PUBLICIDADE

Coronavírus

Fotógrafo desvela as imagens da pandemia nas favelas do Rio

Criado no Complexo do Alemão, Bruno Itan tem carta livre para registrar o dia a dia das comunidades sob isolamento social

9 jun 2020 - 15h47
Compartilhar
Exibir comentários

A história das últimas décadas do Rio mostra a ascensão do poder paralelo nas comunidades do Estado, territórios dominados por grupos paramilitares. Circular livremente por esses locais é quase impossível. Mas a regra não vale para Bruno Itan, 32 anos – nascido no Recife, de onde se mudou para o Complexo do Alemão ainda criança. Fotógrafo profissional, cortejado pela imprensa internacional, ele tem um currículo extenso de belas imagens, as últimas delas voltadas para situações que representam a pandemia da covid-19 nas favelas cariocas.

Duas crianças seguem à risca a quarentena imposta pela covid-19 no Complexo do Alemão
Duas crianças seguem à risca a quarentena imposta pela covid-19 no Complexo do Alemão
Foto: Divulgação/Bruno Itan/Olhar Complexo

Bruno criou há alguns anos o projeto ‘Olhar Complexo”, a partir do qual já ensinou noções básicas do ofício de fotografar a mais de 90 crianças de comunidades. Suas aulas foram interrompidas com a chegada do coronavírus e ele, desde então, passou a registrar como as pessoas que vivem em favelas lidam com o dia a dia de isolamento social.

São fotos que dizem respeito a ‘n’ situações. Como o da família que esticou uma corda em frente ao seu casebre, no Complexo do Alemão, para impedir que parentes e vizinhos se aproximassem, estabelecendo assim uma distância mínima no contato com outras pessoas.

Há outras que exibem o agrupamento de pré-adolescentes, todos sem máscara, numa das vielas da mesma comunidade, imagens de crianças na janela de casa, de adultos com a peça cobrindo apenas o queixo, etc.

Família impõe distância mínima esticando uma corda em frente de casa numa favela do Rio
Família impõe distância mínima esticando uma corda em frente de casa numa favela do Rio
Foto: Divulgação/Bruno Itan/Olhar Complexo

Difícil, no atual contexto, que alguém com autonomia para andar pelas favelas do Rio não flagre situações extremas de violência. A morte de 13 pessoas no Alemão, em 16 de maio, durante operação conjunta das Polícias Militar e Civil, teve repercussão no mundo todo graças a fotos de Bruno Itan – o The Guardian, da Inglaterra, por exemplo, publicou uma página inteira sobre a tragédia, ilustrando a matéria com uma foto dele.

“Foi a chacina da pandemia e as imagens que fiz mostram todos de máscaras.”

O fotógrafo trabalha atualmente numa empresa americana que atua no mercado financeiro e tem escritório no Rio, a NCH Capital, da qual cuida das redes sociais e das artes. Recebe de seus empregadores apoio para diversos projetos em favelas. Não é à toa que ele tem sido procurado por líderes comunitários e representantes de organizações não governamentais para emprestar seu talento em localidades diferentes do Estado, como Cidade de Deus, Jacarezinho, Complexo da Penha, Para Pedro (no bairro do Colégio), Morro do Sapo (no município de Duque Caxias).

Exerce mais do que fotojornalismo nessas situações. Depois das visitas e de conhecer os projetos para os quais é convidado, divulga as fotos dos encontros em redes sociais, quase sempre pedindo auxílio emergencial a determinados grupos mais vulneráveis desde o início da pandemia.

Fotógrafo fez imagens que correram o mundo de operação policial que resultou em 13 mortes no Alemão, em maio
Fotógrafo fez imagens que correram o mundo de operação policial que resultou em 13 mortes no Alemão, em maio
Foto: Divulgação/Bruno Itan/Olhar Complexo

“Tem muita gente que vê as minhas fotos e mensagens e se oferece para ajudar, fazer doações. A realidade nas favelas não é só a da falta de alimentos. Muitos pedem remédios, outros tantos não têm fogão nem geladeira.

O salto de Bruno Itan no mundo da fotografia se deu em 2011, quando exibia sua primeira exposição, concomitante à inauguração do teleférico do Alemão, hoje desativado. A presidente Dilma Rousseff estava no evento e notou que havia um pequeno grupo num dos cantos daquela estação. Foi checar o que era e se deparou com painéis de fotos temáticas de Itan, sobre a vida nas favelas. Ficou impressionada e, após as apresentações, disse que queria levá-lo para trabalhar no Palácio do Planalto.

Mas Bruno Itan ficou mesmo no Rio. Contratado em seguida pelo governo do Estado, esteve a serviço do Palácio Guanabara até 2016.

Fonte: Silvio Alves Barsetti
Compartilhar
Publicidade
Publicidade