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Europa

"Brexit" é ameaça ao processo de paz e à economia na Irlanda

16 mar 2017 - 14h22
(atualizado às 15h59)
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A saída do Reino Unido da União Europeia (UE) ameaça restabelecer uma fronteira na ilha da Irlanda, onde a filiação ao bloco protegeu o processo de paz e forjou uma forte relação econômica entre suas duas partes.

Tudo isso estará em jogo quando o governo de Londres se sentar para negociar com os 27 outros Estados-membros os termos do "Brexit", que transformará a fronteira da Irlanda do Norte com a República da Irlanda, de aproximadamente 500 quilômetros, na única barreira terrestre entre o Reino Unido e a UE, além da que separa Espanha e Gibraltar.

Embora a primeira-ministra britânica, Theresa May, pareça ter optado por um "Brexit duro", o que deixaria o país fora do mercado único e da união aduaneira, as consequências sobre a livre circulação de bens, serviços e pessoas na Irlanda "ainda são incertas", explicou à Agência Efe David Phinnemore, professor de Política Europeia na Queen's University de Belfast.

A primeira-ministra britânica, Theresa May, parece ter optado por um "Brexit duro", o que deixaria a Irlanda fora do mercado único e da união aduaneira. Com isso, as consequências sobre a livre circulação de bens, serviços e pessoas na Irlanda "ainda são incertas".
A primeira-ministra britânica, Theresa May, parece ter optado por um "Brexit duro", o que deixaria a Irlanda fora do mercado único e da união aduaneira. Com isso, as consequências sobre a livre circulação de bens, serviços e pessoas na Irlanda "ainda são incertas".
Foto: EFE

"De todas maneiras, terá um impacto significativo na fronteira porque ninguém sabe se poderá ser mantida como é agora, uma divisão quase não sinalizada, muito fluente, praticamente invisível", disse o especialista.

A livre circulação entre norte e sul da ilha da Irlanda é natural desde a criação da chamada Área de Circulação Comum (CTA) na década de 1920, apesar do conflito ter obrigado do final da década de 1960 até 1998 a estabelecer controles policiais e militares para deter a ameaça terrorista.

O restabelecimento de uma fronteira rígida não provocaria inevitavelmente a volta dos militares, mas haveria "um grande número de implicações", disse Phinnemore.

"Em matéria de comércio, levará mais tempo para lidar com os controles alfandegários e fronteiriços, o que elevará os custos pelo aumento da burocracia", analisou.

As perdas para a República da Irlanda seriam numerosas, principalmente para as pequenas e médias empresas, pois quase 40% de todas as exportações nacionais vão parar no país vizinho, o que representa um bilhão de euros semanais.

"Também haveria consequências políticas. Qualquer manifestação de uma fronteira seria vista pela população como um passo atrás no processo de paz. Embora talvez não afete demais seu dia a dia, teria um impacto psicológico sobre a ideia da reconciliação entre as duas comunidades historicamente em conflito", considerou Phinnemore.

Rainha Elizabeth II sanciona lei do "Brexit":

Dublin, Londres e Bruxelas concordam que ninguém quer o restabelecimento de uma barreira concreta na Irlanda, mas a UE adverte que a livre circulação de bens e serviços também ajuda a de cidadãos, embora May queira controlar a imigração para cumprir as promessas que provocaram, entre outras coisas, o triunfo do "Brexit" no referendo de junho do ano passado.

"Os desafios que envolvem a questão da fronteira não afetam apenas a Irlanda do Norte, mas também a República. Não acho que os outros membros comunitários queiram ser demais duros com o Reino Unido, já que prejudicaria um deles. Há margem de manobra para criar uma solução criativa", sugeriu.

Os governos irlandês e norte-irlandês sustentam que a UE poderia conceder à província britânica um "status especial", após ter "investido tanto tempo e dinheiro" durante as últimas duas décadas no processo de paz, lembrou o acadêmico.

Às vésperas do início das negociações, o primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, também citou a necessidade de que qualquer acordo de divórcio contemple o ingresso automático da Irlanda do Norte na UE caso seu eleitorado se pronuncie futuramente a favor da reunificação da Irlanda, como aconteceu com a República Democrática Alemã após a queda do Muro de Berlim.

O governante democrata-cristão lembrou que essa reivindicação está contida no acordo da Sexta-Feira Santa (1998), que pôs um fim ao conflito norte-irlandês e cujo texto é "vinculativo internacionalmente", por isso sua "linguagem" poderia ser incorporada ao pacto de separação definitivo entre Reino Unido e UE.

A reunificação irlandesa, tão distante há um ano, não parece tanto agora no contexto do "Brexit", depois que o eleitorado norte-irlandês o rejeitou com 55,8% dos votos na consulta popular de junho.

EFE   
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