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Europa

Explosão na Turquia: "responsabilidade é das empresas"

Especialista em mineração explica que mistura de gás metano e oxigênio chamada "grisu" representa risco específico e adicional às minas de carvão pelo mundo e que pode causar explosões

14 mai 2014 - 11h46
(atualizado às 11h54)
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<p>30 mil pessoas já morreram no mundo todo em acidentes relacionados às minas de carvão desde a década de 1970</p>
30 mil pessoas já morreram no mundo todo em acidentes relacionados às minas de carvão desde a década de 1970
Foto: Reuters
A explosão de uma mina na cidade turca de Soma nesta terça-feira, que já deixou mais de 230 mineiros mortos, revoltou dezenas de pessoas que saíram às ruas do país pedindo melhores condições de trabalho. Antes da explosão, empresas de mineração vinham sofrendo pressões no país.

Somente na Turquia, uma série de acidentes semelhantes foi registrada nos últimos anos, levando a muitas mortes. A explosão desta terça-feira já poderá ser, segundo o premiê turco, Tayyip Erdogan, o mais mortal acidente da história do país.

A mineração apresenta diversos riscos, especialmente no que diz respeito às pressões subterrâneas e ao desmoronamento. Porém, as minas de carvão apresentam uma característica específica, que aumentam os riscos e a demanda por cuidado dos trabalhadores: a presença de gás metano.

“Explosões em minas de carvão estão quase sempre relacionadas à presença do gás metano que o próprio carvão libera e que, misturado ao oxigênio em devidas concentrações, pode causar este tipo de acidente”, explica o engenheiro de Minas e professor do curso de Engenharia de Minas da Poli-USP, Eduardo César Sansone.

Esta mistura de gases é chamada de “grisu”. “Temos de fazer controle dessa concentração no ar da mina. Para isso, temos sistemas de ventilação e a prática da engenharia, que tenta prever e antecipar esses riscos”, diz.

Profissão de alto risco

Segundo um levantamento divulgado pela Reuters, 30 mil pessoas já morreram no mundo todo em acidentes relacionados às minas de carvão desde a década de 1970.

<p>A explosão nesta terça-feira já matou mais de 230 pessoas, revoltando dezenas de pessoas que saíram às ruas no país </p>
A explosão nesta terça-feira já matou mais de 230 pessoas, revoltando dezenas de pessoas que saíram às ruas no país
Foto: Cihan

Apesar de a Organização Internacional do Trabalho não apresentar um estudo completo no que diz respeito à profissões perigosas, o trabalho de extração mineral e de petróleo já foi considerado o segundo mais perigoso no Brasil pela Fundação em Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), órgão vinculado ao Ministério do Trabalho, em 2012.

Segundo a Fundacentro, atividades ligadas à extração mineral também se destacam pela periculosidade de maneira previsível, por simples fatores como a constante inalação de poeira por parte dos trabalhadores – que podem desencadear doenças pulmonares, como pneumoconiose.

Minas de carvão no Brasil e mundo

<p>Segundo a Fundacentro, atividades ligadas à extração mineral também se destacam pela periculosidade de maneira previsível</p>
Segundo a Fundacentro, atividades ligadas à extração mineral também se destacam pela periculosidade de maneira previsível
Foto: Cihan
Segundo o engenheiro de minas, Eduardo Sansone, há dois tipos de minas de carvão –rocha sedimentar que se deposita em camadas horizontais: as que ficam próximas à superfície e as mais profundas, no subterrâneo.  

A exploração da superfície é feita através de um recapeamento e retirada. No Brasil, grande parte da extração é realizada desta forma. “Aqui no Brasil, temos pouco carvão e poucas minas e são, em grande parte, superficiais. Internacionalmente, portanto, há maiores riscos porque os países têm maior número de minas subterrâneas”, explica o professor.

Quando a camada de minério é mais profunda, entretanto, é necessária a construção de um poço com rampas para entrada de mineiros e equipamentos, sendo este tipo de mina mais perigosa.

Para evitar ou ameizar os riscos inerentes à atividade, as empresas mineradoras precisam seguir controles e regulamentos bastante rígidos emuito conhecidos pelo controle internacional.

“As medidas de segurança e trabalho são procedimentos comuns em qualquer indústria.  A responsabilidade é da empresa, ela deve estar de acordo com a Legislação por meio de licenças. Aqui no Brasil, temos o Departamento Nacional de Produção Mineral que controla e aprova as empresas. O Ministério do Trabalho também faz esse controle”, afirma Sansone. 

O acidente

A explosão ocorreu a 2,5km de profundidade, durante a troca de turno em uma mina privada na cidade de Soma, na província de Manisa, a sudoeste de Istambul. 787 pessoas estavam no local e mais de 300 conseguiram sair sozinhos.

Segundo o governo, uma falha elétrica causou o acidente, gerando ainda uma queda de energia que impediu que os elevadores fossem usados pelos operários.

A empresa que administra a mina disse estar investigando o acidente, mas afirmou que a explosão ocorreu apesar de terem sido tomadas "a melhores medidas e controles de segurança".

Na manhã desta quarta-feira, o premiê da Turquia afirmou que 238 pessoas morreram e que cerca de 120 homens ainda estariam presos na mina.

Com informações da Reuters e BBC.

Fonte: Terra
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