Por que Jesus foi crucificado cinco dias depois de entrar aclamado em Jerusalém?
Jesus é recebido com festa no domingo, mas durante a semana desafia o poder romano, até ser preso e morto na sexta
Jesus foi crucificado após confrontar elites religiosas e o poder romano, realizando atos simbólicos de protesto durante a Semana Santa. Sua trajetória revela tensões político-religiosas em Jerusalém, marcando um embate entre justiça divina e opressão terrena.
Jesus Cristo foi de aclamado a crucificado em cinco dias porque comprou briga com os ricos e poderosos, que foram rápidos em executar um líder popular judeu que ameaçava o domínio romano. Por isso, o profundo significado de suas ações na Semana Santa é religioso e político.
“Ele colocou um alvo nas costas e outro no peito”, diz André Leonardo Chevitarese, professor titular do Instituto de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo ele, o que Jesus fez entre o Domingo de Ramos e a Sexta-Feira Santa certamente teria resultado trágico.
“Do ponto de vista teológico, nada deu errado”, diz Frei David, franciscano, fundador da Educafro. Mas, do ponto de vista humano e político, Jesus confrontou a elite romana. Ao expulsar os comerciantes do templo, realizou “uma ação altamente atrevida e com forte carga simbólica, desafiando a corrupção religiosa”, explica o frei.
Para o pesquisador da UFRJ, o fato de Jesus entrar montado em um jumento por uma das portas de Jerusalém, aclamado pelo povo pobre, enquanto Pilatos entrava por outra, com seu exército, “representa simbolicamente a contradição de uma cidade grande, a demanda por mudanças drásticas no cenário de exploração”, diz Chevitarese.
Uma semana desafiando o poder de César
Jesus arriscou o pescoço na Semana Santa. Publicamente, chamou os líderes religiosos de “hipócritas”; falou do fim de Jerusalém e da construção da justiça, causando agitação popular. “Ele sabia com quem estava mexendo e sabia que sua missão unia o material e o espiritual”, diz frei David.
Apesar da postura, que incluía críticas ao próprio povo judeu, Jesus era um homem de paz, não pregava a revolução armada. “Aos olhos de muitos, ele deixou de ser o herói prometido e passou a ser mais um profeta incômodo”, explica o frei.
Para o cientista da UFRJ, Jesus toma a iniciativa de criar uma confusão dentro do coração pulsante de Jerusalém, a grande caixa forte dessa elite judaica. “Vira um cabra marcado para morrer”. Chevitarese lembra que, embora a cidade estivesse em festa, a situação era tensa.
“Jerusalém é um rastilho de pólvora. Vai explodir, não porque a festa é ruim, mas pela lembrança da liberdade. Politicamente, Israel não é livre, os judeus celebram algo num contexto de subordinação”. Estão em situação semelhante à que estavam no Egito, de onde se libertaram a duras penas.
Da prisão à cruz em poucas horas
No final da semana, a situação de Jesus estava por um fio. Entre quinta e sexta-feira, vai ser delato por Judas, preso, julgado, torturado e crucificado. Para Chevitarese, apóstolos como Marcos, Mateus e Lucas “vão explicar como um homem bom, Jesus, conheceu a morte de um homem mal”.
Isso porque, na lei romana, crucificados são estupradores, escravos que assassinam seus senhores ou se revoltam contra o sistema escravista, fraudadores de testamentos, além de sujeitos que atentam contra a ordem do império – o caso de Jesus.
Jesus é preso no Monte das Oliveiras, no início da madrugada de sexta. A mesma multidão que o acolheu com ramos “talvez estivesse agora influenciada”, clamando pela crucificação, diz frei David. “Aqui se repete uma das coisas mais graves na política brasileira e mundial: manipulação da consciência popular a partir dos interesses dos opressores, gerando espírito de massa”.
Julgamento, martírio e crucificação acontecem muito rápido e, por volta de três horas da tarde de sexta-feira, Jesus está crucificado. “Toda semana é caracterizada pelo reino de Deus, onde a justiça é plena, em oposição à injustiça do reino de César. Aquele alvo que Jesus colocou nas costas e no peitoral, a conta chegou”, conclui o pesquisador da UFRJ.