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Lula pede ofensiva nas redes sociais fora 'do ninho de mentiras' e ouve Tebet para atrair indecisos

Ex-presidente revê estratégia nas redes sociais e pede a 23 mil influenciadores que não se restrinjam a responder ataques dos adversários e foquem atuação no WhatsApp; petista também acolhe sugestões da senadora emedebista e do presidente do PDT, Carlos Lupi

18 out 2022 - 14h12
(atualizado às 14h58)
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Terceira colocada no primeiro turno, a senadora Simone Tebet (MDB) apoia Lula (PT) no segundo turno e deu sugestões sobre campanha nas redes sociais.
Terceira colocada no primeiro turno, a senadora Simone Tebet (MDB) apoia Lula (PT) no segundo turno e deu sugestões sobre campanha nas redes sociais.
Foto: Pedro Kirilos/Estadão / Estadão

A estratégia da campanha do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas redes sociais foi discutida na manhã desta terça-feira, 18, em reunião virtual com comunicadores e influenciadores favoráveis à candidatura do ex-presidente. A mais de 23 mil participantes conectados na parte aberta da reunião, Lula pediu que a atuação nas redes não fique restrita apenas à resposta aos ataques da campanha adversária e sugeriu foco no Whatsapp.

"O partido precisa orientar as pessoas com proposta também, não é só ficar respondendo as coisas dele (Bolsonaro). (...) Nós não podemos entrar no ninho que eles estão metidos, de mentir, mentir, mentir", disse Lula.

A fala do ex-presidente foi um aceno ao discurso da senadora Simone Tebet (MDB), que pouco antes sugeriu que os comunicadores da campanha de Lula não deveriam ficar "na defensiva, no combate do conteúdo de medo que eles impõem de que vai fechar igrejas, de que vai haver invasão de terras".

"Que possamos gerar conteúdo verdadeiro, original, com inteligência, a respeito desse governo desumano e desonesto do Bolsonaro", disse Simone.

Depois de se declarar à disposição para ajudar a tornar conteúdos virais nas redes sociais, Simone recebeu acenos de Lula. Em um pronunciamento de dez minutos, o petista fez três referências à senadora.

"A Simone disse uma coisa muito sagrada, a gente não pode ficar apenas tentando rebater as mentiras deles. É preciso que, ao rebater a mentira, a gente passe mensagem das coisas positivas, que existem e que vão existir nesse país, parte das propostas que estão no programa de governo, parte das coisas que já fizemos. É preciso que a gente coloque, em cada resposta a uma crítica, uma proposta", afirmou Lula.

O presidente também disse à senadora que ela irá "receber a agenda" para rodar ao lado do petista por "alguns Estados brasileiros". Os dois devem participar juntos de comício no interior de Minas Gerais na sexta-feira.

Lula disse que o WhatsApp é "a grande arma" de Bolsonaro para "passar mentiras". "E nós não podemos ficar apenas respondendo as mentiras deles, esclarecendo que não vamos fechar a igreja. Ele sabe que fomos nós que regulamos a lei, em 2003, para que tivesse liberdade religiosa, ele sabe disso. Mas ele conta essa mentira todo santo dia e isso vai parecendo que é verdade. E nós não podemos ficar só repetindo: o Lula não vai fechar igreja, o Lula não vai fechar igreja". Nós temos prova histórica. Eu fui presidente oito anos, não fui oito dias. Nós temos história que nossa relação com a igreja, nossa relação religiosa é a mais democrática e a mais saudável possível. A gente não pode apenas desmentir, mas mostrar o que foi feito nesse país," disse o petista.

O segundo turno tem sido marcado por ataques e associações fora de contexto por parte das campanhas, especialmente sobre questões religiosas e pauta de costumes. Bolsonaro tentou vincular a imagem de Lula a criminosos. A campanha petista, por sua vez, utilizou entrevistas de Bolsonaro para ligar a imagem do presidente a canibalismo e a pedofilia. No episódio mais recente, o PT explorou trecho de entrevista de Bolsonaro a um podcast na qual o presidente fala sobre adolescentes venezuelanas e diz que "pintou um clima". Depois disso, segundo o presidente, ele decidiu entrar na casa onde as adolescentes estavam e as encontrou, segundo ele, se preparando para "ganhar a vida". O Tribunal Superior Eleitoral determinou a retirada do conteúdo do ar.

Em novo vídeo compartilhado nas redes sociais nesta terça, 18, Bolsonaro afirma, sem provas, que as meninas venezuelanas que ele encontrou em 2020 na periferia de Brasília estavam "arrumadinhas" para fazer programa. A declaração foi dada por ele ao podcast Collab em 12 de setembro deste ano, um mês antes de dizer que havia "pintado um clima" entre ele e as garotas no mesmo episódio.

Lula fez breve menção ao caso nesta terça-feira, mas de maneira indireta. "Esses dias eu vi um vídeo dele que está ligado àquele vídeo das meninas da Venezuela em que ele diz, textualmente, que é necessário mentir, é preciso mentir, porque se não mentir não ganha as eleições. Um cidadão que acha que para ganhar eleições tem que mentir, obviamente não vai conseguir governar do jeito honesto", afirmou.

