Feedback: o verdadeiro combustível por trás da execução estratégica
Quando uma empresa ignora a voz de quem está na linha de frente, perde não apenas informações valiosas para melhorar processos
O debate sobre feedback nas organizações ainda é tratado como algo periférico, quando na verdade ele deveria ocupar o centro das discussões estratégicas. Em um ambiente de negócios cada vez mais complexo, é ingênuo acreditar que uma estratégia bem formulada será suficiente para garantir bons resultados sem a existência de um ciclo contínuo de retorno, ajuste e aprendizagem. O feedback é a ponte entre o que se idealiza e o que realmente acontece, entre o planejamento e a prática, entre a intenção e a execução.
Quando uma empresa ignora a voz de quem está na linha de frente, perde não apenas informações valiosas para melhorar processos, mas também a oportunidade de fortalecer vínculos e engajar talentos. Pessoas que recebem retornos consistentes entendem que seu trabalho é visto, que suas contribuições têm peso e que existe um compromisso real com seu desenvolvimento. Isso cria pertencimento, promove responsabilidade e faz com que cada profissional enxergue seu papel dentro de um objetivo maior. Por outro lado, quando o feedback é negligenciado ou entregue de forma vaga, ele deixa de cumprir sua função e se torna apenas um ritual burocrático, incapaz de gerar mudança real.
É comum ouvir que "as pessoas não gostam de receber feedback", mas essa afirmação só se sustenta quando o retorno é mal estruturado, genérico ou desconectado da realidade. O que realmente constrange e afasta é o comentário vazio, sem contexto, que não ajuda ninguém a evoluir. Quando o feedback é claro, específico e orientado para ação, ele deixa de ser desconfortável e se transforma em ferramenta de crescimento. Essa troca qualificada revela maturidade da liderança e compromisso com o progresso coletivo.
O mais curioso é que muitas empresas dedicam meses do ano à elaboração de planejamentos estratégicos robustos, mas deixam de lado justamente o elemento que garante que esse planejamento ganhe vida: a escuta. Estratégias não fracassam apenas por falhas de concepção; elas fracassam, principalmente, por falta de monitoramento, por incapacidade de ajustar a rota, por ausência de conversas honestas sobre o que está funcionando e o que precisa ser revisto. Sem feedback, a estratégia vira uma carta de intenções. Com feedback, transforma-se em um organismo vivo, capaz de evoluir conforme o mercado, as pessoas e os desafios se transformam.
O ponto central é que feedback não é sobre apontar erros ou elogiar acertos. É sobre criar consciência. É sobre permitir que equipes entendam o impacto de suas decisões e tenham autonomia para melhorar continuamente. É sobre coragem, tanto para oferecer quanto para receber. É sobre construir cultura, e cultura não se força: se pratica todos os dias.
No fim das contas, empresas que desenvolvem uma cultura de feedback consistente não apenas performam melhor; elas aprendem mais rápido. E no cenário atual, aprender rápido é, muitas vezes, a única vantagem competitiva sustentável. Ignorar isso é escolher operar no escuro. Abraçar isso é escolher evoluir.
*Por Julio Amorim - CEO da Great Group, especialista em planejamento e autor do livro Escolha Vencer: Criando o Hábito de Conquistar Sonhos e Objetivos.