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Autoridades lamentam morte no Carrefour; veja repercussão

João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi espancado e morto no estacionamento de supermercado de Porto Alegre; dois suspeitos foram presos em flagrante e responderão por homicídio triplamente qualificado

20 nov 2020 - 13h24
(atualizado às 13h32)
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A morte de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, homem negro espancado e morto no estacionamento de um supermercado Carrefour da zona norte Porto Alegre na quinta-feira, 19, foi lamentada por autoridades e personalidades nas redes sociais, como mais um exemplo de violência racial no País.

Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Vídeo compartilhado nas redes sociais mostra agressões a homem negro no estacionamento do Carrefour
Foto: Twitter/Reprodução / Estadão Conteúdo

O caso também ganhou repercussão internacional, em que foi destacado que ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra, celebrado nesta sexta-feira, 20, data que é feriado em alguns locais do País, mas não no Rio Grande do Sul. No Brasil, a hashtag #VidasNegrasImportam é uma das mais utilizadas desde o início da manhã, assim como a #JusticaporBeto.

No Twitter, o Instituto Marielle Franco, criado pela família da vereadora morta no Rio, lamentou o caso. "Mais uma pessoa negra que é assassinada em um supermercado, um dia antes do dia da consciência negra. Até quando nossas vidas serão descartáveis assim? O Carrefour tem que responder por racismo e assassinato!", diz a postagem.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), publicou a hashtag #VidasNegrasImportam e escreveu: "O Dia da Consciência Negra amanheceu com a escandalosa notícia do assassinato bárbaro de um homem negro espancado em um supermercado. O episódio só demonstra que a luta contra o racismo e contra a barbarie está longe de acabar. Racismo é crime!"

Também ministro do STF, Alexandre de Moraes chamou o caso de "um bárbaro homicídio". "Escancara a obrigação de sermos implacáveis no combate ao racismo estrutural, uma das piores chagas da sociedade. Minha solidariedade à família de João Alberto."

O presidente Jair Bolsonaro não comentou sobre o caso até as 13 horas desta sexta-feira. Por enquanto, dois ex-presidentes se manifestaram. "O racismo é a origem de todos os abismos desse país. É urgente interrompermos esse ciclo", disse Luiz Inácio Lula da Silva. Já Dilma Rousseff postou: "Só haverá paz e democracia plena quando o racismo estrutural for enfrentado, punido e destruído e a sociedade aprender que não basta não ser racista, é preciso ser antirracista."

A sambista Teresa Cristina questionou: "Quantos mais terão que morrer, Carrefour?". O rapper Rashid, por sua vez, chamou o caso de "uma covardia nesse país onde parece haver carta branca pra matar caso a pele da vítima seja escura". Já a atriz Leandro Leal lamentou: "O racismo existe, oprime e mata!!! Até quando??"

"Queria poder dizer q é uma grande ironia um preto ser espancado até a morte bem às vésperas do dia da consciência negra, mas não. Até quando vamos ter que lutar pra sobreviver como se não fosse um direito, apesar de todos os nossos deveres? Não há o que celebrar", postou a cantora Ludmilla.

O jornal Washington Post publicou uma notícia da agência Associated Press, com o título "Morte na véspera do Dia da Consciência Negra no Brasil desperta indignação". A notícia também repercutiu em outros veículos internacionais, como o portal ABC News, Yahoo! UK e outros.

O texto lembrou de outros dois episódios ocorridos recentemente em unidades do Carrefour. Em agosto, o corpo de um funcionário que morreu durante o trabalho foi coberto por guarda-sóis enquanto uma unidade do Recife seguiu funcionando normalmente. Em 2018, um segurança de uma unidade de Osasco matou uma cachorra que estava no estacionamento.

Nesta manhã, manifestantes foram até a frente do supermercado, mas um protesto maior está previsto para as 18 horas. A vítima será sepultada às 16 horas desta sexta-feira, 20, no Cemitério São João, no IAPI, também na zona norte da capital do Rio Grande do Sul.

O homem foi espancado e morto por dois homens brancos no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, na zona norte da capital gaúcha na véspera do Dia da Consciência Negra. Informações preliminares apontam que um dos agressores é segurança do local e o outro é um policial militar temporário que fazia compras no local. Ambos foram detidos e responderão por homicídio triplamente qualificado. Uma manifestação em frente ao supermercado está prevista para as 18 horas desta sexta-feira.

Vídeos compartilhados nas redes sociais mostram parte das agressões e o momento que o cliente é atendido por socorristas. Em uma das gravações, o homem é derrubado e atingido por ao menos 12 socos. Ao fundo, uma pessoa grita "vamos chamar a Brigada (Militar)".

Uma mulher vestindo uma camisa branca e um crachá, que também seria funcionária do supermercado, aparece ao lado dos agressores, filmando a ação. Ela já foi identificada e será ouvida. Outro registro mostra a vítima desacordada, enquanto há marcas de sangue no chão.

Ao 'Estadão', João Batista Rodrigues Freitas, de 65 anos, lamentou a morte de seu filho. "Nós esperamos por Justiça. As únicas coisas que podemos esperar é por Deus e pela Justiça. Não há mais o que fazer. Meu filho não vai mais voltar", disse.

O pai descreveu a vítima como um homem tranquilo. "Eles (Freitas e a esposa) frequentavam o mercado quase todos os dias. Ele até me incentivou a fazer um cartão do mercado."

Vizinho da vítima, Paulão Paquetá contou ao 'Estadão' ter testemunhado as agressões. Segundo ele, outros seguranças ficaram no entorno da área, impedindo a aproximação das pessoas que tentavam parar com as agressões.

"Não pararam. A gente gritava 'tão matando o cara', mas continuaram até ele parar de respirar, fizeram a imobilização com o joelho no pescoço do Beto, tipo como foi com o americano (George Floyd, morto por policiais neste ano nos Estados Unidos)."

Em nota, o Carrefour disse que considerou a morte "brutal" e disse que "adotará as medidas cabíveis para responsabilizar os envolvidos". Afirmou também que vai romper o contrato com a empresa responsável pelos seguranças e que o funcionário que estava no comando da loja durante o crime "será desligado". O grupo disse ainda que a loja será fechada em respeito à vítima e que dará o "suporte necessário" à família da vítima.

Estadão
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