Panelaço antiLula flopa, mas Bolsonaro vive dia de campanha em Ribeirão Preto
Agronegócio faz uma "quartelada caipira" e vai desfilar com o bolsonarismo neste 1º de Maio.
Animados pela recepção festiva ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em Ribeirão Preto (SP), os bolsonaristas anunciaram um panelaço para a noite deste domingo, durante o primeiro discurso de Lula na TV desde que tomou posse, em 1º de janeiro. O protesto "flopou". Mesmo nos bairros mais nobres de Ribeirão Preto, que abrigará a maior feira do agronegócio do Brasil esta semana, houve um grande silêncio.
Enquanto isso, Lula na TV tocou bumbo para o aumento de R$ 18 no mínimo (para R$ 1.320) e afirmou que vai enviar ao Congresso Nacional um projeto de lei que garanta reajustes acima da inflação. "É um aumento pequeno, mas real, depois de seis anos", admitiu o presidente. Outro anúncio do petista foi sobre a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 2.640. Nos últimos 9 anos, a faixa se limitou a salários até R$ 1.903.
É com esse discurso que o presidente chega neste 1º de Maio ao evento organizado pelas centrais sindicais em São Paulo. Enquanto isso, Bolsonaro vai reinar absoluto no Agrishow, embora a organização do evento tenha cancelado a cerimônia oficial depois da deselegância de desconvidar o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, para o palanque que estava destinado ao ex-presidente.
O desconvite gerou tamanho mal estar que o Banco do Brasil chegou a ameaçar com um "despatrocínio" do encontro dos ruralistas. Fávaro, que anunciaria um pacote de bondades para o agronegócio, decidiu tratar do assunto apenas com a bancada ruralista durante a semana.
Escolher Bolsonaro para brilhar na Agrishow empurra os ruralistas para mais longe (se é que é possível) do governo num momento em que o país tem revisto os atos golpistas do 8 de janeiro e as ações polêmicas da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e dos empresários do agronegócio para minar a votação de Lula no ano passado.
O petista sempre usou o discurso "nós contra eles", em que tenta demarcar os interesses dos trabalhadores em relação ao dos patrões. É um discurso que foi condenado pela classe média, representada até poucos anos atrás pelo PSDB.
Desta vez, o "nós contra eles" se impôs sem que o presidente quisesse. Se nesta segunda-feira Lula se junta aos sindicalistas, na outra ponta da economia Bolsonaro revive os tempos de campanha eleitoral entre os patrões do agronegócio.
Depois de homologar a demarcação de seis Terras Indígenas esta semana e de não condenar com veemência as ocupações do MST, Lula enfrenta ainda mais a ira dos proprietários de terra. Quem ganha é Bolsonaro, que teve seu primeiro bom momento desde a derrota em tarde de abraços e aplausos em Ribeirão Preto.
Falta saber se o agronegócio e o Brasil ganham alguma coisa com essa "quartelada caipira".