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Tatiana Farah

PGR tentou livrar Bolsonaro do caso da falsa carteirinha de vacinação

A Procuradoria-Geral da República jogou a culpa no "mordomo", o ajudante de ordens Mauro Cid, que foi preso.

3 mai 2023 - 16h50
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A história política brasileira está recheada de momentos em que líderes nacionais lançaram mão do "eu não sabia de nada" para se afastar de escândalos e esquemas ditos criminosos. Quem nunca? No caso do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) essa defesa é feita exatamente pelo órgão que deveria investigá-lo, a Procuradoria-Geral da República (PGR). 

Não é novidade que, durante todo o mandando do ex-capitão, a PGR lhe foi de extrema simpatia. Agora, no caso da fraude da carteirinha de vacinação, a solução encontrada pela Pocuradoria foi usar outro meme, um imortalizado pelas histórias de suspense: culpar o "mordomo".

Foto:

De acordo com a decisão assinada e divulgada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), diferentemente da Polícia Federal, a PGR foi contra o mandado de busca e apreensão na casa da família Bolsonaro. Os dados falsos de vacinação foram inseridos, segundo a PF, para que Bolsonaro, seus assessores e até sua filha de 12 anos pudessem driblar as regras sanitárias do Brasil e dos Estados Unidos. 

Bolsonaro impôs sigilo à carteirinha de vacinação e só nesta quarta-feira (3 de maio) foi claro em dizer que nunca se vacinou contra a Covid. Ele fez furiosa campanha contra a vacinação, divulgou notícias falsas sobre as vacinas, atrasou a compra dos imunizantes da Pfizer. Defensor da "liberdade" individual dos cidadãos que não quisessem se vacinar, o ex-presidente não se submeteu às sanções sanitárias a que todos os seus partidários foram submetidos, fosse para entrar no cinema, fosse para entrar nos Estados Unidos.

O aplicativo ConectSUS é de fácil manuseio e de acesso livre. Qualquer pessoa com um celular pode acessar os próprios dados. Ainda assim, Bolsonaro, tão interneteiro, "não sabia de nada".  Ou seja, o astuto ex-presidente nada sabia da trama urdida por seus auxiliares para promover uma fraude que o beneficiaria diretamente.

É difícil de acreditar. Mas a PGR não viu nada de errado. Para ela, “os elementos de informação incorporados aos autos não servem como indícios minimamente consistentes para vincular o ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro e a sua esposa, Michelle de Paula Firmo Reinaldo Bolsonaro, aos supostos fatos ilícitos descritos na representação da Polícia Federal, quer como coautores quer como partícipes.” 

Para a PGR, a culpa é do "mordomo", o coronel Mauro Cid, agora preso. "No atual estágio da investigação criminal, entretanto, não se demonstra crível a afirmação da Procuradoria-Geral da República de que “Mauro Cesar Barbosa Cid teria arquitetado e capitaneado toda a ação criminosa, à revelia, sem o conhecimento e sem a anuência do ex-presidente da República”, respondeu Alexandre de Moraes na decisão divulgada hoje.

"Não há qualquer indicação nos autos que conceda credibilidade à versão de que o ajudante de ordens do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro pudesse ter comandado relevante operação criminosa, destinada diretamente ao então mandatário e sua filha L. F. B., sem, no mínimo, conhecimento e aquiescência daquele, circunstância que somente poderá ser apurada mediante a realização da medida de busca e apreensão requerida pela autoridade policial", completou Moraes.

É o que está nos autos. O choro é livre, mas as explicações de Bolsonaro e uma investigação apurada são necessárias.

Fonte: Tatiana Farah Tatiana Farah é jornalista de política há mais de 20 anos. É repórter da Agência Brasília Alta Frequência. Foi gerente de comunicação da Abraji, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo. Repórter do BuzzFeed News no Brasil de 2016 a 2020.  Responsável por levar os segredos do Wikileaks para O Globo, onde trabalhou por 11 anos. Passou pela Veja, Folha de S. Paulo e outras redações, além de assessorias de imprensa. As opiniões da colunista não representam a visão do Terra. 
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