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Entidades citadas em relatório do Ministério do Meio Ambiente à COP-26 negam ter sido ouvidas

Sabesp, WWF-Brasil e ICV afirmam que não tiveram qualquer conversa com a pasta; em outros casos, são citadas individualmente empresas cujas associações representativas é que fizeram colaborações

22 out 2021 - 17h04
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BRASÍLIA - O ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, passou as últimas semanas dizendo que a proposta que o Brasil vai levar à Conferência das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas (COP-26) é resultado de um amplo debate e diálogo feito com mais de 200 empresas e instituições civis e públicas. Conforme apurou a reportagem, porém, diversos dos 219 citados negam oficialmente ter participado de qualquer conversa com o governo Bolsonaro sobre a COP, evento que será realizado em Glasgow, na Escócia, entre 31 de outubro e 12 de novembro.

A lista das 219 instituições e empresas apontadas pelo Meio Ambiente como colaboradoras da proposta brasileira sobre as mudanças climáticas foi obtida pela organização Política Por Inteiro, por meio da Lei de Acesso à Informação. O Estadão teve acesso à lista - que pode ser conferida na íntegra abaixo - e entrou em contato com algumas das empresas e instituições mencionadas, para saber que tipo de colaboração havia sido dada, e quando. Foi quando começaram a aparecer negações sobre os encontros.

A Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), por exemplo, foi taxativa em declarar que não participou de nenhuma consulta, depois de fazer um levantamento em todas as suas áreas que poderiam ter lidado com o assunto. "A Sabesp informa que não colaborou com o governo federal em questões relacionadas à COP-26", declarou.

A organização ambiental WWF-Brasil, uma das mais atuantes na área, também negou qualquer tipo de contato com o governo para tratar do assunto. "Foi com surpresa que tomei conhecimento que o WWF-Brasil foi incluído entre as organizações ouvidas pelo governo federal ao longo deste ano para construir o posicionamento oficial do Brasil na Cúpula do Clima. Não participamos de nenhuma conversa com o governo brasileiro sobre a COP-26", disse Maurício Voivodic, diretor executivo da WWF-Brasil.

A ONG lembra ainda a péssima relação que o governo Bolsonaro fez questão de estabelecer com as instituições do setor desde o início do mandato. Ele chamou organizações ambientais de "câncer" a ser eliminado. Ricardo Salles alimentou, durante toda a sua gestão no MMA, uma relação de confronto com essas instituições do terceiro setor. "Vale lembrar que, desde 2019, o atual governo federal tem restringido a participação da sociedade civil em órgãos de governança e processos de consulta", comentou Voivodic.

Outra instituição que negou conversas com o ministério, mas que figura na lista de seus colaboradores climáticos, é o Instituto Centro de Vida (ICV), que atua há 30 anos na área ambiental no Mato Grosso. "O ICV não participou de nenhuma reunião com o MMA ou qualquer outro setor do governo federal em que o tema da COP-26 tenha sido colocado em pauta", informou.

DUPLICIDADES

A reportagem questionou o Ministério do Meio Ambiente sobre as negativas, mas não obteve resposta. O MMA também não explicou diversas duplicações verificadas no material. São listados nomes de associações que representam setores empresariais, mas, paralelamente, a pasta também faz menção às empresas dessas instituições, como se tivessem participado individualmente.

É o caso, por exemplo, do Grupo Notre Dame Intermédica, que aparece como colaborador na lista do MMA, mas que é apenas um dos membros do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que também está na relação. "A empresa apoia e endossa as iniciativas em prol do meio ambiente promovidas pelo CEBDS, mas não participou diretamente das tratativas com o governo", declarou o grupo.

Trata-se do mesmo caso da Danone, que se limitou a participar por meio da associação Viva Lácteos, e não de forma individual. A história é igual na Natura, que tem atuado sobre o assunto, mas por meio de entidades setoriais, como o CEBDS e a Câmara de Comércio Internacional (ICC). A mesma situação foi mencionada pela Dow Brasil, que afirmou não ter feito nenhum contato direto com o MMA ou qualquer órgão do governo federal. Sua participação, quando ocorre, se dá via CBDES ou Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim).

Na resposta que o MMA encaminhou à organização Política Por Inteiro, que obteve a lista, o MMA declarou que "as reuniões foram realizadas ao longo de 2021, em sua maioria de modo virtual, entre o Ministério do Meio Ambiente e as entidades relacionadas". Segundo a pasta, "a realização das reuniões teve como objetivo obter subsídios para a construção da posição do Brasil na COP-26", mas "não existe atas das referidas reuniões".

Entre os 219 nomes mencionados, que incluem diversos ministérios do governo, há citações como a de uma instituição "Boy Control". O MMA não informou o que é essa instituição ou o que faz.

