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Vídeo de brasileiros chega também aos russos

20 jun 2018 - 17h46
(atualizado às 18h10)
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Imagem em que torcedores ridicularizam mulher com palavras de cunho sexual é mal recebida na Rússia e repercute na imprensa local. Ativistas aplaudem rápidas reações no Brasil condenando o ocorrido.É cada vez maior aqui na Rússia o debate sobre vídeos machistas de torcedores. As imagens se espalham pela internet, e o mais falado é o caso envolvendo pelo menos quatro brasileiros. No vídeo, que viralizou nas mídias sociais, eles fazem uma torcedora repetir em português seguidas vezes, sem saber o que estava falando, palavras de cunho sexual.

Praça Vermelha em Moscou: imprensa local diz que muitos russos viram apenas "brincadeira" no vídeo
Praça Vermelha em Moscou: imprensa local diz que muitos russos viram apenas "brincadeira" no vídeo
Foto: DW / Deutsche Welle

Episódios semelhantes envolvendo brasileiros, colombianos e argentinos circulam nas redes sociais e jornais, o que cortou parte da simpatia dos russos com os torcedores na Praça Vermelha e na Fun Fest, montada em frente à Universidade Estatal de Moscou.

"É um absurdo. E depois dizem que somos frios por não nos aproximarmos, por sermos de um país com inverno rigoroso. Tomara que isso não reduza a nossa simpatia", desabafa uma torcedora russa que veio até a Praça Vermelha para fazer fotos no relógio da Copa, instalado em uma das entradas do coração da capital russa.

Ao lado dela, seu amigo vindo da Sibéria para acompanhar os jogos em Moscou opina que foi apenas uma brincadeira rápida e de mau gosto. "Não houve assédio, e eles estavam alterados, ainda por cima", diz o russo, de 36 anos, sem querer se identificar pelo nome.

De qualquer forma, não pegou bem a reação dos vídeos em que exibem torcedores se aproveitando da diferença dos idiomas para fazer chacotas com as mulheres. Exemplo são os inúmeros portais de notícias que têm divulgado a informação, sejam tabloides ou jornais que atingem o público mais letrado da Rússia.

A versão russa do portal Meduza, obrigado a transferir sua redação para Lituânia devido às sanções aos jornalistas na Rússia, frisou o poder do brasileiro em conseguir condenar o ato nas redes sociais. O diário também menciona que os russos estão divididos na hora de avaliar o ocorrido.

A preocupação para Veronica Antimonik, da Fundação Safe House, na Rússia, é a exposição, principalmente da torcedora que aparece no vídeo com os brasileiros. "Queria que ela procurasse alguma ONG para ajuda psicológica e para conseguir enfrentar a exposição. Isso pra mim, neste momento, vai valer mais a pena ajudar do que entregar uma punição".

"Tomo a liberdade de dizer que eu estou com muita inveja da sociedade do Brasil na questão de discutir tudo isso, condenar e ainda conseguir o apoio de milhões de pessoas. Não temos isso na Rússia", comenta Anna Rivina, doutora em Direito, diretora da ONG Violence.no. A organização tenta explicar sobre problemas sociais aos russos e promove diferentes projetos liderados por voluntários formados por advogados e jornalistas desde 2015.

Rivona afirma que, nos últimos anos, pelo menos as pessoas começaram a discutir problemas como este na Rússia, ainda que fora da esfera do governo. "Algo que na prática não muda muito, porque os governantes não colocam em destaque e discutem esta pauta", completa. "Queria dizer obrigada à sociedade do Brasil por reagir sobre estes vídeos. Infelizmente, na Rússia, direitos das mulheres e direitos humanos não são as mesmas histórias".

A jurista Alona Popova, de 35 anos, trabalha em diferentes institutos russos que defendem a participação das mulheres nos negócios e em discussões políticas na Rússia, entre eles o Project W. Popova quer a punição dos envolvidos nos vídeos, mas, na Rússia, apenas a vítima pode fazer a queixa e entrar com o processo. Denúncias do tipo não são levadas muito a sério, mesmo quando a vítima apresenta provas concretas.

"É impossível pensar em um lado positivo nesta história toda, mas ao menos trouxe luz sobre temas que estão relacionados às torcidas em muitos esportes e passam quase despercebidos", comenta a ativista russa.

Dificilmente, os autores dos vídeos terão seu comportamento censurado na própria Rússia, onde as mulheres encontram dificuldade em conseguir algum apoio: o país sequer possui alguma lei contra assédio sexual. Eles podem ter, no máximo, que pagar 3 mil rublos (aproximadamente 100 reais) ou serem presos por 15 dias, como pena administrativa.

Mas os envolvidos já estão sofrendo algum tipo de resposta negativa em seus países de origem. Como um dos brasileiros, tenente da Polícia Militar em Santa Catarina. A instituição o identificou nas imagens, disse não concordar com a atitude e que vai abrir um processo disciplinar.

O outro vídeo polêmico foi o de um colombiano, que gravou imagens pedindo a duas japonesas que repetissem o placar do jogo e, em seguida, palavras ofensivas foram ditas às torcedoras.

Gravado após a partida entre as seleções japonesa e colombiana, o vídeo também viralizou e foi mal recebido na Colômbia e na Rússia. Nesta quarta-feira, foi anunciado que o homem que aparece nas imagens foi banido dos estádios da Copa.

O carioca Alessandro da Silva Correia mora há dez anos na Rússia e é casado com uma russa da Sibéria. Ele classifica a população local como muito receptiva e condena duramente esse tipo de vídeo como o feito pelo brasileiro e o colombiano.

"Muita gente vem pra cá pensando que pode fazer de tudo na Rússia. Tem que tomar cuidado com as atitudes feitas aqui. Acho os vídeos ridículos, porque os russos têm sido muito receptivos com todo mundo, ainda mais com brasileiros a quem eles admiram muito devido à história no esporte, por achar a gente atraente como pessoas e fisicamente. Eles se aproveitaram da gentileza dela. Algo inaceitável. O russo poderia fazer a mesma coisa com o brasileiro", pontua.

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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. Siga-nos no Facebook | Twitter | YouTube | WhatsApp | App | Instagram

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