Após suspensão, apresentador de talk show Jimmy Kimmel retorna à TV com críticas ao governo Trump
O apresentador Jimmy Kimmel criticou nesta terça-feira (23), em seu retorno à televisão americana, as ameaças do governo de Donald Trump aos comediantes, após a suspensão de seu programa de entrevistas — decisão que ele atribui à pressão do governo.
O apresentador Jimmy Kimmel criticou nesta terça-feira (23), em seu retorno à televisão americana, as ameaças do governo de Donald Trump aos comediantes, após a suspensão de seu programa de entrevistas — decisão que ele atribui à pressão do governo.
"A ameaça do governo de silenciar um comediante que o presidente não gosta é antiamericana", declarou o humorista, visivelmente emocionado, em um longo monólogo inicial no qual elogiou a indignação pública diante da suspensão temporária de seu programa.
"Não podemos permitir que nosso governo controle o que dizemos e o que deixamos de dizer na televisão", acrescentou Kimmel, sob aplausos.
Jimmy Kimmel, que frequentemente critica Trump e seu círculo próximo, provocou a ira de alguns conservadores ao insinuar que estavam tentando explorar politicamente o assassinato do ativista de direita Charlie Kirk, morto a tiros em 10 de setembro em um campus universitário. "Nunca foi minha intenção minimizar o assassinato de um jovem", disse com a voz embargada. "Também não foi minha intenção culpar nenhum grupo específico pelas ações de alguém que, obviamente, era um indivíduo profundamente perturbado."
A suspensão do programa Jimmy Kimmel Live! ("Jimmy Kimmel ao vivo") na semana passada foi celebrada por Trump, que sempre criticou as sátiras feitas por comediantes dos talk shows noturnos.
Antes da volta de Kimmel ao ar, Trump acusou a emissora ABC, responsável pela transmissão, de "fazer comentários 99% favoráveis ao LIXO democrata" e afirmou que o apresentador é "mais um braço do DNC", o Comitê Nacional Democrata. "Acho que vamos colocar a ABC à prova por isso. Vamos ver como faremos. Da última vez, eles tiveram que me pagar US$ 16 milhões", escreveu o republicano.
Após a eleição de Trump no ano passado, a ABC optou por pagar US$ 16 milhões para encerrar uma ação por difamação movida pelo então candidato republicano.
Espectadores que assistiram à gravação em Hollywood disseram à AFP que Kimmel foi contundente. "Foi ótimo. De verdade. Ele se mostrou humilde, engraçado e muito sincero. Seu discurso foi certeiro, honesto... E muito autêntico", afirmou Dana Lotkowski, de 62 anos, que viajou da Filadélfia para assistir ao programa.
Boicote e reação da indústria
A polêmica começou na semana passada, quando o presidente da Comissão Federal de Comunicações (FCC), Brendan Carr, deu a entender que poderia revogar as licenças das afiliadas da ABC que exibissem o programa, a menos que exigissem a demissão de Kimmel.
Nexstar e Sinclair, duas empresas que controlam mais de 50 desses canais nos Estados Unidos, anunciaram imediatamente que retirariam o programa de sua programação, o que levou a ABC a anunciar a suspensão.
A Disney, proprietária da ABC, reverteu a suspensão na segunda-feira. "Passamos os últimos dias em conversas intensas com Jimmy, decidimos que o programa voltaria ao ar na terça-feira", anunciou o conglomerado de entretenimento em comunicado.
No entanto, Sinclair — que exigiu que Kimmel se desculpasse com a família de Kirk e fizesse uma doação ao grupo de direita Turning Point USA — e Nexstar, envolvida em uma negociação bilionária que depende da aprovação da FCC, mantiveram a decisão de não transmitir o programa em seus canais. Por esse motivo, o programa permaneceu fora do ar nesta terça-feira em vários dos maiores mercados televisivos dos Estados Unidos, devido ao boicote.
O anúncio gerou críticas no meio político e na indústria do entretenimento, com centenas de artistas, o Partido Democrata e algumas vozes da direita se manifestando contra as pressões do governo. Desde que chegou à Casa Branca em janeiro, o presidente republicano intensificou seu confronto com a mídia americana, tendo processado judicialmente vários veículos.
Stephen Colbert também foi alvo de censura
A suspensão de Kimmel reacendeu o debate sobre liberdade de expressão nos programas de entrevistas da televisão americana. Diversos colegas se manifestaram em solidariedade, incluindo Stephen Colbert, Jon Stewart, David Letterman e Jimmy Fallon.
Colbert, apresentador do The Late Show, reagiu com ironia e indignação. Em seu monólogo de 18 de setembro, declarou: "Esta noite, somos todos Jimmy Kimmel", classificando a decisão da ABC como "censura descarada" e alertando que "com um autocrata, você não pode ceder um centímetro".
O próprio programa de Colbert foi cancelado para a próxima temporada pela CBS em julho, oficialmente por cortes orçamentários. No entanto, há suspeitas de que pressões políticas também tenham influenciado a decisão, dado o histórico de críticas contundentes do comediante ao governo Trump.
Durante a retomada do programa de Kimmel, Colbert celebrou o retorno do colega com entusiasmo: "Nosso longo pesadelo noturno acabou", disse, acrescentando que "a Disney cedeu porque vocês, o povo americano, ficaram indignados".
(Com AFP)