Na reunião desta terça-feira, o senador Randolfe Rodrigues (Rede) sugeriu que os comunicadores mantenham o tema nas redes sociais.

"Vamos focar naquilo que ataca o adversário. O 'pintou um clima', aquela cena horrenda dele ofendendo adolescentes de 13 e 14 anos, não pode desaparecer das redes", disse o senador. "Esse tema tem que continuar repercutindo, porque foi diagnosticado que é um ponto falho deles", defendeu Randolfe, que sugeriu que as imagens da confusão gerada por apoiadores de Bolsonaro em Aparecida do Norte no último dia 12 também continuem a ser usadas pelos petistas.

Com a presença de Simone Tebet e Carlos Lupi, presidente nacional do PDT, partido de Ciro, a campanha de Lula ouviu orientações sobre como buscar eleitores fora da bolha da esquerda. Simone sugeriu que a campanha de Lula use documentos do Senado e da Câmara, sobre o governo Bolsonaro, para desqualificar o adversário, como material da CPI da Covid e informações de cortes de orçamento a programas sociais. "São documentos simples de serem colocados nas redes", disse a senadora.

Terceira colocada no primeiro turno das eleições deste ano, a senadora é considerada uma voz de interlocução com o eleitorado indeciso e potencial especialmente em Estados do Sudeste e na classe média.

"Eu e Ciro (Gomes) representamos quase 8,5 milhões de pessoas que não votaram em Lula. Tenho andado muito e ainda me surpreende, apesar das pesquisas não dizerem isso, o quanto nosso eleitor ainda está um pouco indeciso e influenciado por fake news e por um medo que a gente realmente não entende", afirmou a senadora. Ontem, Tebet participou de um encontro com cerca de 650 empresários, banqueiros, CEOs e economistas para convencê-los a votar em Lula. Estava acompanhada da deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP) e do economista Armínio Fraga.

Antes dela, Lupi afirmou que é preciso explorar a memória da pandemia. "Já falei nas duas reuniões que participei e volto a pedir. Percebo que esses bolsonaristas são intragáveis, é impossível conversar, mas tem uma coisa que toca profundamente na base eleitoral deles: a questão da covid, a omissão do Bolsonaro, a covardia que ele fez. Ouso dizer que a gente tinha que centrar o máximo possível de ataques sobre o comportamento desse presidente na covid", afirmou o pedetista.

A necessidade de buscar mensagens que extrapolem os limites da militância petista também foi ressaltada por Manuela d'Ávila (PCdoB). "Sim, a militância precisa estar animada, mas precisamos sobretudo de conteúdos que instrumentalizem pessoas que não estão conosco. Agora é a hora de conquistar o voto de quem não pensa igual a gente, de quem tem dúvidas sinceras sobre o que nós fizemos ou sobre o que nós podemos fazer. É menos hora de lacrar e mais hora de conversar, explicar, esclarecer", disse a ex-deputada.

Simone Tebet aproveitou o momento para explicar sua sugestão de evitar a cor vermelha nos atos de Lula. Segundo ela, o partido deve ter orgulho de ter a cor como um símbolo, mas disse que optar pelo branco é uma estratégia para angariar apoio.

"Não tenho nenhum problema com o vermelho, ao contrário, é a cara do PT e vocês têm que ter o maior orgulho disso. Mas agora não é hora de pregar para convertidos, agora é hora de conquistar votos", afirmou.

A mulher de Lula, a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, realizará uma reunião com influenciadores digitais famosos nos próximos dias. O encontro desta terça foi com comunicadores que o PT considera que são a "base orgânica" do partido nas redes, segundo o coordenador de comunicação Edinho Silva.

Deputado federal mais votado de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) defendeu que a campanha crie a própria agenda para não ficar refém da pauta bolsonarista. "O nosso adversário quer transformar eleição presidencial numa espécie de guerra santa, numa batalha que não tem a ver com o futuro do Brasil (...) Precisamos discutir o Brasil real", disse. Boulos também sugeriu que se discuta a defesa da democracia na encruzilhada entre Lula e Bolsonaro, como forma de apelo aos eleitores de Ciro e Simone.

Diferentes integrantes da campanha petista também sugeriram que os comunicadores evitem compartilhar mensagens que gerem medo de ir às ruas apoiar Lula.

Considerado um dos principais influenciadores digitais da campanha, o deputado federal André Janones (Avante-MG) criticou o ataque feito por apoiadores de Lula aos cantores sertanejos que se reuniram ontem com Bolsonaro. Segundo ele, é preciso concentrar as críticas no próprio presidente.

"Gente, nós não estamos disputando eleição com o Zezé, com o Leonardo, com o Romeu Zema. Esse pessoal tem direito de apoiar quem eles quiserem. Vamos focar em quem é nosso adversário. Nosso adversário é Jair Bolsonaro e ponto final. A gente não ganha absolutamente nada nos contrapondo a apoiadores", disse. Janones é um dos principais agentes da campanha de Lula nas redes e adota declaradamente as mesmas táticas do bolsonarismo para atrair atenção e engajamento.

Estadão
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