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Você sabe como funciona uma república? Estudantes relatam experiência

Confira o que jovens acham dessas comunidades estudantis, opção para estudantes que começam a vida universitária

8 fev 2024 - 05h00
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República Arapuca, com estudantes da USP de Ribeirão Preto
República Arapuca, com estudantes da USP de Ribeirão Preto
Foto: Divulgação

Com o início do ano e o período de matrícula nas universidades, muitos estudantes enfrentam a decisão de mudar de cidade para fazer a tão sonhada graduação. Com isso, surge a necessidade de escolher um local para morar e arcar com os custos da nova vida universitária. O que fazer, então?

Uma opção popular para esses estudantes são as repúblicas. Esses espaços compartilhados costumam reunir pessoas de diferentes regiões e formações culturais. Algumas, como a Arapuca, são formadas exclusivamente por mulheres e se tornam alternativa mais segura para as jovens meninas.

Bárbara Orlandi, de 24 anos, é uma das moradoras da Arapuca. A estudante de psicologia da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto destaca que cada moradora tem uma função específica, o que facilita a harmonia e organização do espaço.

"As funções incluem reparos, responsável pela manutenção; financeiro, encarregado das contas da casa; burocrática, que lida com questões administrativas; e organização, responsável pela ordem e limpeza", descreve.

Essa distribuição das tarefas propicia também o desenvolvimento individual, já que muitas meninas que chegam não sabem lavar roupa ou nem mesmo fritar um ovo.  As bichetes, como as novatas são chamadas, passam pelo processo de adaptação que inclui responsabilidades domésticas e convivência com pessoas de personalidades diferentes.

Estudantes da República Arapuca, localizada em Ribeirão Preto
Estudantes da República Arapuca, localizada em Ribeirão Preto
Foto: Divulgação

"A gente tem que abrir mão de muita coisa também para poder viver tudo isso. E eu falo que é uma opção maravilhosa", enfatiza Bárbara, que acrescenta também a oportunidade de networking nesse tipo de moradia.

Além da troca diária de experiências e indicações profissionais, a república promove eventos e tradições para fortalecer os laços entre as moradoras. Na Arapuca, são comuns festas internas, como o 'Churras de Ex', e encontros entre repúblicas femininas, como o 'Café das Reps'.

Já o 'InterReps' é uma competição esportiva que proporciona integração entre as moradoras e outras repúblicas. "É uma oportunidade de você fazer amizades de outros cursos", destaca.

Além das tradições e eventos, a Arapuca é lar de pets queridos, como Chico, o cachorro que nasceu com a república, e Sunny, a gatinha adotada oficialmente neste ano. Normalmente, as bichetes são as responsáveis pelos cuidados básicos com os animais, já que ficam com as tarefas mais simples no início. 

A maior da América Latina 

Já o estudante de Jornalismo Johan Pena, de 21 anos, mora na República Aquarius, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Com 33 quartos, área de futebol e cinema, é considerada a maior república da América Latina -- e a que representa o nascimento da vida republicana no município mineiro.

Além da divisão de tarefas, Johan conta que os moradores são responsáveis pela manutenção da estrutura da casa onde funciona a república. Como não pagam aluguel para morar no imóvel, que pertence à faculdade, um órgão específico fiscaliza as ações das repúblicas. 

Outra característica da convivência na Aquarius é a reunião mensal entre moradores, para alinhar a divisão dos custos, tarefas e responsabilidades.

"Nossa reunião tem pautas, tempo de fala... É para ser uma troca de ideias mesmo", conta. "Esses ensinamentos que eu tenho tido nos últimos anos é o que faz a minha vivência ser um diferencial".

E quem já ouviu falar sobre as repúblicas de Ouro Preto certamente conhece a tradição de festas universitárias. Os blocos de carnaval da cidade fazem sucesso em todo o Brasil, e são organizados pelos próprios estudantes.

República Aquarius, em Ouro Preto
República Aquarius, em Ouro Preto
Foto: Johan Pena

"Acho que aqui é onde vivi os melhores anos da minha vida, fora o crescimento pessoal que você ganha morando com diversas pessoas, tendo responsabilidades, obrigações, aprendendo sobre liderança. O que eu aprendi aqui me abre até portas profissionais", destaca Johan. 

Segundo o estudante, a atuação da Aquarius alcança também a política. São eles que encabeçam um projeto que torna as repúblicas patrimônio imaterial de Ouro Preto, e as repúblicas ainda integram atividades acadêmicas e sociais da universidade, como a Associação Esportiva da Escola de Minas (ADEM) e o Centro Acadêmico da Escola de Minas (CAEM).

Troca de experiências e aprendizado

Endre Kurotusch, atual presidente do Conselho de Repúblicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP), lembra que subestimou a experiência de morar em uma república logo que chegou a Piracicaba em 2020 para estudar Ciências Econômicas. Sem local para viver ao chegar de Goiânia, sua cidade natal, a pandemia de Covid-19 o ajudou a entender a importância da república naquela fase.

"Na minha cabeça, achei que não era uma experiência que vale a pena, que enfim, morar com pessoas que eu nunca vi na vida, não fazia sentido, porque na época eu achava que eu poderia me virar muito melhor e me desenvolveria muito melhor sozinho, eu estava plenamente errado", afirma. "Se não fosse a república, eu com certeza teria trancado a faculdade. As poucas pessoas que eu consegui manter contato durante a pandemia foram, justamente, as pessoas da república".

Ao retornar em 2021, Endre fortaleceu laços na República Arado e se apaixonou pelo ambiente diversificado. Hoje no 5º ano do curso e funcionário de um dos maiores bancos do Brasil, ele atribui à experiência na república a capacidade de exercer sua profissão.  

"Lidava com pessoas de culturas diferentes, um criado crescido em São Paulo, outros crescidos no interior de São Paulo, com culturas, com estilos de família diferente, com visões políticas, com visões sociais, com visão de mundo muito diferente da minha. Isso me permitiu crescer muito como pessoa", conta,

Endre Kurotusch, atual presidente do Conselho de Repúblicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ - USP)
Endre Kurotusch, atual presidente do Conselho de Repúblicas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ - USP)
Foto: Arquivo Pessoal

O apoio que Endre encontrou nos colegas de república é o que a estudante Marya Fernanda, vice-presidente do Conselho e estudante de Engenharia Agronômica, aponta como o principal benefício de morar em um espaço como esse.

"São pessoas que não te deixam na mão, tipo, de forma alguma. As repúblicas são famílias, todas são famílias", destaca. "Os laços criados são tão fortes que até quando as pessoas terminam os estudos mantêm a amizade, a proximidade, e até se reencontram".

Segundo ela, nas repúblicas da Esalq, que são masculinas ou femininas, os novos estudantes passam por uma espécie de "período de estágio". Nessa fase, eles conhecem diferentes repúblicas antes de efetivamente se tornarem moradores. Assim, eles podem escolher aquela com que mais se identificarem. 

"O ingressante entra e aí ele chega numa república, ele não paga nada, vive ali na república, dorme, faz todo o uso da república, mas ele não paga, até que ele escolha uma e ser torne 'efetivo' nela", relata. 

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Fonte: Redação Terra
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