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Brasileiros que trabalham na Argentina dizem por que gostam do país apesar da crise econômica

Vantagens no câmbio, com real valorizado no país em relação ao peso, e qualidade de vida são alguns dos motivos; saiba mais nesta edição da série 'Trabalhar Fora'

29 nov 2023 - 09h40
(atualizado em 11/12/2023 às 13h37)
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Quando a bordadeira Nayara Fonseca, 36, decidiu ir para a Argentina, há quase três anos, a pandemia já tinha feito um rastro de destruição em todo o mundo. Foi exatamente pelo temor do rumo que a crise sanitária tomava no Brasil que, ao lado do marido, o designer de games Leandro Teichimann, 37, desembarcaram em Buenos Aires em um data simbólica: dia 24 de dezembro de 2020. Eles não são os únicos. Movidos por diferentes razões, mais de 90 mil brasileiros vivem no país vizinho, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Se você quer também um trabalho na Argentina, veja aqui dicas de como conseguir uma vaga no país.

Para fixar moradia em terras argentinas, esses migrantes precisam lidar com os desafios de uma economia que enfrenta desequilíbrios estruturais. Em outubro, a inflação ao consumidor saltou ao ritmo anual de 142,7%, quase 30 vezes superior à taxa brasileira.

Também devem se acostumar com a calculadora para entender oscilações bruscas do peso argentino, que tem múltiplas cotações. De acordo com o Banco Central local, 1 real equivale a cerca de 73 pesos argentinos pela cotação oficial, mas na prática a divisa chega a ser vendida a 200 pesos. Para analistas, o cenário incerto é um dos fatores que explicaram a vitória do libertário Javier Milei nas eleições presidenciais.

De qualquer forma, brasileiros residentes na Argentina entendem que a melhora na qualidade de vida supera a instabilidade econômica. No caso de Nayara Fonseca, a ida à Argentina seria temporária, por apenas três meses. Quando o casal e a filha Amora de 2 anos, hoje com 5 anos, partiram em dezembro de 2020 imaginavam que a pandemia logo ia ser contida. Os 90 dias viraram três anos.

Um dos motivos para a permanência envolveu o bem-estar da filha. "Pensava que se estivesse em São Paulo a menina estaria trancada em um apartamento, não teria condição material de fazer tanta coisa", conta. A oferta de parques ao livre e a sensação de segurança proporcionaram para a família um novo estilo de vida, conforme relatado por Nayara.

"Tudo é um recorte. Moro em uma região muito segura, com muitos parques e praças. Cada vez que a gente saia para fazer algo era incrível, e fomos reparando nessas facilidades da cidade", diz.

Outro fator que os mantém na metrópole de 16 milhões de habitantes é o quesito financeiro. Após se mudar, Nayara pediu demissão na escola em que atuava e começou a dar aulas particulares de bordado. Já Leandro, que é sócio de uma empresa brasileira de realidade virtual, seguiu trabalhando remotamente.

Como a renda da família é majoritariamente em real, a conversão favorável abriu caminhos para uma vida mais confortável. "Isso faz muita diferença, nosso dinheiro rende muito mais aqui. Não somos ricos, mas em comparação ao Brasil temos acesso a coisas que não tínhamos. Por exemplo, ir comer fora toda semana sem ter impacto na saúde financeira", afirma.

Moradia fixa é um obstáculo para estrangeiros

No Brasil, o casal vivia no bairro Vila Madalena, zona oeste da cidade de São Paulo. A mensalidade do colégio em que Amora estuda custa 1/3 da escola paulistana. Em relação a moradia, girava em torno de R$ 3.300 no País.

O apartamento em que residem desde março deste ano na metrópole é pago em pesos argentinos. Atualmente, a moradia custa menos de 1/3 se comparado ao aluguel de São Paulo.

"O valor que pago não existe mais, nem kitnet, porque (os preços) sobem muito", pondera.

Mas até conseguir um contrato de aluguel fixo, chamado de Largo Plazo (contrato de 3 anos), passaram por diferentes locações no Airbnb, em algumas situações chegaram a pagar em dólar. "A proprietária começou a fazer reajustes em dólar, mesmo sabendo que isso não era ético", relembra Nayara.

Atualmente, a profissional participa de projetos em diversos países da América Latina, como México, Argentina e Brasil. O que se torna um grande desafio, já que a remuneração pode vir tanto em peso argentino, como em real ou em dólar, dependendo do país de origem.

Essa instabilidade financeira, com variações frequentes nos salários e nos preços, exige uma adaptação constante das pessoas. Aline conta que coisas simples como ir ao mercado se transformam em uma experiência imprevisível, porque os preços mudam recorrentemente e as pessoas precisam ajustar constantemente seus gastos.

"Quando você tem sorte de ter uma atualização do seu salário, muitas vezes fica difícil saber o quanto vai receber, porque você não sabe quanto que será inflação até lá", diz.

Mesmo diante desses contrapontos, a atriz afirma que a sua qualidade de vida no país também melhorou. "Aqui não existe essa normalização do não descanso como em São Paulo", conta. "Eles valorizam muito o descanso."

Quanto custa morar na capital da Argentina?

De modo geral, Buenos Aires é 30,6% mais barata que São Paulo, sem incluir o aluguel, que é, em média, 29,2% menor que a capital paulista. As informações são do Numbeo, site especializado.

Confira o preço de alguns itens em Buenos Aires:

  • Leite (1 litro): R$ 4,13
  • Pão fresco (500g): R$ 7,30
  • Arroz (branco - 1kg): R$ 4,53
  • Ovos (12): R$ 7,89
  • Queijo local (1kg): R$ 33,15
  • Filé de frango (1kg): R$ 19,61

Por outro lado, o salário mínimo estabelecido para dezembro, fixado em 156 mil pesos (U$436), é 46% menor do que o custo da cesta básica para uma família de quatro pessoas, 345.295 pesos ou U$ 946, conforme indicado pelo Indec Argentina.

A hiperinflação no país, atingindo uma acumulada anual de 142,7% em novembro, impõe desafios adicionais à estabilidade da vida argentina. A dificuldade de avaliar se um produto está caro ou barato quando os preços aumentam de maneira imprevisível, por exemplo, é um dos maiores desafios, como destaca o economista Renan Pieri.

Essa volatilidade faz com que as pessoas não consigam determinar o que é financeiramente viável, resultando em um desperdício significativo de tempo e recursos na busca por opções econômicas. "O sistema de preços deixa de fazer sentido, então isso gera uma falta de eficiência grave para economia", explica.

Estadão
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