Lula e Bolsonaro: apoios falam mais dos apoiadores do que dos candidatos
Mais que render votos, de fato, aos dois candidatos, esses posicionamentos todos servem para que o eleitor conheça melhor o mundo político
Com cinco milhões de votos no primeiro turno, Simone Tebet (MDB) era cortejada por petistas e bolsonaristas. Nesta tarde, em almoço na casa da ex-neopetista Marta Suplicy, Simone fechou acordo com Lula (PT). É um resultado esperado, que joga um pouco de equilíbrio no noticiário de ontem, carregado de apoios (também esperados) a Jair Bolsonaro (PL) e de um “vou-mas-não-vou” de Ciro Gomes (PDT) para Lula.
- Veja quem declarou apoio a quem aqui.
Lula quer usar hoje a imagem de diversos governadores e senadores a seu lado para desfazer a impressão de ontem de que ficou para trás na corrida por apoios. Bolsonaro abraçou três governadores da região Sudeste, que pode ser o algoz do sonho petista de retomar o governo.
Mas, além de serem apoios esperados, não significam migração de votos para o candidato. Afoito, Rodrigo Garcia, mesmo humilhado por Tarcísio de Freitas, que desdenhou de sua presença no palanque de segundo turno, declarou voto em Bolsonaro. Quem conhece a trajetória do tucano de última hora não se espantou. Criado no antigo DEM, Rodrigo está muito longe da propaganda em que dizia ser “um pouco de esquerda e um pouco de direita”. É todo de direita.
E sua afobação para abraçar o bolsonarismo rendeu mais uma crise no combalido PSDB. Houve reação. Com fotos que mostram sua relação histórica com Lula na democracia, FHC declarou voto no petista. O mesmo fizeram José Serra, José Aníbal, Tasso Jereissati, Pimenta da Veiga, os tucanos históricos, chamados de cabeças brancas.
Por outro lado, se Simone compõe com Lula ao lado de emedebistas como o governador reeleito com o maior índice de votos do país, Helder Barbalho, do Pará, o ex-presidente Michel Temer articula seu apoio a Bolsonaro. Não é de estranhar, uma vez que Temer já havia atuado como bombeiro nas crises do presidente com o Congresso Nacional e com o Supremo Tribunal Federal.
Mais que render votos, de fato, aos dois candidatos, esses posicionamentos todos servem para que o eleitor conheça melhor o mundo político e seus atores. Pode ver, por exemplo, a jornada do deputado-ator Alexandre Frota. Um dos mais ferrenhos influenciadores antipetistas, Frota se elegeu com o bolsonarismo, assim como ajudou a elegê-lo. Nos últimos quatro anos, foi mudando de posição. Na Câmara, passou a apresentar projetos sensíveis aos estudantes e famílias mais pobres. Ontem, desligou-se do PSDB por discordar de Garcia e da decisão da legenda de liberar seus filiados no segundo turno. Mesma decisão tomada pelo MDB e pelo PSD, de Gilberto Kassab. Partidos, aliás, que perderam muito espaço no Congresso este ano.
É importante lembrar que, em São Paulo, Rio e Minas, Bolsonaro já colheu no primeiro turno os votos que devem voltar a endossá-lo no segundo. O mesmo com Lula e os governadores do Norte e Nordeste. Logo, toda a movimentação de ontem em torno de Bolsonaro rende votos mesmo é para Tarcísio de Freitas, no único dos três estados que disputa o segundo turno. No mais, esses apoios, mais do que votos, sinalizam como a votação expressiva de Bolsonaro o colocou de volta ao jogo no segundo turno.
Em tempo: aparentemente, Michel Temer voltou atrás e não apoiará Bolsonaro. Vai ficar neutro. Segundo o governador Helder Barbalho, do Pará, ele disse estar acima dessa disputa.