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África

Angola celebra 50 anos de independência, mas jovens do país ainda sonham com liberdade

Cinquenta anos após a independência, proclamada em 11 de novembro de 1975, Angola comemora meio século de soberania. Em um país onde a maioria da população nasceu depois da guerra civil, a celebração dá lugar a uma pergunta: o que significa ser livre quando a paz não trouxe a prosperidade prometida?

13 nov 2025 - 14h27
(atualizado em 13/11/2025 às 06h48)
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Lígia Anjos, da RFI em Paris

Crianças comemoram a independência de Angola em 1994, em plena guerra civil (imagem ilustrativa).
Crianças comemoram a independência de Angola em 1994, em plena guerra civil (imagem ilustrativa).
Foto: AFP - GUY TILLIM / RFI

Há 50 anos, Agostinho Neto, durante a proclamação da independência de Angola, afirmou: "A luta continua! A vitória é certa!". A frase, dita por aquele que se tornaria o primeiro presidente do país, tornou-se um marco simbólico da resistência e da esperança de um povo que enfrentou quase cinco séculos de dominação colonial portuguesa.

No entanto, apesar da conquista da independência, Angola mergulhou em seguida em um longo conflito interno, que devastou o país. As disputas ideológicas entre o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola) e a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), os três principais movimentos políticos, agravadas pela Guerra Fria e pela interferência de potências estrangeiras, desencadearam uma guerra civil que durou 27 anos, de 1975 até 2002. Esse período deixou marcas profundas na história angolana, com milhões de mortos e deslocados, além de grandes prejuízos ao desenvolvimento econômico e social.

A paz só foi oficialmente alcançada em 2002, com a assinatura do Memorando de Entendimento do Luena. O documento encerrou o conflito armado e deu início a uma nova fase de reconstrução nacional. Desde então, Angola busca estabilidade e ainda tenta recuperar as infraestruturas destruídas ao longo da guerra.

Angola de 2025 é um paradoxo vivo. Rica em petróleo, gás e diamantes, mas pobre em infraestrutura. Em Luanda, prédios de vidro e aço se erguem diante de um mar de moradias precárias. Um país com mais de 37 milhões de habitantes, dos quais cerca de 70% têm menos de trinta anos: uma população jovem, urbana, dinâmica e frustrada. O Índice de Desenvolvimento Humano da ONU coloca o país na 148ª posição entre 193 nações. Apesar dos avanços desde o fim da guerra, persiste um abismo entre promessas e realidade.

O presidente João Lourenço, eleito em 2017 após 38 anos de governo de José Eduardo dos Santos, costuma lembrar que "a independência não é um ponto final, mas um trabalho contínuo". Sob sua presidência, o país tenta virar a página de um antigo autoritarismo e de uma economia totalmente dependente do petróleo. Angola deixou a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) no fim de 2023, para recuperar o controle de sua produção. Luanda investe no gás, na refinaria do Lobito e na diversificação agrícola. Mas o peso da renda petrolífera permanece, já que ainda financia mais de 80% do orçamento do Estado. Além disso, o crescimento beneficia uma minoria, enquanto as desigualdades se aprofundam.

70% por cento da população não conheceu a guerra

A geração da paz, como são conhecidos os jovens que não viveram nem a guerra de independência nem a guerra civil, representa hoje mais de 70% dos angolanos. Essa parte da população não herdou as privações do passado, mas enfrenta outro tipo de luta, contra o desemprego, a precariedade e a desconfiança política.

Segundo o economista Francisco Paulo, o mercado de trabalho continua dominado pela economia paralela. "De doze milhões de ativos, dez milhões trabalham no setor informal. Isso representa mais de 80% dos empregos, uma verdadeira bomba social", explica.

Apesar de duas décadas de paz, o desenvolvimento econômico continua frágil. O acesso a um emprego estável é raro, sobretudo para os jovens formados. "O problema já não é a guerra, mas a distribuição das riquezas e a liberdade econômica", afirma o economista.

Nas grandes cidades, a juventude alterna entre trabalhos informais e comércio de rua. A economia petrolífera não permitiu diversificar as oportunidades profissionais.

Além disso, a relação entre a população e o Estado continua marcada pela desconfiança. "O cidadão tem medo do poder, e o poder tem medo do cidadão. Esse medo recíproco acaba por gerar a revolta", resume a militante Laura Macedo, que descreve um clima de tensão silenciosa.

"Os que nos governam já não podem mais nos ameaçar com a guerra. Isso já não nos cala", explica a ativista. Para ela, essa ruptura simboliza o fim de um ciclo: a guerra deixa de ser um argumento político. Mas a liberdade de expressão continua frágil, limitada por pressões administrativas, policiais e sociais.

Para o filósofo e ativista Domingos da Cruz, figura do movimento dos "15+2" preso em 2015, o país continua preso a uma cultura autoritária. "Cinquenta anos após a independência, não se pode falar de liberdade, apenas de resistência." Ele defende que a transição para uma verdadeira democracia "dependerá exclusivamente do povo angolano".

O chamado processo "15+2", nome dado aos quinze jovens militantes e a duas outras pessoas presas por terem debatido um livro sobre resistência não violenta ao regime de José Eduardo dos Santos em 2015, foi um momento decisivo na história política recente do país. Pela primeira vez, uma contestação civil conduzida por jovens urbanos se expressou pacificamente, sem recorrer à violência. Após esse episódio, surgiram vários movimentos cívicos com reivindicações ligadas à luta contra a corrupção, ao desemprego e à transparência eleitoral.

O veterano da guerra Álvaro Chikwamanga Daniel, atual secretário-geral da UNITA, faz um apelo à juventude para "defender a paz e preservá-la", reconhecendo, no entanto, que essa paz precisa vir acompanhada de justiça social.

Mulheres excluídas

As desigualdades são visíveis desde o ensino fundamental. Cerca de quatro milhões de crianças continuam fora do sistema educacional, segundo ONGs angolanas. A gestora de projetos sociais e ativista Sizaltina Cutaia denuncia uma hierarquia persistente. "A educação deveria ser o ponto de partida, mas as meninas ainda são frequentemente afastadas, sobretudo nas famílias pobres. Continua-se a pensar que serão sustentadas por um marido", explica, lembrando que a falta de acesso à escola alimenta as desigualdades e fragiliza a mobilidade social.

Apesar da presença crescente na vida pública, as mulheres continuam marginalizadas, nas escolas e também na narrativa oficial, denuncia Sizaltina Cutaia. "A história de Angola é contada através da figura do pai da nação. As mulheres, embora tenham sido protagonistas da luta, são relegadas à margem", explica.

Laura Macedo também denuncia o patriarcado institucionalizado, com mulheres ativas na política enfrentando violência verbal, pressão social e invisibilidade midiática. "O presidente declarou que colocaria mulheres no governo, e que poria outras se elas 'se comportassem bem'. Isso resume o estado de espírito dominante", relata.

Em 2025, Angola vive um equilíbrio frágil: a guerra acabou, mas a paz permanece incompleta. As promessas de 1975, de dignidade, igualdade e prosperidade, não se realizaram para a maioria da população.

Cinquenta anos após a proclamação de Agostinho Neto, a juventude angolana carrega um duplo legado: o de uma independência duramente conquistada e o de uma liberdade ainda por construir. Já não vive sob o fogo das armas, mas sob o peso da desilusão. Nos bairros populares de Luanda, persiste o sentimento de que a paz sem justiça não passa de uma promessa suspensa.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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