Carro chinês não é vírus; analisamos o JAC T60 1.5 de 168 cv

Motor 1.5 turbo tem 40 cavalos a mais que o líder dos SUVs (T-Cross), multimídia de 10,25” e porta-malas de 450 litros. Veja análise e vídeo

Por: Sergio Quintanilha | Twitter: @QuintaSergio

20 ago 2020 - 13h58

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JAC T60: um dos exemplares da nova safra de carros chineses, com atributos positivos.
Foto: JAC Motors / Divulgação

Os carros chineses novamente voltaram ao noticiário. Por isso, um olhar mais atento sobre esses carros é importante. Como havíamos prometido por ocasião do lançamento, fizemos uma avaliação de uma semana com o novo JAC T60, o SUV compacto superior da marca chinesa que acaba de ser comprada pelo Grupo Volkswagen. Além do T60 e dos veículos elétricos da própria JAC Motors, os carros chineses voltaram ao noticiário por causa do polêmico lançamento do Ford Territory e do sucesso comercial da família Tiggo, da Caoa Chery.

Comecemos pelo JAC T60. Ele tem duas versões: Pack 2 por R$ 111.990 e Pack 3 por R$ 115.990. A versão de entrada já é bem completa, com central multimídia 10,25”. São apenas três itens que diferenciam as duas versões: teto solar elétrico, bancos revestidos de couro Premium JAC Seat e projetor com luz de LED auxiliar nas portas. O T60 é um SUV bem bonito, com design atual, e serve como parâmetro para mostrar que carro chinês não é vírus. Por conta da guerra ideológica que domina o país, o fato de vir da China levou muitas pessoas a rejeitarem alguns modelos recentemente.

Vidro traseiro estreito permitiu porta-malas mais alto e bons 450 litros de capacidade.
Foto: JAC Motors / Divulgação

Deixando essa questão de lado, o produto em si é bom, mas ainda não está no topo do que a própria China é capaz de fazer atualmente com automóveis. Basicamente, o JAC T60 comete dois pecados. O primeiro é o ajuste da direção elétrica, que ainda parece ser muito “boba” quando o carro está em velocidade. O segundo é quase imperceptível: a ergonomia na posição de dirigir ainda não é perfeita. Esse detalhe também pode ser observado no Ford Territory e em alguns modelos da Caoa Chery.

Em relação a esses dois aspectos, o segundo não incomoda muito porque basta um ou dois dias de utilização para você se acostumar com o banco. A posição de dirigir não é ruim, mas não é perfeita, pois o console central incomoda um pouco a perna direita do motorista. O ajuste de altura da coluna de direção também podia ser mais leve e falta o ajuste de profundidade. No caso da direção elétrica, é uma pena, pois reduz a confiança do motorista para usufruir de toda a cavalaria do motor 1.5 turbo, que tem surpreendentes 168 cv de potência. O torque também é muito bom para o tamanho do carro: 210 Nm.

JAC T60 mostra que os chineses se tornaram craques nos SUVs:

Na potência, o JAC T60 supera seus concorrentes diretos. O Volkswagen T-Cross 1.0 turbo, líder do segmento de SUVs, tem 128 cv (diferença de 40 cavalos). O Chevrolet Tracker 1.2 turbo, novidade da GM, tem 133 cv (diferença de 35 cavalos). O Caoa Chery Tiggo 5X 1.5 turbo tem 150 cv (diferença de 18 cavalos). Com isso, o JAC T60 é mais rápido na aceleração de 0-100 km/h do que o T-Cross e o Tiggo 5X: cumpre essa prova em 9,6 segundos, contra 10,4 segundos do T-Cross e 11 segundos do Tiggo 5X. Perde por míseros 2 décimos para o Tracker, que faz em 9,4 segundos. A relação peso/potência do JAC é disparada a melhor: 8,1 kg/cv.

O torque de 210 Nm é igual ao do Tiggo 5X e do Tracker, mas supera o do T-Cross (200 Nm). Na prática, o JAC T60 é um bom carro para utilização urbana, com boas retomadas de velocidade, especialmente porque o torque máximo surge cedo, a 2.000 giros, e tem uma boa faixa até 4.500 rpm. O motor tem duplo comando de válvulas com variação na admissão. O câmbio é CVT de seis marchas, sem borboleta no volante. Nesse ponto, o JAC é mais conservador, pois todos os outros têm câmbio automático sequencial de seis marchas. Aqui, outro ponto favorável aos carros chineses porque o câmbio do Tiggo 5X é automatizado de dupla embreagem.

Painel do novo JAC T60 tem três telas, sendo que a central multimídia é de 10,25".
Foto: JAC Motors / Divulgação

O T60 tem um belo design, com linhas muito atuais. Visualmente, o JAC não fica devendo para nenhum dos atuais SUVs do mercado brasileiro em sua categoria. O teto é do tipo flutuante. Um dos acessórios disponíveis na rede é o teto preto. Além das boas ofertas de potência e torque, o JAC T60 também tem um acabamento caprichado.

