Atirador da Universidade Brown aceitou emprego de TI em Portugal
O homem que a polícia dos Estados Unidos diz ter matado dois estudantes da universidade norte-americana de Brown e um físico do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) havia interrompido uma carreira acadêmica promissora para aceitar um modesto emprego de desenvolvedor de software em seu país natal, Portugal, antes de retornar aos Estados Unidos em 2017.
Os investigadores dos EUA, auxiliados por seus colegas portugueses, ainda estão procurando um motivo para os disparos realizados por Claudio Valente antes de seu suicídio. As autoridades estão investigando seu passado acadêmico, que alguns dos ex-colegas de Valente lembram como tendo sido difícil.
De acordo com o físico Filipe Moura, que foi professor assistente de Valente no Instituto Superior Técnico (IST) de Lisboa em 1996-97 e manteve contato com ele até o início dos anos 2000, Valente não gostou do tempo que passou na Brown e saiu após cerca de um ano em 2001.
"Claudio achava que nada daquilo valia a pena, que era uma perda de tempo e que todos os outros eram incompetentes", escreveu ele, acrescentando que Valente então aceitou um emprego como especialista em TI para o portal português de internet Sapo.
Em uma série de postagens no Facebook, Moura lembrou-se de Valente como "o melhor aluno do seu ano" no IST, mas também como alguém que tinha "uma necessidade muito forte de se destacar e mostrar que era melhor do que os outros", o que muitas vezes tornava o ensino dele uma experiência desagradável por causa de suas brigas com outros alunos.
No entanto, vários ex-alunos contestaram essa caracterização, dizendo que, embora Valente pudesse ser arrogante às vezes, ele se comportava como outros alunos brilhantes e não apresentava nenhum comportamento antissocial.
Um ex-colega do Sapo, citado pelo jornal Diario de Noticias, descreveu Valente como "uma pessoa muito boa, verdadeiramente doce", com um grande senso de humor e paciência para explicar as coisas, mas extremamente reservado sobre sua vida fora do trabalho.
"Ele era um pouco estranho... um pouco deslocado como desenvolvedor de software", considerando sua formação acadêmica em física, disse ela, acrescentando que Valente chegou a deixar a empresa, mas depois retornou para outro período antes de ir para os Estados Unidos.
Valente ganhou na loteria do green card dos EUA e se tornou um residente permanente legal em 2017.
Filho único de uma família de classe média da cidade de Entroncamento, perto de Lisboa, ele cortou todos os relacionamentos com seus pais na época de seus estudos na Brown, de acordo com a mídia local.
Os investigadores acreditam que dois dias após o tiroteio em Brown, Valente atirou em Nuno Loureiro, professor de física do MIT e seu colega de classe no IST.
"Nunca pensei que viveria para ver esse drama trágico se desenrolar, especialmente envolvendo os estudantes de física do IST que, apesar de tudo, mais pareciam crianças em corpos de adultos em momentos de insegurança do ego", escreveu o pesquisador Hugo Tercas ao comentar a publicação de Moura.