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Ásia

A mensagem que a Coreia do Norte quis passar com seu mais sério teste de míssil até agora

Lançamento sem precedentes sobre o Japão eleva preocupação internacional com Pyongyang, que segue adiante com seu programa de armas a despeito da pressão americana.

29 ago 2017 - 16h47
(atualizado às 17h35)
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Pedestre em Tóquio passa diante de tela com imagem de Kim Jong-un
Pedestre em Tóquio passa diante de tela com imagem de Kim Jong-un
Foto: BBC News Brasil

O míssil disparado pela Coreia do Norte sobre a região japonesa de Hokkaido na manhã desta terça-feira (noite de segunda-feira no Brasil) deixou moradores em alerta e está sendo considerado o mais sério teste balístico realizado até o momento pelo regime de Pyongyang.

Apesar de não ser o primeiro lançamento norte-coreano sobre o Japão, acredita-se que tenha sido o primeiro com capacidade de armamento nuclear. Por isso, é visto por analistas como a maior provocação de que se tem notícia por parte dos norte-coreanos, em meio a uma escalada nas tensões regionais.

O premiê japonês, Shinzo Abe, considerou o episódio uma ameaça "sem precedentes" ao seu país.

O míssil, que caiu sobre as águas da costa leste japonesa, é um modelo Hwasong-12, segundo análises preliminares. Ele já havia sido testado em um lançamento realizado em maio.

E por que a Coreia do Norte resolveu dispará-lo neste momento?

Em primeiro lugar, para demonstrar força e enviar a mensagem de que o regime norte-coreano não se sente intimidado pelas ameaças americanas, explica o correspondente da BBC News em Tóquio, Rupert Wingfield-Hayes.

Além disso, o lançamento desta terça seria uma forma de testar seu míssil em uma trajetória mais realista, ao mesmo tempo em que coloca as relações EUA-Japão na berlinda.

"Eles (Coreia do Norte) querem mostrar que estão seguindo adiante com seu programa de mísseis e de armas nucleares, sem serem afetados pela pressão internacional", diz à BBC Doug Paal, do Centro Carnegie Endowment for International Peace.

Para Paal, teria sido ainda mais grave se a Coreia tivesse escolhido Guam - território americano no oceano Pacífico - em vez do Japão como alvo.

"Se o teste (de mísseis) tivesse sido perto de Guam, colocaria muita pressão para que (o presidente americano Donald) Trump respondesse", afirmou - Trump havia dito anteriormente que Pyongyang se veria diante de "fogo e fúria" se atacasse Guam.

Ainda assim, muitos já veem o avanço norte-coreano como um sinal de que as opções diplomáticas estão se esgotando.

Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte
Kim Jong-un, líder da Coreia do Norte
Foto: BBC News Brasil

Reunião de emergência

Na ONU, a embaixadora americana Nikki Haley disse que "algo sério tem de acontecer" em resposta ao lançamento norte-coreano, chamado de "inaceitável".

O Conselho de Segurança das Nações Unidas deverá realizar uma reunião de emergência ainda nesta terça para discutir o caso, e novas sanções contra Pyongyang podem ser implementadas - lembrando que resolução prévia do órgão proíbe a Coreia do Norte de desenvolver qualquer tipo de armas nucleares.

Trump havia dito mais cedo que "todas as opções" estão sendo analisadas, dando a entender que Washington não descarta uma ação militar na Coreia do Norte.

O Pentágono, por sua vez, disse que a diplomacia ainda é a "opção principal" para os Estados Unidos.

Na China - a principal aliada de Pyongyang -, o porta-voz da Chancelaria afirmou que a crise está chegando a um "ponto crítico", que ainda pode abrir as portas para um diálogo pela paz.

Já a Coreia do Norte defendeu seu direito de tomar "duras contramedidas" em resposta ao que chama de "agressão americana", em referência aos exercícios militares conjuntos realizados por EUA e Coreia do Sul.

'Audacioso'

O disparo norte-coreano fez com que diversas cidades do norte do Japão entrassem em alerta, com sirenes e alertas via alto-falante.

Até agora, os disparos norte-coreanos sobre o país haviam levado apenas supostos satélites. Nesta terça, porém, o Hwasong-12 foi lançado com capacidade de carregar armamento nuclear, segundo especialistas.

"É algo extremamente audacioso, provocativo e proibido sob a lei internacional", explica à BBC John Park, pesquisador do Grupo de Trabalho de Coreia na Harvard Kennedy School.

O ex-embaixador americano na Ásia Christopher R Hill, ex-negociador com a Coreia do Norte, afirmou pelo Twitter que foi o "mais sério lançamento de míssil" já realizado por Pyongyang.

É também a primeira vez que se realiza um disparo do posto de Sunan, perto de Pyongyang - local usado pela primeira vez, o que significa que a Coreia do Norte pode estar expandindo seus pontos de lançamento ou que poderia estar tentando despistar observadores internacionais.

Analistas acreditam que o programa nuclear e armamentista norte-coreano está avançando a um ritmo alarmante.

"O país está conduzindo testes de mísseis de alcance intermediário ou intercontinental a cada quatro a seis semanas", acrescenta Park. "Isso é preocupante sob qualquer perspectiva, sobretudo para um país que geralmente é subestimado quanto a suas capacidades."

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