O painel é totalmente digital, com três telas. O quadro de instrumentos oferece três modos de visualização em LCD. A tela multimídia tem 10,25” e é inteiramente tátil. Seria melhor se tivesse também botões, mas ela é competente e facílima de usar, além de ser enorme e estar muito bem posicionada. Na tela inferior, os controles do ar-condicionado também são sensíveis ao toque e bem intuitivos. Para fazer o espelhamento de celular, é preciso baixar um aplicativo da JAC Motors. O quadro de instrumentos é competente, mas o grafismo não é tão bonito quanto o restante do carro.

T60 é um SUV compacto superior com teto flutuante e bom vão livre do solo.
Foto: JAC Motors / Divulgação

A suspensão traseira é por eixo de torção. Se não faz do carro um primor no comportamento dinâmico, por outro lado barateira a manutenção, por ser uma suspensão mais robusta. O T60 se destaca pelo bom vão livre do solo, de 20,4 cm, que supera o da concorrência. Os freios são a disco nas quatro rodas (ventilados na dianteira). A garantia é de seis anos. Finalmente, o porta-malas de 450 litros é maior do que os dos rivais, devido ao seu formato. Segundo o fabricante, o bagageiro acomoda 650 litros até o teto e 1.210 litros com o banco traseiro rebatido.

O grande problema do T60, entretanto, é a situação da JAC Motors. A empresa passou por dificuldades financeiras e não inspira a mesma confiança das marcas concorrentes. A Volkswagen e a Chevrolet são gigantes e têm uma rede de assistência técnica enorme. A Chery cresceu bastante depois que se tornou Caoa Chery, adquirindo a expertise de pós-venda do Grupo Caoa. Além disso, o T60 é o único desses quatro SUVs que não é produzido no Brasil. Mas a JAC Motors ainda tem boas perspectivas pela frente. A empresa conseguiu uma recuperação judicial e foi reduzida para um tamanho que permite lucratividade. Sua rede de concessionárias tem atualmente 15 lojas e está presente em várias capitais do país.

Bancos de c ouro estão disponíveis no T60 Pack 3. Volante de direção só tem ajuste de altura.
Foto: JAC Motors / Divulgação

O que pode dar um gás favorável à JAC Motors no Brasil é a sua aposta em veículos comerciais elétricos, que deixam boa margem de lucro, ao contrário de alguns carros. Ainda em outubro a JAC lançará a picape iEV 330P (R$ 289.900) e o caminhão iEV 1200T (R$ 349.900). Estamos falando da primeira picape 100% elétrica do mundo e do primeiro caminhão urbano 100% elétrico do Brasil. Esses veículos despertaram o interesse de várias empresas transnacionais que precisam cumprir metas de emissão. Um exemplo é a Pepsi, que pretende reduzir 10% da emissão de carbono, tem uma frota de 2 mil caminhões e está experimentando três caminhões iEV 1200T da JAC Motors. Um detalhe: nenhuma outra marca vende picapes e caminhões elétricos urbanos no Brasil.

Recentemente, o Grupo Volkswagen comprou a maioria da participação acionária da JAC Motors na China. O governo chinês decretou uma meta de 10% de produção de veículos elétricos para todas as empresas que fabricam automóveis na China. Quem não cumprir essa meta pagará uma mais impostos sobre os carros que ainda usam motores a combustão. Por questões geopolíticas, o país pretende se livrar da dependência de importação de petróleo, que não produz. Além disso, a China tem reserva de carvão para abastecer sua população por 200 anos. Só no ano passado, a Volkswagen produziu 3,1 milhões de carros na China. Pela meta estipulada pelo governo, a Volks terá que fazer pelo menos 310 mil carros elétricos por ano.

Quadro de instrumentos é configurável, mas o grafismo laranja não causa impacto.
Foto: JAC Motors / Divulgação

Em 2019, a JAC Motors produziu 138 mil carros na China. O país é líder global no mercado de carros elétricos e lidera essa tecnologia em muitos pontos. É por isso também que outra marca chinesa, a Chery, abastece a Caoa Chery com carros elétricos -- porém, a estratégia da montadora sino-brasileira parece mais focada em automóveis de passageiros. No futuro próximo a JAC Motors acabará melhorando seus carros ao receber os ajustes que a Volkswagen pode fazer, especialmente em termos de comportamento dinâmico.

Os carros chineses, definitivamente, não são um vírus. Mais do que nunca, é preciso olhar para eles sem preconceito e analisar ponto por ponto quais são suas vantagens e quais são suas desvantagens. Diante disso, o JAC T60 é um SUV compacto superior que tem atributos interessantes. Se vale a pena ou não comprar, depende dos itens que são mais importantes para este ou aquele consumidor, dependendo do tipo de utilização do carro. Um dos itens que sentimos falta no T60 foram os airbags laterais e de cortina -- ausência inadmissível pelo valor do carro. Mesmo assim, vale um test drive.