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Na única cidade em que venceu em SP, tucanos elogiam o PT

8 out 2014 - 10h56
(atualizado às 14h43)
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Encontrar um eleitor que critique o Partido dos Trabalhadores (PT) em Hortolândia – noroeste de São Paulo - não é uma tarefa muito fácil. Depois de se caminhar por algumas horas pelas ruas da cidade, é possível começar a entender porque este foi o único município do Estado em que o governador Geraldo Alckmin (PSDB) foi derrotado pelo candidato petista Alexandre Padilha.

<p>Conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida em Hortolândia</p>
Conjunto habitacional do Minha Casa Minha Vida em Hortolândia
Foto: BBC News Brasil

Na entrada de Hortolândia, algumas das primeiras coisas que chamam a atenção são os enormes canteiros de obras para a construção de moradias populares – muitas delas adquiridas por habitantes locais por meio do programa federal “Minha Casa Minha Vida” (há cerca de 4,5 mil inscritos na cidade, segundo parlamentares do PT).

Nas ruas que dão acesso à região central, dezenas de cartazes de propaganda eleitoral exaltam a presidente Dilma Rousseff, que também venceu o presidenciável Aécio Neves nas urnas da cidade no último domingo.

Os eleitores de Hortolândia deram 42,37% de seus votos à candidata à reeleição, contra 30,79% de votos para Marina Silva (PSB) e 22,52% para o tucano, em um resultado que vai na contramão do restante do Estado de São Paulo, onde Aécio teve 44,22% dos votos e Dilma e Marina empataram com cerca de 25% cada.

Na região onde está o edifício da Câmara Municipal de Hortolândia, dezenas de casas e pequenos prédios estão em construção, muitos terrenos ainda estão desocupados e o asfalto das ruas aparenta boa conservação.

Asfalto

O asfaltamento massivo das ruas é, aliás, uma das primeiras benfeitorias citadas por praticamente todos os moradores entrevistados pela reportagem – inclusive eleitores do PSDB - como um dos principais feitos da administração municipal comandada há dez anos pelo PT.

“Não voto no PT nem compartilho da ideologia do partido. Nessa eleição, por exemplo, votei no PSDB, no Geraldo Alckmin, mas não dá para negar que o PT fez muitas coisas boas para essa cidade”, disse a aposentada Gracea Rosa Rodrigues, de 62 anos. “A cidade foi toda modificada, foram feitas moradias, asfalto e esgoto. Não posso criticar o PT”, afirmou.

Políticos ligados ao PSDB, no entanto, apontam que parte das melhorias na infraestrutura e investimentos em programas sociais também foram feitos com verbas do governo estadual, comandado pelo tucano Geraldo Alckmin.

Investimentos

Hortolândia era um distrito da vizinha Sumaré e cresceu nos anos 1980 como uma região dormitório para trabalhadores da indústria e do setor de serviços da cidade de Campinas. Em 1991, conseguiu a emancipação como município.

Segundo o cientista político Valeriano Costa, da Universidade de Campinas (Unicamp), a região de Hortolândia era habitada principalmente por pessoas que trabalhavam fora da cidade – possuindo inicialmente uma classe média pouco expressiva. “Há poucos casos como esse, em que uma periferia isolada vira um município”, disse.

Costa afirmou que a cidade passou por uma fase de grandes investimentos em infraestrutura e serviços durante as administrações municipais do PT, que começaram 2004, o que gerou uma imagem para a população de que o partido estava estritamente vinculado ao progresso. “Houve um ‘boom’ de crescimento no período do primeiro governo Lula”, afirmou.

Entusiasta do trabalho realizado na cidade pelo PT, o construtor José Osni Prestes, que mora há 22 anos na cidade, afirmou que até os preços dos imóveis se valorizaram. “O PT trouxe empresas de tecnologia e Hortolândia deixou de ser uma cidade dormitório de Campinas. Muitos empregos foram criados”, disse ele.

Programas sociais

O motorista Nilson Francisco Silva, de 39 anos, mora em uma das regiões mais pobres da cidade, ao lado de um extenso conjunto de moradias populares.

Apoiador do candidato petista ao governo Alexandre Padilha – que obteve cerca de 39% dos votos dos quase 140 mil eleitores da cidade (Alckmin teve 35%) – Silva disse acreditar que os programas Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida foram fundamentais para o apoio da população mais carente ao PT. “Tenho muitos amigos que se beneficiaram do Minha Casa Minha Vida e a maioria gosta do PT”, disse.

Porém, segundo o cientista político Valeriano Costa, os programas sociais criados pelo PT não atingem mais que 10% da população e, por isso, não seria correto atribuir a imagem positiva do partido na região apenas a eles.

Para Costa, a imagem do PT é fruto de uma combinação de fatores, com destaque para o perfil da população da cidade.

Militância e mobilização

O início da influência petista na região de Hortolândia remonta à própria origem do Partido dos Trabalhadores, nos anos 1980.

Segundo o vereador José Nazareno Gomes, líder da bancada do PT na Câmara local, uma grande quantidade de operários que eram ligados ao PT em São Bernardo do Campo migraram para a região de Campinas para trabalhar em indústrias que surgiram na região. “Na fábrica da Mercedes, por exemplo, 20% dos empregados tinham vindo do ABC”, afirmou Gomes.

Segundo ele, um dos primeiros assentamentos bem sucedidos do Movimento Sem-Terra também ficava na região. Esses trabalhadores que tinham tido um relacionamento muito próximo ao PT no ABC paulista teriam “importado” para a região as estratégias de mobilização e organização do partido.

Para o vereador Gomes, os resultados desse contexto se refletem até hoje na cidade, onde o PT tem maioria na Câmara e mais de 2,5 mil militantes ativos.

Tucanos e petistas

Na opinião do líder do PT na Câmara de Hortolândia, o melhor resultado eleitoral de Padilha em relação a Alckmin também é fruto de investimentos federais em canalização de rios, unidades de saúde e da chegada de médicos pelo programa Mais Médicos.

Ele citou ainda como fator de baixa popularidade do PSDB a existência na região de um grande complexo prisional gerido pelo governo estadual. Segundo ele, isso seria uma fonte de descontentamento para a população, ao retirar policiais das ruas para escoltar presos e drenar recursos das unidades de saúde para o atendimento de detentos.

Já o líder do PSDB na Câmara, Ananias José Barbosa, afirmou à reportagem da BBC Brasil que não seria justo omitir a colaboração do governo estadual no programa Minha Casa Minha Vida em Hortolândia. Segundo ele, as verbas da administração Alckmin destinadas ao programa somam R$ 16 milhões.

Ele ressaltou também a participação do governo do PSDB na expansão da infraestrutura de vias e ruas na região – com, segundo ele, um investimento de R$ 400 milhões em cinco anos. Barbosa citou ainda ações do governo para acabar com o problema de falta de água e disse que muitos investimentos feitos por prefeituras do PSDB e do PMDB (anteriores à gestão do PT) só teriam gerado frutos mais tarde. “O impacto visual do desenvolvimento se deu quando o PT já era governo”, disse.

O vereador tucano também atribuiu a popularidade do PT na cidade à falta de veículos de imprensa. Segundo ele, o PT teria mais capacidade que outros partidos de divulgar suas realizações por meio de seus militantes e de propaganda.

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