Qual a funcão de Leonardo em 'Vale Tudo' além de servir à maldade de Odete Roitman?
Não há surpresa no preconceito declarado da vilã sobre o próprio filho, "suplício" quebrado em um acidente de carro, "estorvo" para ser xingado. Novela não discute inclusão ou acessibilidade e ainda reforça percepções capacitistas a respeito da convivência com pessoas que têm deficiência. Personagem limitado a um corpo deformado sobre a cadeira de rodas, é interpretado por ator sem deficiência em meio a expressões grotescas e um olhar perdido que, vez ou outra, encontra vida.
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Falta uma semana para o encerramento da segunda versão da novela 'Vale Tudo', da Rede Globo, e ainda não há qualquer função importante para a personagem com deficiência enfiada na trama. Leonardo Roitman, interpretado pelo ator Guilherme Magon, saiu da casa velha e escondida no meio do mato para estrelar sessões de fisioterapia na mansão da tia Celina e ser transportado na cadeira de rodas pelo mordomo Eugênio.
Desde a apresentação do Leozinho, como as cuidadoras Clara e Nice o denominam, ficamos esperando alguma substância na existência do rapaz para a história. Em junho, quando foi revelado que o gêmeo de Heleninha não havia morrido, escrevi aqui que seria uma oportunidade valiosa de aprofundar a discussão sobre como o ódio arranca a humanidade da pessoa com deficiência.
Havia a possibilidade de Leonardo estar encenando as deficiências e, no momento oportuno, expor a monstruosidade da própria mãe, o que seria justificativa razoável para a escolha de um ator sem deficiência, mas Odete Roitman já morreu, de novo, talvez não, e o herdeiro quebrado em um acidente de carro, o "suplício", serviu unicamente para reforçar a vilania da matriarca.
Até agora, Leozinho é uma caricatura deformada, com a cara torta, a boca aberta e o olhar vazio. E, certamente, há atores com deficiência talentosos para encontrar interpretação muito mais fidedigna e respeitosa.
Em pleno 2025, usar uma pessoa com deficiência para reafirmar os preconceitos da protaginosta bilionária que odeia a diversidade, a pobreza e o Brasil, é uma escolha infantil e superficial, que poderia ter algum impacto nos anos 1990, mas hoje é enfadonho e cafona "meu bem", além de não surpreender ninguém. Imaginem só, Odete Roitman é capacitista ao extremo. Poxa!
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