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Geoglifo indígena no Acre é o primeiro a ser tombado no Brasil

Estudos estimam que vala escavada em Rio Branco tenha 2,5 mil anos; pesquisadores já catalogaram mais de 500 geoglifos no País

10 nov 2018 - 03h10
(atualizado em 12/11/2018 às 10h44)
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SÃO PAULO - Com um formato que lembra a bandeira do Brasil, o geoglifo do Sítio Arqueológico Jacó Sá, em Rio Branco (AC), foi tombado nesta sexta-feira, 9, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O registro, escavado no solo há cerca de 2,5 mil anos, segundo estimativas, é o primeiro do tipo a ser reconhecido pelo órgão de patrimônio, embora o País tenha mais de 500 na região amazônica, na área próxima da Bolívia.

Chamados também de "tatuagens da terra", os geoglifos são formados por escavações no solo, valetas e muretas, criando figuras geométricas. A descoberta dos primeiros, em 1977, e a intensificação dos estudos nos anos 2000 deu origem a novas teorias sobre a ocupação da região.

"O tombamento tem um grande significado, de garantir visibilidade a esse tipo de bem, que ganha projeção para construir estratégias de gestão e de como preservar e fomentar acessibilidade e turismo, inclusive para buscar desenvolvimento local", diz o diretor de Patrimônio Material do Iphan, Andrey Rosenthal.

Segundo ele, a escolha levou em conta a proximidade com o centro da cidade, a facilidade de acesso e a recepção dos proprietários do local, que aprovam o tombamento. "Há, por parte da Secretaria de Turismo do Acre, o projeto de criar um roteiro de visitação. Já há vocação natural para o turismo."

O geoglifo tombado foi identificado nos anos 2000 e mapeado e escavado entre 2007 e 2008, após ser descoberto pelo arqueólogo Jacó Sá. O sítio é formado por duas estruturas principais, cada uma com 20 mil m², área de quase três campos de futebol. As valas têm largura média de 11 metros e profundidade de 2,5 metros. Além do registro semelhante ao da bandeira, o sítio tem outra figura parecida com um quadrado.

Ao todo, há 818 geoglifos na parte oriental do Acre, no sul do Amazonas, no noroeste de Rondônia e na Amazônia boliviana, segundo Ivandra Rampanelli, arqueóloga que pesquisa os registros há 11 anos. Segundo ela, novas tecnologias, especialmente satélites de alta resolução, como as imagens disponíveis no Google Earth, por exemplo, possibilitaram um aumento nas descobertas.

Outra mudança que deixou os registros em maior evidência foi o desmatamento, embora tenham sido identificadas valas também abaixo de áreas ainda de floresta.

Estudos apontam que geoglifos recebiam cerimônias religiosas

Segundo Ivandra Rampanelli, existem diversas hipóteses para a origem das valas, desde defesa, uso social e criação de animais. A mais aceita pela comunidade científica é de que eram utilizadas em cerimônias religiosas. "Tem poucos vestígios arqueológicos no interior dos geoglifos. Havia uma organização de manter limpo o meio dessas estruturas. Encontramos muitos fragmentos dentro das valas e do lado de fora."

A arqueóloga afirma que, em geral, os geoglifos amazônicos tem 11 metros de largura e de 40 centímetros a 4 metros de profundidade. "Essa variação pode ser pela erosão do solo e também pela técnica de construção", diz. Os geoglifos do Acre estão na Lista Indicativa a Patrimônio Mundial, elaborada pelo Iphan. Pelo valor científico, todos os sítios arqueológicos são protegidos no Brasil.

Estadão
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