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América Latina

Defensor da regulamentação da maconha no Uruguai, Mujica critica FHC

1 dez 2013 - 07h51
(atualizado às 07h55)
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<p>O presidente Uruguai falou sobre as mudanças provocadas pela regulação da maconha</p>
O presidente Uruguai falou sobre as mudanças provocadas pela regulação da maconha
Foto: AFP

O presidente do Uruguai, José Alberto Mujica Cordano, está prestes a sancionar um projeto de lei que regulamenta o uso da maconha e que permita que usuários, mediante licença, plantem a erva em casa. É uma medida polêmica e que pode transformar o Uruguai no primeiro país a regulamentar produção e venda da maconha, algo inédito no mundo. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o presidente do país vizinho falou sobre a expectativa e as pressões que anda sofrendo, inclusive do Brasil.

"Sempre vai haver pressão. Há um aparato no mundo que vive em reprimir e custa muito." A resistência também vem de dentro. Pesquisas mostram que parte da população uruguaia é contrária à lei. "Há um custo político alto, ninguém quer pagar por isso. Ex-presidentes como Ricardo Lagos (Chile) e FHC defendem, mas o curioso é que fazem isso quando não são mais presidentes. Por que não defenderam quando eram presidentes?", questiona Mujica.

O uruguaio disse não ser um defensor da maconha, mas acredita que a regulamentação funcionará como uma arma contra o tráfico de drogas, um problema grave, segundo ele. "Não defendo a maconha, gostaria que ela não existisse. Nenhum vício é bom. Vamos é regular um mercado que já existe. Não podemos fechar os olhos para isso. A via repressiva fracassou", disse ele à Folha.

Sob os olhares do mundo inteiro, o Uruguai luta para não se tornar um país de “fumo livre”. “Pedimos ao mundo que nos ajude a fazer essa experiência, que nos permita adotar um experimento sócio-político diante de um problema grave que é o narcotráfico", disse. "O efeito do narcotráfico é pior que o da droga."

Se quiserem sair da clandestinidade, os cerca de 200 mil usuários de maconha no país deverão se cadastrar para ter acesso limitado à droga. A votação do projeto pode ser concluída nesta semana pelo Senado, último estágio antes da sanção presidencial. Na prática, a experiência começará no ano que vem.

Entre os pontos abordados no projeto de lei está a limitação de cigarros por usuário (40 por mês) e a proibição da venda para estrangeiros, evitando assim, que o país se torne um centro turístico movido pela droga.

"Propusemos a lei por causa das tradições do Uruguai. De 1914, 1915, até os anos 60, o álcool era monopólio do Estado. Por mais de 50 anos produzimos e vendemos nossa própria grapa, cachaça, rum. Por um valor maior, que era para direcionar recursos para a saúde pública. É o que vamos fazer agora", disse o presidente, que garante voltar atrás caso ocorra algum resultado negativo no processo de regulamentação.

‘Dogmatismo é uma doença da esquerda’

Taxado popularmente como o “presidente mais pobre do mundo” ou “herói não reconhecido da América Latina”, Mujica diz achar graça dos apelidos. Como um bom presidente, se mostrou bastante politizado e até fez duras críticas aos partidos de esquerda. “O dogmatismo é uma doença crônica da esquerda latino-americana. Acreditamos que somos possuidores de uma verdade absoluta. A esquerda tem a doença de sempre ser apaixonada pelos modelos em que acredita. Mas se penso que meu vizinho deve pensar como eu, estamos fritos”, disse.

Sobre seu estilo de vida, o uruguaio falou que muitas vezes é incompreendido. “Há senhores acostumados com o poder, que se consideram representantes naturais dele e se sentem agredidos quando veem alguém que não pertence a essa classe e não renuncia a sua forma de viver. Eles não toleram.  (...) O Lula sofreu com isso por ser torneiro mecânico, gente do povo”, falou.

“Acho graça desses estereótipos. Pobre é quem precisa de muito. Tenho um tipo de riqueza que muitos não ambicionam. Desprezo a acumulação de dinheiro. Tenho 78 anos e estou por um passo (da morte), vou acumular dinheiro?”, concluiu.

Fonte: Terra
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