É enganoso que o BNDES tenha financiado o filme 'Ainda Estou Aqui'
POSTAGEM COMENTA RECURSOS QUE SERÃO REPASSADOS DO BANCO PÚBLICO À COPRODUTORA, MAS OMITE QUE CONTRATO FOI APROVADO APÓS LANÇAMENTO DO LONGA
O que estão compartilhando: vídeo em que mulher comenta que o diretor Walter Salles é bilionário e, mesmo assim, teria captado R$ 32 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a "sua produtora", que fez o filme Ainda Estou Aqui.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. O BNDES aprovou, nesta segunda-feira, 10, o financiamento de R$ 32 milhões para apoiar a produtora Conspiração. Ao contrário do que alega a postagem, a empresa não pertence ao diretor Walter Salles. Os recursos não foram destinados à produção do filme Ainda Estou Aqui.
Leitores solicitaram checagem deste conteúdo por meio do WhatsApp do Verifica, pelo número (11) 97683-7490.
Saiba mais: um vídeo publicado nas redes sociais distorce a notícia de que o BNDES aprovou R$ 32 milhões para a coprodutora do filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional. "O dono dessa produtora, o Walter Salles, tem uma fortuna estimada em R$ 26 bilhões. E por que diabos que ele foi pegar esses R$ 32 milhões para a produtora dele?", questiona.
A postagem descontextualiza a informação para desinformar sobre o apoio do BNDES, o financiamento do longa-metragem e o diretor Walter Salles. Veja abaixo a checagem de todas as alegações.
Apoio do BNDES à Conspiração foi aprovado após lançamento do filme
O BNDES aprovou um financiamento de R$ 32 milhões para a produtora Conspiração, que atuou na coprodução de Ainda Estou Aqui. Como mostrou os recursos serão destinados ao desenvolvimento, produção, comercialização e internacionalização de obras audiovisuais, além de investimentos em infraestrutura.
A postagem omite que o financiamento do BNDES à Conspiração foi aprovado em 10 de março deste ano - ou seja, tempos depois da produção e do lançamento de Ainda Estou Aqui. Portanto, ao contrário do que sugere a publicação, a obra não foi feita com recursos do banco.
O BNDES afirmou que o financiamento ocorre em um contexto de retomada do apoio do banco ao setor audiovisual. A Conspiração é responsável por filmes como O Auto da Compadecida 2, Vai Que Cola e Dois Filhos de Francisco, entre outros.
Produtora financiada não pertence a Walter Salles
Apesar de atuar na coprodução do filme Ainda Estou Aqui, a Conspiração não pertence a Walter Salles, ao contrário do que alega a postagem. A informação foi negada pela assessoria de imprensa do diretor.
O Estadão Verifica constatou que ele não aparece no quadro societário da empresa (consulte aqui) e nem entre os diretores (consulte aqui). Entre estes, estão Andrucha Waddington e Claudio Torres, o marido e o irmão da atriz Fernanda Torres, respectivamente.
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'Ainda Estou Aqui' foi financiado com recursos próprios
Ao descontextualizar a notícia, a postagem sugere que a obra vencedora do Oscar foi produzida com recursos públicos. Isso é falso, como já mostrou o Verifica em uma checagem anterior.
A VideoFilmes, produtora majoritária da obra que tem Walter Salles como sócio, adotou um regime de coprodução internacional com a França (confira a ficha técnica aqui). A parceria envolve empresas como a brasileira Globoplay e as francesas Arte-Cinema e Mact Productions.
"A VideoFilmes não recebeu nenhum recurso do BNDES e o diretor Walter Salles não é sócio da Conspiração. O filme Ainda Estou Aqui não recebeu nenhum recurso público brasileiro", informou a assessoria de Salles ao Verifica, em nota.
Postagem tira de contexto declaração de Salles sobre Bolsonaro
A publicação checada também desinforma ao relacionar a notícia do financiamento do BNDES a uma declaração de Walter Salles. O diretor disse que não teria conseguido lançar Ainda Estou Aqui durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. "Por isso que eles disseram que não seria possível esse filme, que ganhou o Oscar, se Bolsonaro fosse presidente", alega o conteúdo.
De fato, em entrevista à CNN, Salles disse que a gravação de Ainda Estou Aqui não seria possível sob Bolsonaro. No entanto, ele não se referia a questões de financiamento, e sim ao momento político do País.
"O filme levou sete anos porque durante quatro anos, o País virou para a extrema-direita e nunca teríamos tido a possibilidade de filmar durante esse período. Portanto, o filme é produto do retorno da democracia no Brasil", falou.
