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Estilista Alessandro Michele deixa a direção criativa da Gucci

Responsável por uma revolução na grife italiana, ele triplicou o faturamento da marca com diversidade e subversão

26 nov 2022 - 06h10
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Entre os inúmeros acontecimentos que ganham as manchetes no mundo da moda, o anúncio de troca de diretores criativos de uma grande grife internacional é sempre um dos mais importantes para o mercado. Afinal, a função de criar roupas, acessórios e definir tendências é apenas parte do escopo do cargo.

SAO PAULO CADERNO 2 COLUNA ALICE FERRAZ 20-10-2022 FOTO Gucci e reprodução Instagram
SAO PAULO CADERNO 2 COLUNA ALICE FERRAZ 20-10-2022 FOTO Gucci e reprodução Instagram
Foto: Gucci e reprodução Instagram / Estadão

Quando falamos de uma grande marca de luxo, o trabalho de um diretor criativo também inclui definir toda a base da estratégia de comunicação, escolher as celebridades que vão representar a marca, a imagem dos modelos que vão desfilar suas coleções e até mesmo ditar a experiência com a qual o cliente se depara quando entra nas lojas.

Mais do que produto, é o diretor criativo quem está no controle da narrativa de uma marca como um todo. Do público, aos críticos de moda, passando também pelos acionistas e investidores, todos estão atentos ao trabalho desse profissional.

Sendo assim, o anúncio de mudança na direção criativa de uma grande marca é prenúncio de uma nova era no mercado, principalmente quando falamos de uma gigante como a italiana Gucci. A grife fundada há mais de 100 anos em Florença tornou-se o assunto mais quente do momento na quarta, 24, quando Alessandro Michele anunciou sua saída do posto de diretor criativo.

Michele foi o responsável por uma verdadeira revolução na Gucci, tanto estética quanto financeira. Tudo começou quando o italiano, que trabalhava na marca desde 2002, assumiu o posto em 2015 de forma dramática. Em decorrência de uma polêmica saída antecipada de sua predecessora Frida Giannini, Michele fez sua estreia à frente da Gucci com a coleção masculina da temporada de outono-inverno 2015 e tudo - das peças ao cenário do desfile - foi concebido e produzido em apenas cinco dias.

O prazo quase impossível de criação, no entanto, foi o suficiente para que o novo diretor deixasse claro a que veio, com estética maximalista, referências aos anos 70 e forte androginia nas roupas, Alessandro desenhou ali a base de sua Gucci, que evoluiu e tomou conta do mercado nos anos que se seguiram.

O sucesso de Michele está diretamente ligado a um profundo e certeiro entendimento de seu tempo. As escolhas criativas de Frida, extremamente elegantes e precisas, posicionavam a Gucci em um pedestal aspiracional e quase inatingível ao qual o mercado deixou de responder.

Ao lançar mão de suas infinitas referências imagéticas, sobreposições e subversões, Michele conseguiu chamar a atenção de um novo consumidor, um público que clamava por diversidade, que estava ávido para usar a moda como forma de expressar sua personalidade e que, acima de tudo, estava mais conectado do que nunca.

O trabalho de comunicação no digital, com campanhas inovadoras, parcerias com artistas que tinham o Instagram como sua principal plataforma de expressão - entre eles a brasileira Verena Smit - foi vital para esse sucesso. No lugar da individualidade, a comunidade.

A prova concreta do fenômeno Michele vem em números. No final da "era" Frida, de 2012 a 2014, relatórios do grupo Kering - grande conglomerado de luxo que é detentor da marca Gucci - mostram estagnação. Após a entrada de Michele este cenário mudou e a grife entrou em ritmo acelerado de crescimento. De 2017 para 2018, por exemplo, a marca foi de uma receita anual de € 6,2 bilhões para impressionantes€ 8,2 bilhões.

Em 2021, o faturamento foi de € 9,7 bilhões. Além de grandes ganhos financeiros para o grupo, a era Gucci Michele, que agora chega ao fim, é repleta de lançamentos, parcerias, peças icônicas e desfiles surpreendentes. Uma lista quase interminável que vai da criação de uma linha de beleza ao último desfile de Alessandro, que teve um inesperado casting de modelos completamente composto por gêmeos idênticos.

Pelas passarelas, ele já levou réplicas exatas das cabeças decapitadas de suas modelos, apresentou uma coleção na Hollywood Boulevard, renovou e ampliou códigos da Gucci como uso de fauna, flora e referências equestres em sua moda.

Também criou o Gucci Garden, em Florença, um espaço revolucionário que proporciona uma nova experiência de marca unindo história, moda, gastronomia e vendas, além de, é claro, lançar no mercado produtos de grande sucesso comercial como a bolsa GG Marmont e o tênis Ace, a lista segue extensa.

Michele deixou sua marca e transformou não apenas a Gucci, mas o mercado como um todo, foi alvo de cópias e inspiração para marcas ao redor do globo e um dos grandes impulsionadores de mudanças no estilo das ruas. "Sua paixão, imaginação, ingenuidade e sua cultura colocaram a Gucci no centro do palco, onde é seu lugar", disse François-Henri Pinault, CEO do grupo Kering em anúncio oficial após a saída de Alessandro Michele.

Há quem diga, no entanto, que o diretor criativo estava se repetindo, e que este pode ter sido um dos motivos da saída, "começou a provocar bocejos em vez de desejo", escreveram Elizabeth Patron e Vanessa Friedman ao jornal americano NY Times na reportagem sobre a saída. Ainda não foi confirmado quem o substituirá e os olhos do mundo da moda seguem atentos e curiosos.

SAO PAULO CADERNO 2 COLUNA ALICE FERRAZ 20-10-2022 FOTO Gucci e reprodução Instagram
SAO PAULO CADERNO 2 COLUNA ALICE FERRAZ 20-10-2022 FOTO Gucci e reprodução Instagram
Foto: Gucci e reprodução Instagram / Estadão
Estadão
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