Conflito na fronteira entre Camboja e Tailândia deixa nove mortos, incluindo uma criança
Novas trocas de tiros ocorreram na quinta-feira (24) na fronteira entre a Tailândia e o Camboja. Embora os dois países estejam em desacordo há muito tempo sobre a demarcação de parte da fronteira, a crise atual é a mais grave em quinze anos. Esta situação fez a embaixada tailandesa pedir a seus cidadãos que deixem o Camboja. Segundo o exército tailandês, os ataques cambojanos mataram pelo menos nove civis e feriram outros catorze.
Novas trocas de tiros ocorreram na quinta-feira (24) na fronteira entre a Tailândia e o Camboja. Embora os dois países estejam em desacordo há muito tempo sobre a demarcação de parte da fronteira, a crise atual é a mais grave em quinze anos. Esta situação fez a embaixada tailandesa pedir a seus cidadãos que deixem o Camboja. Segundo o exército tailandês, os ataques cambojanos mataram pelo menos nove civis e feriram outros catorze.
Informações de Valentin Cebron, correspondente da RFI em Bangkok, com agências
A disputa de fronteira entre Tailândia e Camboja toma um rumo cada vez mais preocupante. O perigo do começo de uma nova guerra é real. Os dois países se acusaram de abrir fogo e iniciar o conflito. O incidente desta quinta-feira (24) ocorreu perto de antigos templos na província de Surin, no nordeste da Tailândia, e na província de Oddar Meanchey, no noroeste do Camboja.
O exército tailandês divulgou um comunicado afirmando que "por volta das 8h20 (22h20 de quarta-feira no horário de Brasília), as forças cambojanas abriram fogo em direção ao templo Prasat Ta Muen Thom, a aproximadamente 200 metros de uma base militar tailandesa".
A Tailândia também denunciou um "ataque direcionado contra civis pelas forças cambojanas na manhã desta quinta-feira". De acordo com o governo tailandês, o ataque teria matado nove pessoas, incluindo uma criança de oito anos: seis pessoas foram mortas em um ataque perto de um posto de gasolina na província de Sisaket, duas em Surin e outra em Ubon Ratchathani; todas estas localidades ficam no nordeste do país. Este ataque ainda deixou outras quatorze pessoas feridas.
"Deixem o Camboja o mais rápido possível"
O porta-voz do governo tailandês, Jirayu Houngsub, condenou as ações "sedentas de guerra do Camboja ao atacar civis".
Diante do aumento da tensão e dos recentes ataques, a embaixada tailandesa no Camboja solicitou aos seus cidadãos que "deixem o país o mais rápido possível". O embaixador, inclusive, foi orientado pelo governo tailandês na quarta-feira (23) a deixar o Camboja.
No mesmo dia, a Tailândia expulsou o embaixador do Camboja de seu território depois que um soldado tailandês perdeu uma perna ao pisar em uma mina terrestre na fronteira.
O governo da Tailândia garante ter feito uma investigação militar, que concluiu que o Camboja plantou novas minas terrestres na fronteira. O Camboja rechaçou estas acusações, afirmando que as áreas da fronteira continuam infestadas de minas ativas oriundas de guerras passadas.
Com seis caças F-16, a Tailândia atacou o país vizinho. O porta-voz adjunto das Forças Armadas, Ritcha Suksuwanon, disse que "dois alvos militares cambojanos foram atingidos em terra". O Camboja não divulgou o número de feridos ou mortos após esses ataques.
"Imprudente e hostil ação da Tailândia"
A porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, Maly Socheata, disse que "o exército tailandês violou a integridade territorial do Camboja ao lançar um ataque armado contra as forças cambojanas". A porta-voz do governo não parou por aí. "Em resposta, as forças armadas cambojanas exerceram o legítimo direito à defesa, em total conformidade com o direito internacional, para repelir a incursão tailandesa", confirmou.
O Camboja acusa a Tailândia de lançar uma "agressão militar não provocada". O Ministério das Relações Exteriores do Khmer condenou a "imprudente e hostil ação da Tailândia".
A situação fez com que o primeiro-ministro cambojano, Hun Manet, tomasse uma atitude para impedir a continuidade dos ataques. "Considerando a recente agressão extremamente grave da Tailândia, que ameaçou seriamente a paz e a estabilidade na região, solicito uma reunião de emergência no Conselho de Segurança para pôr fim à agressão da Tailândia", escreveu Manet para o presidente do Conselho de Segurança da ONU, Asim Iftikhar Ahmad.
Maior crise dos últimos 15 anos
Não é de hoje que os dois reinos do sudeste asiático divergem sobre a demarcação de suas fronteiras, que foi definida na época da Indochina francesa, no final do século 19. Durante o processo de demarcação da fronteira com o Camboja, a Tailândia reivindicou quatro templos Khmer, que acabaram ficando em território cambojano. A primeira tensão na localidade é datada de 1907.
Em 2008, a inclusão do templo Khmer de Preah Vihear na lista da Unesco foi motivo para o retorno das tensões entre os dois países.
Recentemente, em maio deste ano, a morte de um soldado Khmer após um tiroteio noturno acendeu a disputa por terras na fronteira. Outra área, conhecida como "Triângulo Esmeralda", gerou tensões entre Bangkok e Phnom Penh. Apesar de os dois países terem sinalizado um acordo sobre a demarcação da fronteira, as tensões nunca foram superadas e sempre voltam a ocorrer. A consequência é que as duas capitais reduziram drasticamente seus laços econômicos e diplomáticos.
Reflexos nas relações comerciais
O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, afirmou que "a situação exige uma gestão cuidadosa e ação em conformidade com o direito internacional". O representante do governo tailandês disse que "faremos o possível para proteger nossa soberania".
As tensões levaram o Camboja a suspender a importação de determinados produtos tailandeses. Por sua vez, a Tailândia passou a restringir viagens nas travessias de fronteira.
Do lado cambojano, o primeiro-ministro Hun Manet anunciou recentemente a introdução do serviço militar obrigatório no Camboja. A expectativa é que, a partir de 2026, todos os jovens de 18 a 30 anos estejam à disposição do país.
Entre 2008 e 2011, os confrontos ocorridos em torno do templo Preah Vihear, no norte do Camboja, deixaram pelo menos 28 mortos e forçaram a evacuação de dezenas de milhares de moradores da localidade.