‘A gente quer uma sociedade mais justa’, diz fundadora de startup referência em economia circular
Saville Alves fundou, junto com uma amiga, a startup Solos há cinco anos em Salvador; hoje, estão em seis Estados
Para Saville Alves, o que dá sentido ao seu trabalho são as pessoas. As indicações a prêmios que dão a ela reconhecimento nacional são um detalhe perto do propósito maior que ela tem para a sua caminhada. Aos 31 anos, Saville está à frente da Solos - uma empresa que trabalha para fomentar a economia circular. O meio ambiente e a sustentabilidade são, sim, peças-chave do seu negócio, mas,”no final do dia, o que a gente quer é uma sociedade com mais justiça”, define.
- Em síntese, a Solos trabalha com soluções para pensar no pós-consumo, ou seja, para onde vai aquele material depois da sua finalidade inicial. A Solos atua auxiliando empresas e o poder público, aliada às cooperativas de reciclagem, a retornarem tais resíduos para a cadeia produtiva. Isso é a economia circular.
Ela contextualiza que, no Brasil, segundo o Anuário da Reciclagem de 2022, há cerca de 2 milhões de pessoas vivendo da captação informal. “São essas 2 milhões que fazem o Brasil ser o recordista no mundo de reciclagem do alumínio. É massa ser recorde no alumínio, mas é muito duro e muito triste você ser recordista a partir de pessoas que não estão profissionalizadas, que não têm os materiais e a capacitação para executar aquilo que estão ganhando 200 conto por mês”, resume Saville.
É por tais dados e pela própria vivência em comunidades que, ao ser convidada a pensar em um futuro ideal, Saville fala primeiro em justiça social e menos desigualdade para depois mencionar a sustentabilidade. Atualmente, a Solos trabalha em parceria com 7 mil catadores, divididos em 25 cooperativas. São mais de R$ 2,5 milhões em renda para esse tipo de profissional.
Como nasceu
A empreendedora baiana explica que a semente para fundar a Solos surgiu quando conheceu uma realidade diferente da dela. Na época que foi voluntária da ONG Teto, que promove habitação popular, Saville teve uma convivência intensa com o dia a dia das periferias soteropolitanas. Viu casas sem saneamento ou banheiro e, daí, veio a ideia de se tornar empreendedora social.
Foi um tiro no escuro, com a cara e coragem. “Eu achei, no primeiro ano, que a gente ia emplacar já e não foi. A gente demorou oito meses para fechar o primeiro contrato. Foram oito meses tirando do caixinha que tínhamos feito para a Solos, criando projetos para ter cases, chamando parceiros mais estabelecidos no mercado para dar visibilidade”, relembra.
Mas quando engatou, a Solos emplacou uma sequência de crescimento. Todos os anos, segundo Saville, a empresa tem crescido pelo menos 100% em comparação ao ano anterior.
De Salvador para todas as regiões do Brasil
Quando fundou a Solos, há cinco anos, junto com a amiga Gabriela Tiemy, Saville estava perto de completar 26 anos. Já tinha passado por duas multinacionais e feito uma boa reserva para aguentar o tranco de pelo menos um ano sem receber salário - e ainda gastando mais do que entrava.
As duas tinham sido selecionadas em um edital de pré-aceleração, com mentores de alto escalão, em uma imersão que aconteceu em São Paulo por sete meses. O período foi importante para entenderem mais do mercado e desenharem o modelo de negócio ideal para as duas.
Decidiram ir na contramão. Em vez de estabelecerem uma empresa em São Paulo, cidade com maior concentração de renda e investimentos, preferiram retornar para Salvador e, de lá, dominar o Brasil. “Hoje, eu acredito que foi uma decisão acertada. Eu acho que a gente conseguiu se destacar por alguns atributos que nossos concorrentes acabam não tendo”, diz.
Segundo Saville, as startups com perfil próximo a Solos são, na grande maioria, liderada por homens. Além disso, estão concentradas na região Sul-Sudeste. A decisão de estabelecer a empresa em Salvador passa por valores e, também, pelo desejo de serem pioneiras.
“O Nordeste é a segunda região que mais gera lixo no Brasil e é a que menor remunera os catadores. Inclusive, no Norte, que a ausência para saneamento é mais acentuada, os catadores lá ganham mais do que os catadores aqui do Nordeste”, afirma.
Hoje, a Solos está presente em seis Estados - além da Bahia, Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.
Após completarem cinco anos, a equipe da Solos resolveu escrever suas metas para cada ano. Ao final dos próximos cinco, Saville espera que a empresa esteja presente nas cinco regiões do País.
Este ano, Saville concorreu ao Prêmio Empreendedor Social na categoria Inclusão Social e Produtiva. Em 2022, ela foi eleita pela Revista Forbes como uma das 20 mulheres mais inovadoras das AgTechs Brasil.