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Superzoom de celular da Huawei gera dúvidas sobre privacidade

Potente recurso do novo celular de empresa chinesa permite enxergar de perto mesmo em longas distâncias; não há legislação sobre o assunto

28 abr 2019 - 05h11
(atualizado em 30/4/2019 às 13h35)
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Até pouco tempo, fazer uma boa foto de um objeto distante envolvia usar uma lente profissional e alguma habilidade como fotógrafo. Novos smartphones podem mudar esse cenário: o Huawei P30 Pro, tem zoom digital de 50x - um dos mais potentes do mercado. Mais que só uma câmera poderosa, o aparelho traz também software que melhora a qualidade da imagem, evitando os borrões comuns a outras fotografias de celular feitas com zoom.

Junto da inovação, porém, o smartphone levanta dúvidas sobre privacidade. Afinal, o mesmo zoom que aproxima o usuário de seu ídolo em um show pode ser usado para espionar o vizinho - como uma versão contemporânea do que se passa no filme Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock. Na Europa, o P30 Pro está sendo vendido por € 999 - ainda não foi divulgado o preço para o Brasil. Segundo fotógrafos consultados pelo Estado, lentes teleobjetivas profissionais que permitem um zoom semelhante ao do smartphone - mas com qualidade de imagem superior - custam a partir de R$ 2,5 mil.

"A questão do superzoom no celular não foge do debate que já existe sobre drones ou teleobjetivas. A diferença está apenas no acesso a esse tipo de tecnologia, que deixaria de ser algo restrito", diz Carlos Affonso Souza, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS).

Hoje não existe uma lei específica sobre o zoom de um celular. A proteção que existe em casos de violação de privacidade com o superzoom é o direito à imagem, mesma regra aplicada quando alguém divulga uma foto não desejada de outra pessoa na internet. As fotos que você vê no teste abaixo, foram feitas com o P30 Pro e não passaram por nenhum tipo de edição.

Binóculo. Aplicar uma regra parecida aos celulares seria inviável: não teria como proibir que as pessoas andem com os celulares na rua. "Proibir o superzoom de celulares seria como restringir o uso do binóculo", afirma Dennys Antonialli, diretor do centro de pesquisa de tecnologia e direito Internet Lab. "É mais fácil fechar a cortina para se proteger do vizinho."

Para o fotógrafo Fabrício Vianna, especializado em fotos de shows e casas noturnas, a evolução da tecnologia pode gerar situações complicadas. "Hoje, já há casos de fotógrafos que usam o zoom 'na noite' para ver um decote", conta. "Dar uma ferramenta dessa na mão de qualquer pessoa pode ser perigoso."

Procurada pelo Estado, a Huawei disse que acredita que "inovação e tecnologia digital contribuem para as experiências fotográficas dos consumidores, sempre de acordo com as leis vigentes e a etiqueta de comportamento social"

Há ainda quem se preocupe com um segundo capítulo dessa história: o uso das câmeras para reconhecimento facial. "Se o zoom tiver mecanismo de reconhecimento facial, ele infringiria a legislação", afirma Antonialli, do Internet Lab.

É um ponto importante: além de fabricar celulares, a Huawei também é uma das principais empresas no ramo de tecnologia de segurança para governos. Além disso, a empresa é acusada por diversos países de praticar espionagem a favor do governo chinês, algo que a companhia nega veementemente.

Estadão
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