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Ásia

Legado de Lee Kuan Yew expõe disputa do clã mais poderoso de Cingapura

18 jun 2017 - 06h05
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O cumprimento do último desejo de Lee Kuan Yew, fundador da Cingapura moderna, se transformou uma ferrenha briga familiar na qual o primogênito e primeiro-ministro da cidade-estado, Lee Hsien Loong, é acusado de abuso de poder.

Kuan Yew, que leu em 1965 o texto de independência do país, pediu que, depois de sua morte, a casa de sua família no número 38 da rua Oxley fosse destruída e o dinheiro da venda do terreno doado a instituições de caridade.

A casa foi construída há 200 anos por um mercador judeu e adquirida pelo político em 1945. Seus muros foram testemunhas de importantes momentos da história de Cingapura, como a reunião de Kuan Yew e seus seguidores durante a luta pela independência dos britânicos (1963) e a posterior separação da Malásia (1965).

No entanto, dois anos depois da morte do reverenciado líder, em março de 2015, o imóvel permanece de pé.

Uma carta publicada por dois dos filhos mais novos de Kuan Yew, Lee Hsien Yang e Lee Wei Ling, ao irmão mais velho evidenciou na última quarta-feira o distanciamento entre os descendentes do líder.

"Os valores de Lee Kuan Yew foram corroídos por seu próprio filho. Nosso pai colocou em primeiro lugar o país e sua gente, não sua popularidade ou agenda privada", indicaram os dois irmãos do primeiro-ministro da carta.

Desde então, o fogo cruzado entre os filhos do líder geraram uma série de mensagens e publicações no Facebook revelando que as brigas familiares teriam começado em 2011.

O atual chefe do governo de Cingapura respondeu a carta com um comunicado no qual expunha "sérias dúvidas" de que seu pai fosse "apropriadamente aconselhado" sobre seu último desejo e que já não mais sabia o que estava assinando antes de morrer.

Wee Ling, o mais novo dos irmãos, contra-atacou o atual primeiro-ministro com a publicação de uma série de e-mails particulares e denunciou as "mentiras e enganações" de Lee Hsien Loong e sua esposa, Ho Ching, diretora da Temasek, o órgão de investimentos do governo de Cingapura.

"O mais importante é, se o primeiro-ministro pode abusar de seus poderes oficiais para maltratar seus irmãos, o que poderia fazer aos cidadãos comuns? Hsien Loong e Ho Ching mostraram suas verdadeiras caras. Penso que suas maneiras não correspondem a um premiê e a uma primeira-dama", criticou o filho mais novo do líder.

Ling afirma que o atual primeiro-ministro quer viver na casa de seu pai e explorar o legado da família para estabelecer uma dinastia, com seu filho, Li Hongyi, como futuro governante.

Hsien Yang, que anunciou seu autoexílio de Cingapura, chegou a publicar uma foto do testamento de Kuan Yew. No documento, assinado por Loong, é pedida a "destruição imediata" do imóvel.

"Gostaria de pedir a cada um dos meus filhos que garanta o respeito ao meu desejo da demolição da casa. Se não forem capazes de realizá-la por mudanças nas leis, é meu desejo que a casa nunca seja aberta para outros exceto aos meus filhos, suas famílias e seus descendentes", indica o testamento.

"Nos sentimos muito incomodados e vigiados de perto no nosso próprio país. Não confiamos em Hsien Loong como irmão nem como líder. Perdemos a confiança nele", escreveram os irmãos na carta.

Para ampliar o drama da família Lee, o primeiro-ministro, que está fora do país, acusou a esposa de Hsien Yang de se intrometer no tema da herança.

Kuan Yew governou Cingapura de maneira ininterrupta antes, durante e depois a independência, ficando no poder de 1959 a 1990.

Loong seguiu os passos do pai ao ser nomeado primeiro-ministro em 2004 e renovou seu mandato nas eleições de 2015, convocadas de forma antecipada por causa da morte de Kuan Yew.

O Partido de Ação Popular, fundado por Kuan Yew, conseguiu seu melhor resultado em anos após uma campanha na qual Loong vinculou seu governo ao legado do pai.

As críticas ao governo não são habituais em Cingapura, um dos países com renda per capita mais elevada do mundo, porque os veículos de imprensa são submetidos a forte censura.

EFE   
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