PUBLICIDADE

Poluição ameaça único espaço aberto para lazer em Gaza: a praia

31 mai 2017 - 09h59
Compartilhar
Exibir comentários

Saud Abu Ramadan.

Gaza, 31 mai (EFE). - Em meio a uma crise elétrica inédita, os moradores de Gaza estão ficando sem a possibilidade de aproveitar o mar azul e o ar puro das praias, o destino mais procurado durante o verão na região, por conta do esgoto que tem sido jogado nas águas.

O mau cheiro sentido em várias partes do litoral se deve ao fato de as águas residuais não estarem sendo tratadas antes de chegar ao Mar Mediterrâneo, porque a usina de tratamento depende de eletricidade, que sofre com cortes de até 12 horas seguidas por dia.

Gaza tem um litoral com cerca de 40 quilômetros de extensão - quase a mesma distância da travessia do Leme ao Pontal, no Rio de Janeiro - e nove grandes ligações que bombeiam diariamente 110 mil litros de esgoto no mar.

Especialistas alertam que o bombeamento dessa quantidade de água suja sem tratamento pode contaminar muito o mar e impede a população da Faixa de aproveitar a praia.

"Todas as praias estão ficando impróprias. São pântanos contaminados por água sem tratamento", disse à Agência Efe Khaled Abu Ghali, engenheiro ambiental em Gaza.

Segundo ele, a principal razão desta poluição é a má qualidade do processo de tratamento provocada pela crise elétrica, já que as estações estão jogando os desejos in natura no mar. Algumas prefeituras são, inclusive, obrigadas a canalizar a água suja diretamente para o Mediterrâneo, mesmo antes de chegar à usina de tratamento.

Ghali afirmou que a causa direta para essa situação é o corte de energia por 20 horas por dia que esse território palestino - governado pelo movimento islamita Hamas - sofre e que teve efeitos devastadores para o meio ambiente e os serviços de saúde.

Desde o início de abril a única central elétrica de Gaza está parada por falta de combustível devido ao bloqueio israelense e, principalmente, por causa dos desacordos entre o Hamas e o nacionalista Al Fatah, que governa na Cisjordânia e se negou a continuar pagando as contas de energia da região enquanto os islamitas mantiverem o controle.

O primeiro-ministro palestino, Rami Hamdallah, responsabiliza o Hamas pela crise, que, por sua vez, acusa à Autoridade Nacional a Palestina (ANP).

A Faixa de Gaza precisa de 500 megawatts por dia, mas a quantidade disponível ronda os 210 megawatts, dos quais 120 são fornecidos por Israel, 30 pelo Egito e o restante pela usina agora desligada.

Desde o início da crise, os dois milhões de habitantes de Gaza tiveram acesso apenas a cerca de 150 megawatts por dia, e desde 2006 a usina se encontra em situação de emergência.

Em condições normais, Gaza funcionava em ciclos de oito horas de eletricidade por dia, mas com a usina fora de serviço agora são ciclos de seis horas ou menos. Atualmente, existem dias em que a população tem somente três horas de eletricidade por dia, principalmente quando há problemas nas linhas elétricas que vêm do Egito.

A crise de contaminação do mar fez com que a Corporação da Água e Água Residual em Gaza planeje fechar as praias e proibir o banho nelas durante todo o verão, explicou à Efe o diretor da entidade, Monzer Shablak. De acordo com ele, o processo de limpeza residual não pode ser feito apenas em quatro ou seis horas de eletricidade por dia.

"Em muitas partes de Gaza não é possível entrar no mar porque as águas residuais ameaçam idosos e crianças, a população mais vulnerável a doenças e vírus. Estamos falando de uma água absolutamente contaminada, cheia de matérias biológicas e químicas, e por isso 50% da costa de Gaza deve ter o acesso proibido", afirmou.

O especialista em meio ambiente, Abed Al Fatah, lembrou que o "bombeamento diário de grandes quantidades de água sem tratamento no mar ameaça diretamente a vida das pessoas e a indústria pesqueira".

Caso a situação não mude, a já sofrida população de Gaza ficará neste verão também sem o seu principal espaço de lazer.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade