EUA pressionam bancos brasileiros após sanções a Moraes com base na Lei Magnitsky
Segundo fontes diplomáticas e jurídicas, não há um roteiro fixo sobre o que pode acontecer após o envio das cartas. O futuro das medidas dependerá do conteúdo das respostas fornecidas pelos bancos brasileiros e da análise do governo Trump.
O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos iniciou uma nova fase de pressão internacional ao enviar cartas a bancos brasileiros solicitando informações sobre o cumprimento da Lei Magnitsky, mecanismo jurídico que permite aplicar sanções a indivíduos acusados de corrupção ou violações graves de direitos humanos em todo o mundo.
O alvo principal desta etapa é o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que foi formalmente sancionado pelo governo americano no dia 30 de julho de 2025. De acordo com Washington, qualquer instituição financeira que ofereça "suporte material" ao magistrado pode ser penalizada com multas, bloqueios de ativos e ações judiciais nos EUA.
A Lei Magnitsky já foi utilizada contra diversos alvos internacionais, mas seu uso contra um alto membro do Judiciário brasileiro elevou as tensões diplomáticas e gerou incerteza no sistema bancário nacional.
O que significa "suporte material"?
Nas cartas enviadas aos bancos, o Departamento do Tesouro não detalha precisamente o que configura "suporte material". No entanto, o termo pode incluir manter contas bancárias, fornecer cartões de crédito ou facilitar transações financeiras para o sancionado.
"As proibições incluem a realização de qualquer contribuição ou fornecimento de fundos, bens ou serviços por, para ou em benefício de qualquer pessoa designada ou bloqueada", afirma o documento enviado pelo Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), braço do Tesouro responsável por implementar sanções.
As instituições que violarem essas diretrizes podem se expor a penalidades severas, incluindo a perda de acesso ao sistema financeiro dos EUA — um risco considerado extremo para qualquer banco com operações internacionais.
Cartas não têm valor legal, mas servem como alerta
Embora as cartas a bancos brasileiros não tenham valor jurídico formal, elas representam um sinal claro da seriedade com que os EUA estão tratando a aplicação da Lei Magnitsky.
Esse tipo de notificação é uma prática comum do Departamento do Tesouro, especialmente em países onde a legislação Magnitsky ainda não é amplamente conhecida ou aplicada. No caso do Brasil, a medida também cumpre a função de educar os bancos sobre os riscos legais e financeiros de manter vínculos com pessoas sancionadas.
"Essas cartas têm como objetivo preparar o terreno. Dependendo das respostas recebidas, o governo dos EUA pode decidir escalar ou não as ações punitivas", explica um especialista em direito internacional ouvido sob condição de anonimato.
Quais são os próximos passos?
Segundo fontes diplomáticas e jurídicas, não há um roteiro fixo sobre o que pode acontecer após o envio das cartas. O futuro das medidas dependerá do conteúdo das respostas fornecidas pelos bancos brasileiros e da análise do governo Trump.
Especialistas avaliam que os próximos passos poderão incluir investigações, congelamento de ativos e até proibição de transações com entidades financeiras brasileiras, caso o Tesouro entenda que houve violação das sanções.
"Instituições financeiras que facilitarem qualquer operação que envolva Alexandre de Moraes podem ser enquadradas como cúmplices de lavagem de dinheiro ou financiamento de corrupção", disse uma fonte ligada ao OFAC.
O que é a Lei Magnitsky?
Criada inicialmente em 2012 para punir agentes russos envolvidos na morte do advogado Sergei Magnitsky, a legislação foi expandida em 2016 com alcance global. Hoje, a Lei Magnitsky Global permite aos EUA congelar bens, restringir vistos e punir financeiramente qualquer pessoa envolvida em corrupção ou violação dos direitos humanos — independentemente da nacionalidade.
A aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes é inédita na América Latina e marca um momento de tensão institucional sem precedentes entre Washington e Brasília, especialmente considerando o alto posto ocupado pelo ministro no Judiciário.