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Polícia

Mizael se diz inocente e alega ser vítima da polícia: 'queriam um culpado'

Em depoimento de mais de duas horas, réu acusa delegado Antonio de Olim de querer se promover às suas custas

13 mar 2013 - 20h19
(atualizado às 20h29)
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Acusado da morte da ex-namorada Mércia, Mizael entrou pelos fundos no Fórum de Guarulhos
Acusado da morte da ex-namorada Mércia, Mizael entrou pelos fundos no Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra / Futura Press

O policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, acusado de ter matado a ex-namorada Mércia Nakashima, 28 anos, em 23 de maio de 2010, negou o crime e acusou o delegado responsável pela investigação, Antonio de Olim, de incriminá-lo para se "promover" às suas custas. "Nunca queiram ser vítimas da polícia, porque não é fácil", disse nesta quarta-feira, durante o terceiro dia de julgamento, que acontece no Fórum de Guarulhos, na Grande São Paulo.

Veja detalhes do caso Mércia 

Veja como funciona o tribunal do júri

"Eu não matei ninguém. (...) Eu não tenho coragem de tirar a vida de ser humano nenhum", defendeu-se. "Infelizmente, o caso caiu no DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e na mão do delegado Antonio de Olim. (...) Criaram uma situação para jogar pra cima de mim, por causa de um problema pessoal do delegado (com ele), que inclusive é candidato a deputado estadual no ano que vem. Para se promover às minhas custas", afirmou.

Em depoimento que durou quase duas horas, Mizael respondeu a várias perguntas feitas pelos jurados, que tiveram seus questionamentos lidos em voz alta pelo juiz Leandro Bittencourt Cano. Ele também respondeu aos advogados de defesa, mas a acusação se recusou a interrogá-lo, alegando que o réu já havia apresentado, em ocasiões anteriores, "seis versões diferentes" para explicar o caso.

"Eles não queriam o autor do crime, eles queriam um culpado. E isso eles conseguiram. Mas Deus está no céu e eu tenho certeza que eu vou ser julgado aqui pela razão, pelos fatos", afirmou o réu, que disse ainda ter sido pressionado pela Polícia Civil para confessar o assassinato, o que ele nunca fez. "(Policiais) Ficaram meia hora me pressionando para dizer que eu tinha matado Mércia", completou, alegando ainda que sua família fez uma denúncia à Corregedoria da Polícia Civil, para investigar a suposta tortura.

Na terça-feira, o delegado Antonio de Olim depôs como testemunha de acusação e negou que tenha direcionado as investigações para incriminar Mizael. Segundo ele, todos os indícios apontavam para o PM aposentado, mas a polícia teria seguido várias pistas para apurar a autoria. Olim também negou que o réu e o vigia Evandro Bezerra Silva, acusado de participação no crime, tenham sofrido qualquer tipo de tortura e reafirmou, em vários momentos, ter "certeza" de que Mizael é o culpado.

Dúvidas dos jurados

Mizael também negou que tivesse um relacionamento conturbado com Mércia e a família da vítima, e disse que já não namorava mais a advogada havia cerca de oito meses, embora eles tenham se encontrado um dia antes do assassinato. Em vários momentos, o réu ainda lamentou a exposição que o caso teve na imprensa na época, e afirmou ter pedido a Deus para que os jurados fossem "pessoas de bem" - jurando pela vida de sua filha ser inocente.

Questionado pelos jurados sobre por que foram encontrados vestígios de alga em seu sapato, compatíveis com as verificadas na represa de Nazaré Paulista - onde o corpo de Mércia foi localizado -, Mizael voltou a culpar a polícia. "Realmente, foi o meu pé, mas porque eles levaram o sapato lá. Nunca estive na represa de Nazaré. Nunca estive na represa de Nazaré. Nunca, nunca. Eu juro pela minha filha de 11 anos. E nunca queiram ser vítimas da polícia, porque não é fácil", afirmou, destacando ainda que nunca andou armado, embora tivesse armas em casa.

"Faz 2 anos que não vejo mulher na minha frente", diz Mizael:

"Infelizmente, se chegar alguém naquela porta e dizer: 'eu matei a Mércia', ninguém vai acreditar", disse. "O senhor não sabe o quanto eu tenho dobrado os joelhos pra ser julgado por pessoas de bem. Anjos de Deus." Em mais de uma oportunidade, o réu disse preferir morrer a ficar preso: "ninguém merece a prisão, é melhor a morte".

 Os jurados também questionaram por que o vigilante Evandro, que prestava serviços de segurança para Mizael, disse à polícia tê-lo buscado na represa na noite de domingo; o réu afirmou não saber. "Ele deve ter os motivos dele. Talvez ele deva ter tido alguns privilégios na cadeia. É uma pergunta sem resposta. Eu não entendo, eu peço muito a Deus que Ele ilumine a cabeça dele pra ele parar de ficar me acusando", completou.

Tanto a família de Mizael quanto a família de Mércia assistiram ao depoimento da plateia, em silêncio. A mãe da vítima, Janete Nakashima, demonstrou contrariedade com as declarações do réu, e permaneceu com a foto da filha nas mãos durante as duas horas de interrogatório.

Antes de Mizael, dois peritos do Instituto de Criminalística (IC-SP) prestaram depoimento, como testemunhas de defesa, entre elas o perito Renato Pattoli, que coordenou os laudos, que voltou a acusar Mizael, mas admitiu haver pontos "inconclusos" na perícia. Nesta quinta-feira (14), a defesa e a acusação irão apresentar suas teses aos jurados, que devem decidir o futuro do réu ainda amanhã.    

Acusação dá risada de depoimento de Mizael e é repreendida:
O caso Mércia

A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela foi ferida a tiros, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.

O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.

Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura.

Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.

Acusação dá risada de depoimento de Mizael e é repreendida:

Fonte: Terra
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