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Vítima de Brumadinho depende de antidepressivo para superar tragédia

Grávida, a dona de casa Núbia Natália Gonçalves, de 34 anos, passou praticamente a metade da gestação de sua segunda filha com crises de ansiedade

10 set 2019 - 14h21
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BELO HORIZONTE - "Começava uma taquicardia, falta de ar, tremedeira e a pressão subia". Grávida, a dona de casa Núbia Natália Gonçalves, de 34 anos, passou praticamente a metade da gestação de sua segunda filha com crises de ansiedade. Moradora do Córrego do Feijão, uma das comunidades mais afetadas pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, Núbia deu à luz Ayla, há dez dias.

Núbia está entre os moradores do município que, depois do colapso da represa, passaram a tomar ansiolíticos e antidepressivos. Conforme dados da prefeitura, a alta nas prescrições dessas drogas pós-tragédia foi de 80% e 60%, respectivamente, em agosto de 2019 na comparação com o mesmo mês de 2018.

"Cheguei a pensar que o bebê não aguentaria aquilo", diz a dona de casa, que já era mãe de Maria Luíza, de dois anos e meio. Em uma das consultas médicas no pré-natal foi prescrito para a mãe o antidepressivo Sertralina, que ainda usa. "Sofria muito. Não conseguia me alimentar direito", conta. Núbia continua morando em Córrego do Feijão, com os pais, os marido e as filhas, em uma casa próxima ao trajeto percorrido pela lama que desceu da barragem da Vale.

O parto de Ayla teve que ser induzido, segundo a dona de casa. "A placenta não produzia mais líquido", diz. Núbia afirmou que chorava muito ao longo da gravidez. "E ainda tinha a saúde da minha outra filha que, depois do rompimento da barragem, passou a não dormir direito". Para cuidar das filhas, a dona de casa conta com a ajuda de amigas.

"O rompimento da barragem afetou toda a família. Minha mãe está cada vez mais distante de tudo", diz Núbia. Segundo a dona de casa, uma nova preocupação em relação à saúde dos moradores da região é quanto a problemas respiratórios. "Com o tempo seco, sobe uma poeira quando a lama é remexida pelas máquinas". Desde 25 de janeiro, data do rompimento da barragem, foram encontrados 249 mortos pela lama. Os bombeiros ainda fazem buscas por 21 corpos.

Os dados repassados pela prefeitura mostram ainda aumento no número de suicídios e tentativas de suicídio em Brumadinho depois do rompimento da barragem. No primeiro semestre de 2018, o total de pessoas que tentaram se matar no município foi de 30, contra 39 no mesmo período de 2019. Três pessoas morreram desta forma nos primeiros seis meses deste ano. Em igual período do ano passado, uma pessoa havia tirado a vida na cidade.

Os números mostram que as mulheres formam o grupo mais afetado psicologicamente no período pós-tragédia. Do total de pessoas que tentaram tirar a vida depois do rompimento da barragem em Brumadinho, 28 eram do sexo feminino e 11 do sexo masculino.

Um estudo sobre os impactos do rompimento da represa de rejeitos da Vale na saúde da população de Brumadinho será feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) com participação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). o levantamento vai durar 20 anos. Os dados serão coletados em entrevistas nas residências dos moradores do município.

Estadão
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