Mali bate recorde de sequestros de estrangeiros por jihadistas
O número de estrangeiros sequestrados por jihadistas vem crescendo no Mali. De acordo com a ONG Acled, que registra atos de violência em zonas de conflito no mundo, nos últimos seis meses estima-se que o grupo Jnim, ligado à Al-Qaeda, tenha capturado entre 22 e 26 estrangeiros no país.
David Baché, da RFI em Paris
Segundo Héni Nsaibia, pesquisador especialista no Sahel da Acled, o número representa "quase o dobro de 2022", quando treze estrangeiros foram sequestrados.
Nos últimos seis meses, o Jnim capturou cidadãos chineses, indianos, egípcios, emiradenses, iranianos, sérvios, croatas e bósnios. Alguns deles chegaram a ser libertados.
A ONG afirma não ter informações precisas e verificadas sobre as libertações, especialmente no caso dos chineses e indianos. Os reféns foram levados em áreas industriais ou de mineração, no sul do país.
Os resgates desses reféns sempre foram uma fonte de financiamento para os jihadistas. No fim de outubro, pelo menos US$ 50 milhões foram pagos ao Jnim em troca da libertação de um emiradense e de seus acompanhantes. Em outro sequestro, um paquistanês e um indiano também foram capturados e libertados junto com o emiradense.
Investimentos estrangeiros
Os sequestros também fazem parte da estratégia do grupo para desestabilizar a economia do país. Desde o início de setembro, as ações do Jnim contribuem para a escassez de combustível no Mali, na tentativa de paralisar diversas atividades essenciais para o país.
Segundo Héni Nsaibia, o aumento dos sequestros também visa "dissuadir investimentos estrangeiros e a cooperação econômica com o regime". O Mali é governado pelo general Assimi Goïta, chefe da junta militar que está no comando do país desde os golpes de Estado de 2020 e 2021.
Reféns malinenses
Além dos estrangeiros, o Jnim mantém dezenas de reféns malinenses, entre eles militares, representantes do Estado e civis. O número exato é desconhecido.
Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores do Mali, Abdoulaye Diop, afirmou que a "mudança no modo de operação dos terroristas" é "um sinal de seu enfraquecimento".
O grupo Estado Islâmico no Sahel, formação jihadista "concorrente" do Jnim, também está presente no Mali e, segundo a Acled, sequestrou 12 estrangeiros em outros países, como Níger, Burkina Faso e Argélia, nos últimos meses.