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Mundo

Desaparecidos mostram lado silencioso da violência no México

23 abr 2012 - 10h21
(atualizado às 10h27)
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Elisa Martins
Direto da Cidade do México

Quando fala sobre o filho Jesus Israel, Carlos Moreno tenta evitar que a angústia o impeça de contar sua luta para reencontrá-lo. Mas, quando termina de relatar o martírio em busca do filho, admite que sua objetividade oculta uma dor que o destroça desde julho de 2011, quando Jesus Israel desapareceu.

Carlos Moreno busca o filho Jesus Israel, desaparecido em julho de 2011
Carlos Moreno busca o filho Jesus Israel, desaparecido em julho de 2011
Foto: Elisa Martins / Especial para Terra

O estudante de Geografia passaria um mês de férias em Oaxaca, no sul do México, quando sumiu sem deixar pistas em uma área em que atuam cartéis de drogas. Hoje, Jesus Israel é um dos milhares de desaparecidos no país, um grupo sem número definido à margem da guerra contra o narcotráfico iniciada pelo presidente Felipe Calderón e que deixou 47.515 mortos de dezembro de 2006 a setembro do ano passado. Na última quarta, o governo mexicano anunciou a entrada em vigor da Lei de Registro Nacional de Dados de Pessoas Extraviadas ou Desaparecidas. Mas ainda falta muito por fazer.

Segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos do México (CNDH), entre 2006 e 2011 havia 5.397 pessoas desaparecidas no país - um cenário com estreita relação com o crime organizado, diferente de outros países). Mas os números podem ser ainda mais altos: a própria CNDH admite que pelo menos outros 300 migrantes sumiram no mesmo período ao atravessar o país rumo aos Estados Unidos. E, mês passado, a Comissão Interamericana de Diretos Humanos denunciou que cerca de 10 mil corpos de vítimas da violência do crime organizado no México ainda não foram identificados - e poderiam corresponder a vítimas dadas como desaparecidas.

Protagonismo das famílias
A falta de um total exato, porém, é irrelevante perto do protagonismo assumido pelos familiares de desaparecidos, que muitas vezes empreendem uma luta por conta própria. Minutos antes de conceder entrevista ao Terra, Carlos Moreno participava de uma reunião no Comitê de Vítimas do Movimento pela Paz com Justiça e Dignidade, fundado pelo ativista Javier Sicilia. A participação no movimento tem sido fundamental para muitas famílias que, em grupo, se sentem mais fortes para pressionar as autoridades.

Carlos Moreno vai além da burocracia governamental. Foi a Oaxaca acompanhar as investigações, visitou os lugares em que o filho se hospedou, conversou com moradores e chegou até a pagar gasolina dos policiais que acompanhava. Em Oaxaca, as informações são desencontradas, e as descrições de testemunhas que teriam visto Jesus Israel não condizem com o perfil do rapaz nem com a roupa ou os pertences que trazia.

As autoridades detiveram suspeitos, e chegaram a dizer que pescadores teriam encontrado um corpo que poderia ser o de Jesus Israel, mas nunca o apresentaram à família, nem comprovaram sua identidade. Carlos Moreno desconfia que o jovem esteja em poder de um cartel de drogas. As autoridades, no entanto, já não querem ir ao local em que Jesus Israel desapareceu, e recomendam que Moreno, que notou muito medo entre os moradores do povoado, faça o mesmo.

"Estou sendo vigiado. Chego a Oaxaca e poucos minutos depois as autoridades me ligam, sabem que estou ali. Já recebi ameaças de morte de delinquentes. Não tenho medo. Que espécie de pai eu seria se deixasse de procurar meu filho?", contou Moreno ao Terra.

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Fonte: Especial para Terra
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