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Reflexões por Gabriela Manssur: Mulheres justiceiras, avante

Jurista explica o triste cenário de violência contra a mulher em tempos de isolamento social

30 mai 2020 - 16h11
(atualizado em 31/5/2020 às 15h52)
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Por causa do trabalho, aprendi cedo a reconhecer os sinais e as armadilhas da violência doméstica. A chegada da pandemia acionou uma série de alarmes. Afinal, a combinação entre confinamento social, crise sanitária e instabilidade política, jurídica e econômica é um prato cheio para ansiedades.

Tão logo começou o isolamento, nos deparamos com estatísticas que mostram que os casos de violência doméstica duplicaram. Muitas variáveis apontam para uma correlação entre pandemia, confinamento e aumento de perigo doméstico.

Se as medidas de isolamento propostas como forma de combate à covid-19 anunciam que casa é o lugar mais seguro, mulheres que vivem em relações violentas se encontram confinadas com aqueles que colocam sua vida em risco, vivendo em perigo exponenciado. Vigiadas e controladas, a violência vai além: é silenciosa.

Os homens agressores, por sua vez, acumulam agravantes para comportamentos violentos: cenário de incertezas que leva ao nervosismo e à intolerância, aumento de consumo de drogas e álcool e mudanças profissionais e financeiras. Por tudo isso, a quarentena escancarou uma triste condição de muitas mulheres brasileiras: seus lares, que deveriam ser espaços de harmonia, na prática produzem angústia, medo e violência. O que fazer? É preciso se reinventar.

Arregacei as mangas e juntamente com a advogada Anne Wiliams, o empresário João Santos e um grupo de amigas criamos as "Justiceiras", uma rede de apoio online formada por mulheres de todo o Brasil. Médicas, psicólogas, advogadas, assistentes sociais, empresárias, ativistas e sobreviventes unidas com o objetivo de acolher umas às outras. Em atividade desde março, o "Justiceiras" já atendeu mais de quatrocentas mulheres de todo o País.

Como uma eterna otimista, trabalho para que possamos fazer dessa crise o gatilho para mudanças mais permanentes em nossa sociedade e nas relações humanas. A fase pós-quarentena que nos aguarde. Não é a violência doméstica que vai nos parar. Somos todas Mulheres Justiceiras do Brasil. Avante!

Estadão
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