‘Itamaraty nunca me ligou’, diz pai de brasileiro resgatado de tráfico humano em Mianmar
Antonio Carlos Pereira, pai de Phelipe, dá os créditos pelo resgate para ONG internacional; entenda o caso
Phelipe de Moura Ferreira, de 31 anos, e Luckas Viana dos Santos, de 26, foram forçados a trabalhar em condições análogas à escravidão em Mianmar, no Sudeste da Ásia, vítimas de tráfico humano. Após três meses em cativeiro, os brasileiros foram resgatados nesta segunda, 10. O pai de Phelipe, em entrevista ao Terra Agora, desabafou sobre a situação: ‘Itamaraty nunca me ligou’.
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“O Itamaraty nunca me ligou, sabe? A Embaixada do Brasil lá em Mianmar me ligou só uma vez, e conversando comigo sobre o assunto, passei pra eles a documentação, tudo, né? E eles me falaram que estavam em contato com as autoridades”, disse Antonio Carlos Pereira, em entrevista para Cazé.
De acordo com Antonio, os créditos pelo resgate são da ONG internacional ‘The Exodus Road’. “Mérito total deles. Se não fosse por eles, não sei quantos anos mais esse menino ia ficar lá”, aponta o pai de Phelipe. O papel da ONG, neste caso, foi fazer pressão internacional em torno da situação e manter contato com representantes da região em busca da libertação dos imigrantes.
“A primeira coisa que eu gostaria de falar pro meu filho é: ‘graças a Deus você está salvo. Seja bem-vindo. Seja bem-vindo à liberdade. Agora você está em casa. Agora você está do lado do seu pai, do lado da sua família, que tanto te ama’”, complementou Antonio.
Mais sobre o resgate
Os brasileiros acabaram sendo resgatados junto a centenas de outros imigrantes e, agora, aguardam pelo processo de repatriação para o Brasil.
Durante a operação de resgate, eles foram encaminhados para um centro de detenção em Mianmar e, posteriormente, transferidos para a Tailândia. No país, precisarão permanecer por mais 15 dias em outro centro de detenção, conforme o protocolo padrão em casos de tráfico humano, para confirmar se são de fato vítimas. Somente após essa verificação, serão liberados.
Os dois conseguiram fugir e foram resgatados após mais de três meses em cativeiro. O resgate contou com o apoio de uma ONG internacional especializada em casos desse tipo.
Atraídos por trabalho
Em novembro do ano passado, Phelipe Ferreira foi atraído por uma proposta de emprego na Tailândia. A oferta, divulgada em uma rede social, prometia uma vaga em um call center em Bangcoc, com salário de US$ 2 mil (cerca de R$ 11,5 mil), além de comissões e a possibilidade de liderar uma equipe.
Com as passagens aéreas pagas pela suposta empresa, o brasileiro embarcou para a Tailândia. Inicialmente, ele ficou hospedado em um hotel, mas logo foi mantido em cativeiro pela rede criminosa.
Luckas, por sua vez, já tinha experiência trabalhando em cassinos no Sudeste Asiático, onde atendia clientes brasileiros. Ele havia se mudado para a Tailândia em setembro em busca de novas oportunidades profissionais. Foi então que surgiu uma oferta de emprego pelo Telegram: ele seria contratado como intérprete para brasileiros, com direito a moradia, salário de R$ 8 mil e um contrato de seis meses.
O local de trabalho seria Mae Sot, uma cidade tailandesa na fronteira com Mianmar, a seis horas de carro de Bangcoc. Assim como aconteceu com Phelipe, um motorista enviado pela suposta empresa foi buscar Luckas no meio da madrugada. Durante o trajeto, houve trocas de veículos, e o brasileiro chegou a percorrer parte do caminho de barco, cruzando a fronteira.
Desde então, as famílias de ambos vinham fazendo apelos nas redes sociais para conseguir a libertação dos jovens, temendo por sua segurança. Eles viviam uma rotina marcada por agressões, ameaças e maus-tratos, além de serem submetidos a cerca de 17 horas diárias de trabalho forçado, obrigados a aplicar golpes virtuais.