Ultradireitista José Antonio Kast é eleito presidente do Chile
Com discurso linha-dura contra a criminalidade e imigração, Kast derrotou no segundo turno a esquerdista Jeannette Jara. Resultado marca vitória de candidato mais à direita do país desde o fim da ditadura de Pinochet.O candidato de ultradireita José Antonio Kast venceu neste domingo (14/12) as eleições presidenciais do Chile, derrotando no segundo turno a esquerdista Jeannette Jara por uma margem superior a 15 pontos, segundo números do Serviço Eleitoral do país.
Com 99,3% das urnas apuradas, o candidato do Partido Republicano havia recebido 58,18% dos votos válidos, enquanto a candidata do Partido Comunista recebeu 41,82%.
A vitória de Kast marca a maior mudança política do país em décadas e se soma à crescente onda de governos de direita na América Latina, à medida que a indignação gerada por temas como criminalidade e imigração substituiu antigas demandas por maior igualdade e se tornaram temas centrais para muitos eleitores.
Um total de 3.379 seções eleitorais com 40.473 mesas de votação abriram para o início do segundo turno das eleições presidenciais no Chile, no qual foi escolhido o sucessor do progressista Gabriel Boric.
Mais de 15,6 milhões de pessoas estavam aptas a votar - o voto é obrigatório -, para escolher entre a comunista moderada e única candidata de uma ampla aliança progressista, Jeannette Jara, de 51 anos, e o candidato de ultradireita e fundador do Partido Republicano (PR), José Antonio Kast, de 59 anos.
Após ficar em segundo lugar no primeiro turno com 23,9% dos votos, Kast recebeu o apoio do libertário de ultradireita Johannes Kaiser e da ex-prefeita Evelyn Matthei, representante da direita tradicional, elevando seu total para mais de 50% dos votos.
Jara, por sua vez, ficou à frente no primeiro turno em novembro com 26,9% dos votos, mas encontrou pouco espaço para ampliar sua base eleitoral, apesar de ter sido a única candidata de uma ampla e inédita coalizão progressista, que abrangeu desde o Partido Comunista até a Democracia Cristã.
Ultraconservador com discurso linha-dura
Católico ultraconservador e pai de nove filhos, Kast será o primeiro presidente a chegar ao poder tendo feito campanha a favor da continuidade do regime do general Augusto Pinochet (1973-1990) no plebiscito de 1988.
Essa foi a terceira candidatura de Kast à Presidência. Em 2021, ele perdeu o segundo turno das eleições de 2021 para Boric.
Kast é filho de um tenente do Exército alemão que foi para a América do Sul após a Segunda Guerra Mundial. Em 2021, a filiação de seu pai ao Partido Nazista o prejudicou na última eleição, assim como o fato de seu irmão ter exercido um cargo de ministro durante a ditadura de Pinochet
Ao longo de sua campanha de 2025, ele baseou seu discurso e posicionamento exclusivamente em questões de segurança e imigração, as principais preocupações dos chilenos, segundo as pesquisas, e evitou divulgar suas visões ultraconservadoras sobre liberdades individuais e sua defesa do regime - seu irmão foi um ministro importante durante o governo Pinochet.
Ele promete deportar quase 340 mil imigrantes ilegais, em sua maioria venezuelanos, e combater o crime com dureza. Em suas aparições públicas, atrás de vidros à prova de balas em um dos países mais seguros da região, este ex-congressista apresentou o Chile quase como um Estado falido dominado pelo narcotráfico, distanciando-se do "milagre econômico" que o tornou uma das nações mais bem-sucedidas da América Latina.
Entre outros pontos, ele evitou esclarecer como pretende cortar 6 bilhões de dólares dos gastos públicos nos primeiros 18 meses de seu possível governo e se libertaria os ex-oficiais militares que cometeram crimes contra a humanidade durante a ditadura.
jps/md (EFE, AFP)