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Para sobreviver, MPEs se digitalizam em meio à pandemia

Desafios impostos pela pandemia fizeram 1,3 milhão de negócios paralisarem ou encerrarem atividades, segundo informações do IBGE

3 set 2020 - 09h30
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A pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2) impactou negativamente a economia brasileira. O período de isolamento social não só fez com que 1,3 milhão de empresas parassem ou encerrassem suas atividades até a primeira quinzena de junho - de acordo com a pesquisa Pulso Empresa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -, mas também deve trazer uma retração na economia, que, segundo o Boletim Focus do Banco Central (BC), deve ser de -5,28% no Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2020.

As micro e pequenas empresas (MPEs), empreendimentos que possuem renda bruta anual entre R$ 81 mil e R$ 4,3 milhões, representam 38% das companhias existentes no Brasil: são mais de 7,4 milhões, segundo o banco de dados DataSebrae. Com a necessidade de isolamento social, recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a disseminação do novo coronavírus, e o consequente fechamento do comércio, esses negócios de menor porte foram os que mais sofreram financeiramente.

O comércio popular em São Paulo (SP) tem mostrado uma retomada gradual das atividades
O comércio popular em São Paulo (SP) tem mostrado uma retomada gradual das atividades
Foto: Amanda Perobelli / Reuters

O estudo Pulso Empresa, do IBGE, mostra que 70,9% dos pequenos negócios apresentaram queda no número de vendas durante o período de isolamento social. Os desafios impostos pela pandemia, no entanto, não se restringiram apenas a uma menor comercialização de bens e serviços. Essas companhias também reportaram ao instituto de pesquisa dificuldades para fabricar seus produtos, realizar atendimento a seus clientes e dialogar com fornecedores.

Diante dos empecilhos impostos pelo cenário econômico, algumas empresas optaram pela paralisação de seus negócios, esperando um melhor momento para retomar as atividades. Outras, com pouco fluxo de caixa disponível e a demora para conseguir auxílio financeiro - tanto por parte dos bancos, em forma de crédito, quanto do governo -, não sobreviveram ao período de fechamento do comércio.

Movimentação no comércio em Porto Alegre (RS), no dia 04 de julho de 2020; A cidade, em bandeira vermelha naquele momento, teve de fechar o comércio
Movimentação no comércio em Porto Alegre (RS), no dia 04 de julho de 2020; A cidade, em bandeira vermelha naquele momento, teve de fechar o comércio
Foto: Miguel Noronha / Futura Press

"Ninguém tinha caixa para sobreviver mais de 3 meses paralisado", diz a professora de macroeconomia do Insper, Juliana Inhasz. Segundo a economista, a maioria das empresas de pequeno porte não têm o hábito de criar uma reserva financeira, o que as impediu de aguentar tantos meses sem receita. Além disso, Juliana crê que houve um certo ceticismo dos empreendedores com relação à seriedade da pandemia. "Muitas pessoas acharam que tudo ia passar logo e não tomaram nenhuma ação, e as contas continuaram chegando."

Digitalização foi o caminho para algumas MPEs

O ambiente econômico de incerteza impôs sobre as micro e pequenas empresas - aquelas que tinham reservas financeiras para sobreviver ao período de isolamento social - uma escolha: ou permanecer com as atividades paralisadas até a reabertura do comércio, mesmo que de forma gradual; ou buscar novas formas de gerar receita, mesmo com as portas fechadas.

O estudo "O Impacto da Pandemia de Coronavírus nos Pequenos Negócios", desenvolvido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostra que, de maio a agosto deste ano, houve um aumento no uso dos canais digitais para vendas por MPEs. Segundo o relatório, no quinto mês deste ano, o índice era de 59% das empresas desse porte. Em agosto, o número subiu para 66%, um crescimento de 7 pontos percentuais.

A empreendedora Eliete Tufanini, que possui uma franquia da loja de alimentação Armazém Fit Store no bairro do Campo Belo em São Paulo (SP), está dentro da estatística colocada pelo estudo do Sebrae e da FGV. Durante o período do isolamento social, ela afirma que passou a procurar novas formas de vender, embora a sua loja estivesse fechada. "A quarentena assustou a todos, não só pela questão de saúde, mas também por saber que todos (na loja) seríamos afetados", diz. "Como a situação era muito incerta, eu comecei a avaliar outras fontes de receita para que eu pudesse evitar o desligamento de funcionários ou um eventual fechamento do negócio."

Fachada da franquia da Armazém Fit Store, da empreendedora Eliete, no bairro do Campo Belo, em São Paulo (SP)
Fachada da franquia da Armazém Fit Store, da empreendedora Eliete, no bairro do Campo Belo, em São Paulo (SP)
Foto: Divulgação

O modelo de negócios da franquia foi a maior dificuldade para a digitalização da operação, segundo a empreendedora. Por se tratar de uma loja que vende produtos de maneira consultiva, a ausência do contato físico para conhecer melhor os gostos e necessidades dos consumidores foi um desafio. "Nossos funcionários tiveram que se adequar às ferramentas novas e conquistar os clientes com muita habilidade de venda online, principalmente via Whatsapp e Instagram", afirma Eliete. Com essas medidas, diz, o empreendimento retomou o patamar de faturamento que tinha antes da pandemia começar.

A Cervejaria Ashby, que possui fábrica na cidade de Amparo (SP), também decidiu levar sua marca para o digital, após 27 anos em um modelo de negócios baseado em vendas físicas para parceiros e pontos de venda interessados. "No início da pandemia, pensei em diversas formas para evitar ao máximo a realização de demissões ou redução de salário", diz o fundador da empresa, Scott Ashby. "Por isso, decidi que era hora de investir mais no delivery e criar nossa primeira loja online."

O empreendedor Scott Ashby, dono da cervejaria que leva seu sobrenome, criou um e-commerce durante a pandemia, após 27 anos de apenas vendas físicas
O empreendedor Scott Ashby, dono da cervejaria que leva seu sobrenome, criou um e-commerce durante a pandemia, após 27 anos de apenas vendas físicas
Foto: Divulgação

Para colocar o endereço de comércio eletrônico no ar, Ashby contratou uma plataforma e realizou treinamentos com seus funcionários. Embora a tática de levar suas cervejas para o ambiente digital ainda não tenha trazido retorno financeiro, essa movimentação trouxe novos horizontes. "Conseguimos atingir um novo nicho de clientes (com o e-commerce) e a marca tem se tornado mais conhecida e chegado a lugares nunca antes visitados", afirma o fundador da empresa.

Mesmo com exemplos de Eliete e Ashby, não foram a maioria das micro e pequenas empresas que conseguiram levar seus canais de relacionamento e comércio para o ambiente digital. Segundo o estudo do Sebrae com a FGV, 34% das MPEs ainda não estão vendendo por meio da internet. "Só quem tinha um caixa para fazer um investimento inicial conseguiram digitalizar as operações", afirma a economista e professora do Insper Juliana. "É preciso ter recursos financeiros disponíveis para adquirir um plano de internet melhor, construir uma plataforma de comércio eletrônico ou até mesmo contratar uma transportadora."

Fonte: Redação Terra
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