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Alagoas deixa histórico de piores resultados do País e supera metas do Ideb em 2019

Nota do Estado do 1º ao 5º ano do ensino fundamental ficou em 5,3, enquanto do 6º ao 9º atingiu a nota 4,5; ambas superam a meta definida pelo MEC para cada fase do ensino

16 set 2020 - 05h10
(atualizado às 06h27)
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MACEIÓ - No ano de 2005, o segundo menor Estado do Brasil brigava entre a última e a penúltima posições do ranking nacional da educação básica por médias que não chegavam a 2,5. Durante muitos anos, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) obtido por Alagoas figurou entre os piores.

Mas os dados de 2019, divulgados na terça-feira, 15, pelo Ministério da Educação, mostram que o Estado encontrou uma receita que vem dando certo para elevar o nível de aprendizado dos estudantes.

Alagoas aparece entre os cinco estados que conseguiram superar a meta do Ideb 2019 nos anos finais do ensino fundamental, ou seja, do 6º ao 9º ano, com a nota 4,5. O objetivo era no mínimo 4,1.

Nos anos iniciais, que vão do 1º ao 5º ano, os resultados também foram positivos: índice de 5,3, quando a meta era 4,3, deixando o Estado entre os 21 que ultrapassaram o objetivo definido pelo MEC.

A explicação para o desempenho, segundo a secretária estadual de Educação, Laura Souza, está na mobilização integrada de professores, diretores, servidores em geral, alunos e gestores municipais e estaduais. "Houve um esforço dos profissionais, um engajamento, que só foi possível porque todo mundo se envolveu", avalia.

O engajamento a que ela se refere foi motivado por uma série de medidas implementadas pelo Programa Escola 10. A ação, que virou lei, desenvolveu uma rotina de avaliações de alunos e formação de professores com base nos resultados, e em contrapartida, uma premiação a municípios, escolas e servidores.

Inspirada no Ceará, pioneiro no regime de colaboração entre estado e município, o programa alagoano desenvolveu formas de apoiar as secretarias de educação para elevar o Ideb e, por consequência, o nível da educação básica.

Uma das ações é uma prova similar à do Ideb, mas aplicada apenas localmente, em todas as escolas das redes municipais, para fazer um diagnóstico do que está errado. A escola recebe o resultado e, a partir dele, identifica suas fragilidades e planeja soluções.

Quem também recebe os dados são formadores que irão capacitar professores nos 102 municípios com foco nas dificuldades apresentadas no exame. Já o aluno ganha apostilas para reforçar o estudo. E, ao final do ciclo, os maiores avanços são reconhecidos por meio de prêmios em dinheiro.

"Fazemos o que chamamos de formação em serviço dos professores. É paga uma bolsa para formadores atuarem nos municípios, olhando o resultado da avaliação e trabalhando com o professor. Além disso, os bons resultados das escolas, dos municípios e, na rede estadual, do servidor, são premiados", explica Laura.

São destinados R$ 20 milhões para rateio entre os municípios, divididos entre anos iniciais e anos finais do ensino fundamental. Só recebem aqueles que atingem as metas. As escolas podem receber até R$ 20 mil e, na rede estadual, os servidores, desde o vigilante até o diretor, ganham um bônus até R$ 2 mil.

Escola em Jequiá da Praia tem a 4ª maior nota do País nos anos iniciais do fundamental

Quem pesquisa por Jequiá da Praia na internet geralmente encontra belas paisagens de dunas e mar da pequena cidade com pouco mais de 10 mil habitantes. Mas o município localizado a 1h30 da capital Maceió tem algo mais a mostrar. É lá que está localizada a Escola Manoel Cotias de Jesus, que conquistou a quarta maior nota do Brasil no Ideb anos iniciais do fundamental, 9,7.

O diretor Fábio Pilar acrescenta um fator ao falar sobre a integração que levou aos bons resultados: os pais de alunos. "O resultado é fruto de uma ação conjunta, entre escola, município e estado. Desenvolvemos ações, projetos e intervenções sempre focando na conquista dos alunos, pais e toda equipe escolar", defende.

O município de Jequiá ficou em terceiro lugar no Estado com a nota referente aos anos iniciais, 8,1, e em primeiro, empatado com Coruripe, nos anos finais, com 7,2.

Ensino médio não acompanha números do fundamental em Alagoas

Para a presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal), Consuelo Correia, o Programa Escola 10 colaborou com o bom desempenho do Estado no Ideb, em relação ao ensino fundamental, mas ela vê com preocupação os números do ensino médio, onde a meta não foi atingida.

Correia também afirma que é preciso compreender melhor quais os critérios de avaliação do Ideb, que, segundo defende, não deve ser um exame linear para todo o País, quando as diferenças regionais são grandes.

"O que significa a avaliação em larga escala, o que ela demonstra? Deve-se avaliar de forma desigual os desiguais. Não posso ter uma avaliação de Norte a Sul do Brasil com a mesma proposta; de crianças e adolescentes do Rio Grande do Sul igual à de Alagoas, que tem o maior índice de analfabetos do País", defende.

Rede pública se reinventa para driblar obstáculo do isolamento durante a pandemia

Se obter bons desempenhos na educação pública é difícil em tempos normais, com a pandemia do novo coronavírus os obstáculos só aumentam. O isolamento deixou milhares de alunos das redes estadual e municipais sem ter como frequentar a escola e, sem acesso à internet, muitos deles estariam impossibilitados de assistir a aulas on-line.

Por isso, a secretaria de educação precisou "reinventar" as aulas em tempos de quarentena. Em vez de transmissões on-line ou pela TV de assuntos relacionados à química, biologia, matemática, foram desenvolvidos projetos para envolver os estudantes.

Foram criados laboratórios de aprendizagem, com métodos mais flexíveis e viáveis ao aluno da rede pública. Os professores atuam em áreas como comunicação e atividades lúdicas, que abrangem de forma integrada as disciplinas exigidas.

"Temos trabalhado mais a formação para implantar o ensino híbrido, é o nosso maior desafio. Nunca tivemos essa experiência. Nosso modelo não é exclusivamente através de tecnologia digital, assim atendemos mesmo o aluno que não tem acesso à internet", explica a secretária de educação.

O Estado, por meio de um monitoramento, estima que na rede estadual foi possível manter entre 70% e 80% dos estudantes realizando as atividades passadas pelas escolas durante a pandemia.

Estadão
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