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Religiões de matriz africana discutem conjuntura, identidade e luta antirracista

2º Encontro Nacional de Povos de Terreiro aconteceu em Belo Horizonte (MG) e reuniu religiões de matriz africana e movimentos sociais

14 jun 2022 - 12h21
(atualizado às 13h27)
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Religiões de matriz africana e movimentos sociais no Encontro Nacional de Povos de Terreiro
Religiões de matriz africana e movimentos sociais no Encontro Nacional de Povos de Terreiro
Foto: Imagem: Pedro Barros / Alma Preta

Entre os dias 02 e 05 de junho, Belo Horizonte (MG) recebeu o II Ègbé - Parte de Nós, o 2º Encontro Nacional de Povos de Terreiro, organizado pelo CENARAB - Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira, que reuniu religiões de matriz africana e movimentos sociais.

Éramos mais de 300 pessoas, entre mães e pais de santo e movimentos sociais, como o Movimento Negro Unificado (MNU) e o Movimento de Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST). Já faz pouco mais de uma semana, mas ainda estou carregada com a energia e a vitalidade das discussões. Todos as mesas da manhã eram abertas com louvor as divindades. Também tivemos mesas excepcionais onde discutimos temas como conjuntura nacional e internacional, herança cultural africana, religiões afro-brasileiras, identidade negra, vidas negras importam, questão ambiental, territórios de axé e racismo. Foi um prazer trazer tantas informações carregadas do olhar de quem vivencia a religiosidade de matriz africana de diversas origens e nações como Nago, Ketu, Jeje, Jeje-Mahin, Umbanda e outros.

Além das mesas, tivemos vivências, oficinas e grupos de trabalhos muito diversos. Com isso, a vontade de ser muitas para poder participar de tudo era grande. Fiquei muito dividida e chorosa por não conseguir fazer a vivência sobre plantas que curam e também sobre Juventude Negra e as Heranças Intergeracionais e as oficinas sobre a experiência do cinema negro no Brasil, que teve Joelzito Araújo como um dos facilitadores. Porém, os grupos de trabalho que participei tiveram discussões profundas, enriquecedoras.

As atividades culturais merecem menção à parte. Nos animamos com muita música nossa, comidinhas saborosas demais, bebidas variadas, ferinha de artesanato, muitos encontros, muitos risos, novos amigos.

Foi um lugar de encontrar muitas pessoas importantes, conhecer outras tantas, nos encantarmos com a vitalidade de mães de santo com mais de 80 anos, rever e conviver durante quatro dias com amigos queridos e estreitar laços. Mas, sobretudo de discutir políticas antirracistas com uma vitalidade e entrega vista muito poucas vezes nos meus tempos de militância, que já chega a quase meio século.

Saímos de lá com muitas decisões, como a necessidade de eleger o pré-candidato à Presidência da República Lula, mas também com uma carta que cobra a escuta do pré-candidato, a efetiva participação das comunidades e povos tradicionais de matriz africana na execução do programa de governo. Além desta, tivemos outras, como apoio à aprovação da Lei Makota Valdina, construir um encontro para discutir educação sobre a perspectiva das comunidades e povos tradicionais de matriz africana, confecção de uma cartilha de orientação sobre a documentação e os direitos destas comunidades, carta aberta ao movimento negro brasileiro, conclamando-o na defesa intransigente deste segmento quando dos ataques de intolerância sofridos, ataques cada vez mais amiúde. Muitas moções foram aprovadas e entre elas destaco a moção de apoio ao vereador Renato Freitas, do PT-PR, proposta por Milton Barbosa, coordenador Nacional de Honra do MNU.

Gratidão a vida por este momento, e também a Makota Celinha, toda a equipe do CENARAB, Angela Gomes, Joelzito Araujo e um amigo tao discreto que vou carregar pra sempre na minha memória, Daniel, de Uberlândia (MG), pelo carinho, pelo cuidado.

Regina Lúcia é articuladora do Movimento Negro Unificado (MNU)

Alma Preta
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