontos de incêndio até o dia 3 de agosto.
Em relação ao desmatamento, segundo dados do satélite DETER compilados também pelo Inpe, o Cerrado já acumula 3.741 km² em 2025 até o dia 25 de julho.