No dia 7 de outubro, em encontro com parlamentares da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) e da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o ministro Joaquim Leite disse que vai defender os interesses nacionais nas negociações climáticas. "Posicionar claramente o Brasil como um país que está no acordo do clima, que tem uma meta ambiciosa de 43% nas reduções de gases de efeito estufa até 2030", afirmou.

O ministro também elogiou a ampla consulta que a pasta fez "para construir o posicionamento oficial do Brasil na Cúpula do Clima", com contribuições de diversos setores. "É importante que esse posicionamento venha de toda a sociedade, pois o tema afetará a todos nós." A COP-26 reunirá 196 países signatários do Acordo de Paris, firmado em 2015 para tentar contar o aquecimento global.

Veja abaixo a lista dos 219 nomes citados pelo MMA:

3TENTOS

ABA

ABAG

ABC

ABCS

ABCZ

ABDIB

ABETRE

ABIA

ABIEC

ABIFUMO

ABIMAQ

ABIOGÁS

ABIOVE

ABIPESCA

ABIPLAST

ABIQUIM

ABIR

ABIVIDRO

ABPA

ABPM

ABRAFATI

ABRAFRIGO

ABRAFRUTAS

ABRALATAS

ABRALEITE

ABRAMILHO

ABRAPA

ABRELPE

ABSOLAR

AÇO BRASIL

ACRIMAT

AEROM

AES BRASIL

AGREGGO

AGROICONE

AGROMAIS

ALGAR TELECOM

ALPARGATAS

AMBEV

APEX

APROBIO

ARCELLOR MITTAL

ARTERIS SA

ATVOS AGROINDUSTRIAL

BANCO DO BRASIL

BASF

BAYER

BENG

BMA

BNDES

BNP

BOY CONTROL

BRASKELL

BRASKEM

BRF

BSBIOS

CARBONEXT

CBIC

CEBDS

CECAFÉ

CELEO BRASIL

CEMIG

CHATACK FAIWICHOW & FARIA ADVOGADOS/ INFINEAT

CI

CITRUS BR

CLIMATE CHAMPIONS

CLIMATE CONNECTION

CNA

CNC

CNI

CNSEG

CNT

COMBIOENERGIA S.A.

CONAMA

COPLIFE BRASIL

CORTEVA

CSEI

CSP

DANONE

DELOITTE CONSULTORIA

DELTA

DOW CHEMICAL

DPA

EARTH INNOVATION INSTITUTE

ECOFIX

ECOPORÉ

ECOSECURITIES

EDP BRASIL

EMBRAER

ENEL BRA

ENERGIA S.A

ENERGISA

EQAO

ERM

ESG

EVONIK

FAESP

FAZ

FBMC

FEARP

FECOMERCIO SP

FETAG

FGV

FIEMG

FIESP

FMASE

FULL STACK

FUNBIO

GIZ

GREEN DOMUS

GRUPO BOTICÁRIO

GRUPO NOTRE DAME INTERMÉDICA

GRUPO O BOTICÁRIO

HEINEKEN

IBÁ

IBAMA MG

IBC

IBGC

IBITU ENERGIA

IBP

IBRAM

ICC

ICONE

ICS

ICV

IDH TRADE

IF SP

IIS

INSPRO - INSTITUTO PROSPECTIVA

IPA

IRELGOV

JACTO

JBS

JSL

KANINDÉ

KERRY

LAFARGEHOLCIM

LIVRE MERCADO

LOCALIZA RENT A CAR S.A.

MAPA

MCTIC

MDR

ME

METALFIX

MINERVA FOODS

MINFRA

MME

MRE

NATURA

NEHME

NEOENERGIA

NESTLÉ

NOVO NEGÓCIOS

NUFARM

OBME

OCB

OPUS

ORPLANA

PACTO GLOBAL

PATRIA

PERMIAN BRASIL

PET NUTRITION

PETROBRAS DISTRIBUIDORA SA

PINHEIRO NETO

PIRACANJUBA

PLASTIVIDA

PMP

PNUD

PORTOBELLO

PREFEITURA DE CANOAS

PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO

QUIROGA ADVOGADOS

RABO BANK

RAÍZEN

REDE AMAZÔNICA

REDE BRASIL DO PACTO GLOBAL

REDE D'OR SÃO LUIZ

RIO TERRA

RSM

RUSSELBEDFOR

S&C AMBIENTAL

SABESP

SANETEL

SAVE CERRADO

SBC

SCHNEIDER ELECTRIC

SEMA

SEMA ACRE

SENAI

SENAR

SHELL

SICRED

SINAI

SINDICERV

SINDIFOR

SINDIVEG

SOCIALCARBON

SRB

SUMITOMO CHEMICAL

SUMITOMO CORPORATION

SUZANO

SYSTEMICA

TAESA

TFA

TNC

TOYOTA

TRENCH ROSI WATANABE

UFMG

ÚNICA

UNIF SP

USIMINAS

VALE

VIVA LACTEOS

WASTE EXPO BRASIL

WAYCARBON

WRI

WWF

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